Rugby é um esporte de valores

Rugby é um esporte de valores

Após um longo período de descanso, volto a escrever nesta coluna com a esperança de ainda ter alguns leitores.

Pouco depois do último texto publicado, All Blacks e Irlanda fizeram um jogo inesquecível, para o qual um bom título seria “Quando vencer não é ganhar”. Não fosse um penal inesperadamente desperdiçado por Jonathan Sexton, os leperchauns teriam batido os deuses do rugby. Mas não foi desta vez...

Nos confrontos internacionais, após esse quase tropeço, os All Blacks retomaram o hábito de não tomar conhecimento dos adversários, algo que só foi mudado recentemente, na última rodada do Rugby Championship, quando sucumbiram, já campeões, diante de uma África do Sul que parece começar a encontrar seu eixo, em um final de semana em que os Pumas finalmente deixaram a máxima do “jogamos como nunca perdemos como sempre”, para bater uma equipe australiana que, a meu ver, não irá a lugar nenhum enquanto não encontrar uma primeira e uma segunda linha à altura de seus excepcionais backs.

Nossas seleções seguem firmes buscando aprimoramento, apesar das dificuldades enfrentadas.

Mas é de um aspecto de nossos torneios internos que quero falar hoje.

Todos os que acompanham o rugby brasileiro sabem dos avanços dos últimos anos. Dispo-me aqui da condição de Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Rugby e de membro de seu Conselho de Administração, para falar como rugbier.

Desde sempre, aprendi que rugby se joga, acima de tudo, pelo apego ao esporte, uma quase-religião, como defini certa vez. Vencer é menos importante do que portar-se com hombridade, dar o melhor de si em respeito ao adversário, respeitar o árbitro, e tantos outros valores que cultivamos com tanta atenção.

Nos torneios Brasil afora, no entanto, tenho visto situações de desanimar. Citarei aqui três delas.

Primeiro, a falta de postura dentro de campo, que em si já é lamentável, levada às redes sociais como deboche e arrogância. Determinada atleta de uma equipe feminina, cuja conduta em campo levou as demais equipes a solicitar à federação responsável a exclusão de dita equipe do torneio, vangloria-se nas redes sociais pela sua brutalidade e jogo sujo. Coisa de gente pequena no caráter, que não tem nenhuma condição de praticar um esporte em que o respeito é a base de tudo. Triste, lamentável, e amenizada, a situação, apenas porque a Federação local teve o bom senso de suspender o clube e a atleta.

A segunda situação a que me refiro toca à conduta em campo. Em um determinado torneio, atletas de uma equipe transformaram um jogo de rugby em uma batalha campal, demonstrando total descontrole e desrespeito pelo próprio clube, pela camisa que vestem, pelos companheiros de equipe, pelo árbitro, adversário, torcida, e por si mesmos. Feio, merecem no mínimo exclusão do torneio. Rugby se joga, não se luta.

E por fim, e mais grave de todos os casos, a postura de determinado clube que, no afã de manter-se no topo do esporte, usa de métodos que excedem o regulamento do torneio em que atua para trazer atletas do exterior e tê-los em campo mesmo em ofensa às regras às quais aderiu antes do torneio. Pior ainda, flagrado na conduta irregular, seus representantes, ou indivíduos que se dizem representar o clube, passaram a ofender a tudo e todos ao seu redor, demonstrando desapego a regras e falta de caráter inadmissíveis.

O rugby brasileiro tem um caminho longo ainda por percorrer, até chegar ao desejado lugar de destaque no cenário internacional. Mas será tão mais longo o caminho, quanto mais forem os episódios como os aqui relatados, especialmente os casos em que, como neste último, alguns indivíduos pensam ter a liberdade de vir ao nosso país para agir como se aqui fosse terra de ninguém. Enganam-se.

Felizmente, o número de pessoas que quer contribuir para o crescimento efetivo do esporte, sem burlas às regras, e com dedicação e transparência, é muito maior. E prevalecerá.

Foto: BOL

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