Quando fui medalha de prata nos jogos pan-americanos, dormi de baixo de uma arquibancada

Quando fui medalha de prata nos jogos pan-americanos, dormi de baixo de uma arquibancada

Popó é tetracampeão mundial de boxe em duas categorias diferentes. O ex-atleta começou a carreira ainda na adolescência. Clique aqui e confira O Quem Fim Levou do entrevistado.

Temos quatro medalhas olímpicas, uma de bronze com Servilío de Oliveira conquistada no México, em 1968 e outras três adquiridas em 2012. Bronze com Adriana Araújo e Yamaguchi Falcão e prata com Esquiva Falcão.

Após Londres-2012, Adriana disse que migraria para o MMA, os irmãos Falcão já estão no boxe profissional e disseram que após o Rio-2016, irão para o MMA também.

O Japonês Ryoto Murata, que foi medalha de ouro em Londres, se aposentou após as olimpíadas, aos 26 anos. Disse que o esporte o decepcionou.

Roberto Gozzi: Por que isso acontece e por qual motivo o boxe está desvalorizado desta forma?

 

Popó: Não concordo com estas posições. Quando fui medalha de prata nos jogos pan-americanos, dormi de baixo de uma arquibancada, passei dificuldade, mas fui lá e conquistei. Hoje em dia esses atletas ganham no mínimo seis mil reais e ficam reclamando de barriga cheia. O treinamento é exaustivo e às vezes eles falam de mais, para você conquistar uma medalha com a seleção, tem que estar concentrado. Precisa abdicar de muitas coisas para ser um atleta, mas às vezes você explode. O objetivo do japonês foi a medalha, ele foi lá e conquistou, depois recebeu uma oferta para ganhar muito dinheiro e não aceitou, como profissional. Ele não pode dizer que o boxe o decepcionou, ele chegou ao seu limite e parou.

Já os irmãos Falcão, estão no profissional e fizeram um contrato legal. A Adriana falou aquilo, mas foi por causa da briga dela com o José da Silva, presidente da Federação Brasileira de boxe, mas ela voltou a trás.

O boxe sempre esteve em alta, mas não temos nenhum campeão mundial para divulgar a modalidade. Na F1 e no tênis acontece a mesma coisa. O MMA está em alta, temos muitos campeões brasileiros em destaque, está na moda. Teve a época do Pelé no futebol, do Airton Senna na F1, do Guga no Tênis, do Popó no boxe e agora é a vez do MMA. Um esporte não apaga outro, apenas não temos campeão no boxe para divulgar.

Se você estivesse no início de carreira, partiria para o MMA?

 

 

Não, o boxe paga muito mais, não entrei no boxe apenas pelo amor ao esporte, mas também pela parte financeira, para ajudar minha família.

 

Você vê futuro no boxe brasileiro?

 

 

Não, os melhores lutadores não querem passar para o profissional, pois na seleção eles têm um bom salário. É arriscado ir para o profissional sem patrocínio, não tiro a razão deles. Falta investimento mesmo.

 

Você sentiu falta de disputar uma olimpíada?

 

 

Não, pois fui campeão do mundo.

 

 

O Maguila está internado há quatro meses, com apenas 56 anos ele tem mal de Alzheimer, infecção pulmonar e demência pugilista. O Éder Jofre também sofre as consequências dos golpes na cabeça. Já sentiu alguma sequela da carreira de boxeador?

Não, eu bati muito mais. Foram 41 lutas, 39 vitórias com 33 nocautes, 21 foram no primeiro round. Não tomei tanta porrada, não tomei nocaute. Sempre me cuidei, parei na hora certa, aos 33 anos e nunca bebi e nem fumei. Fiz uma luta em 2012, mas não me machuquei. Lamento pelo Maguila, soube que o Éder teve            uma caída quando sua esposa faleceu. Ainda não há provas concretas de que foi             o boxe que os deixou assim.

Você é a favor do uso do capacete protetor?

 

 

No amadorismo sim, a AIBA - International Boxing Association - vetou, por que querem fazer o campeonato mundial deles. Hoje em dia os amadores não tem experiência profissional, em um campeonato brasileiro de boxe amador, você vê choques de cabeça. No profissional não precisa, eles sabem o que fazem.

Você acredita que o capacete poderia evitar as consequências que o Maguila e o Éder estão sofrendo?

 

Não, no treino a quantidade de socos é maior do que na luta.

 

 

Você pensa em se envolver com a federação, para tentar renovar o boxe?

 

 

Não, eu sempre tive trabalhos sociais, prefiro ajudar desta forma. Sempre colaboro com conselhos e ajudo com matérial esportivo. Eu poderia ajudar o boxe sim, mas não da forma que eu gostaria, pois não estaria sozinho e ninguém trabalha da forma que a gente quer.

Fotos: portal TT

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