Confira mais um texto de Magalhães Jr.

Confira mais um texto de Magalhães Jr.

Finalmente o futebol brasileiro pode se orgulhar de possuir algo que o futebol alemão não possui. Sim, os alemães podem ter organização, estádios lotados, gramados excelentes, além de jogar um futebol moderno, bonito e vencedor. Mas, em compensação, nós agora temos...  o adendo.
 
Quem dizia que uma partida só termina quando o árbitro apita, precisa rever seus conceitos. Agora uma partida pode só terminar depois que o árbitro fizer o adendo à súmula do jogo, o que pode acontecer apenas no dia seguinte. E não causará admiração se, breve, a TV Globo passar a ter primazia no campeonato de adendobol. Transmissão direta com narração de Galvão Bueno.
 
O futebol brasileiro conseguiu alterar o sentido da palavra adendo. Ou melhor, o sentido foi ampliado.  De acordo com o nossos árbitros, adendo é remendo, depois de um fora tremendo, de quem deixou uma situação fervendo.
 
Primeiro o árbitro da partida Santos e Corinthians, Raphael Clauss, sequer percebeu que o jogador Petrus o havia tocado por trás (no bom sentido).  E, vamos combinar, não foi um simples toque. Foi quase um golpe de caratê. No relatório da súmula nada constou. Depois de horas, eis que surgiu o adendo, relatando a agressão. Resultado: um gancho de seis meses para o jogador.
 
Independente de minha opinião sobre o fato [pois penso que o jogador aproveitou o embalo do lance para “cumprimentar” o árbitro], não posso acreditar que o adendo tenha surgido porque o árbitro pôs a mão na consciência após ver a repetição do lance à noite pela televisão.
 
Fato semelhante aconteceu na última quinta-feira quando Aranha, o goleiro do Santos, e alguns jogadores do banco de reservas alertaram o árbitro Wilton Prereira Sampaio sobre as ofensas racistas a que o jogador estava sendo submetido por parte da torcida gremista. Além de não dar ouvidos, a atitude de Wilton para com o arqueiro sugeria que a qualquer momento poderia expulsá-lo. A expulsão não aconteceu, mas na súmula do árbitro nada constava de anormalidade a não ser o fato de haver sido atirado um rolo de papel higiênico no campo. Aliás, não seria nada incoerente se o árbitro de houvesse feito uso do papel que fora atirado ao campo.
 
Mas, no dia seguinte, via e-mail, surgia novamente o novo craque, o adendo, dando conta de tudo o que havia acontecido. Teria sido a famosa “mão na consciência”? Bem, creio que se entendermos como mão na consciência um aviso do tipo “cara, a casa caiu pra pro seu lado”, então, sim.
 
Em um de seus monólogos, o mestre Chico Anysio já previa o adendo. Em tempos áureos de TV Record, contou o Chico o caso do árbitro que foi apitar a partida final que envolvia a equipe de um poderoso coronel do nordeste. A equipe do coronel, que precisava apenas de um empate para ser campeão, teve um gol anulado pelo árbitro (pouco importa para a história se foi justo ou não) logo no início da partida. Não seria pecado algum caso não tivesse o time adversário feito um gol no último minuto de jogo e, em consequência, haver tirado o titulo das mãos da equipe do coronel.
 
Quando o árbitro se preparava para deixar o estádio, viu-se cercado pelo coronel e seus jagunços, todos de arma em punho e apontando em sua direção. Foi, então, que sem perder a compostura o árbitro fez a seguinte declaração:
— Senhô Coroné, que bom vê vosmecê... pois queria lhe avisá que o gol que anulei foi desanulado, num sabe?
 
Não sei se o futebol brasileiro irá chegar a esse ponto, mas parece que, assim como o spray para marcar posição da bola e barreira, o adendo veio para ficar.
 
E antes de terminar faço um adendo: não vamos nos enganar, imaginando que possíveis revisões pós-jogo sejam fruto apenas do ato de se pôr a mão na consciência. O adendo é também uma prova cabal de que quem tem cu tem medo.
 
 
Magalhães Jr. — O Maga
 
E-mail da coluna: magajr04@hotmail.com

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