A seleção brasileira que disputa a Copa América não empolga. Os jogos despencam no ibope da emissora que detém os direitos de transmissão do torneio, o que reflete na derrocada do time nacional no coração e na atenção do torcedor tupiniquim.
O sentimento que envolve a seleção atual é nulo, ou seja, uma paixão inexistente, de uma geração mais velha que se sente traída pelo time nacional e uma geração atual que nem sequer aprendeu a acalentar a paixão pela equipe pentacampeã do mundo.
Este desamor vem de longos anos de desprezo e desatenção. A última seleção que mexeu com o sentimento do povo brasileiro foi a de 1986, quando acabou derrotada para a França, nos pênaltis, no Mundial do México. Quatro anos mais tarde, o Brasil caiu diante da arquirrival Argentina, na Copa da Itália, e a falta de comprometimento de muitos jogadores que jogavam fora do país foi um duro golpe no sentimento do torcedor. A partir dali o time canarinho passou a ser visto com desconfiança pela nação.
Os títulos dos Mundiais de 1994, no Estados Unidos, e 2002, no Japão/Coréia seriam bons motivos para resgatar a atenção e o amor do povo brasileiro pela seleção, mas não houve interesse da alta cúpula do futebol brasileiro, que preferiu manter a seleção bem distante do povo.
Os desmandos da CBF e as desconfianças diante das escalações de jogadores de qualidade duvidosa colocam a seleção num mundo paralelo à paixão do torcedor. Os clubes brasileiros e europeus abocanharam a fatia da emoção que pertencia à seleção brasileira, que sofre agora com o desprezo do seu torcedor.
O tema desta coluna nasceu de um debate no Facebook. O amigo e jornalista Alexandre Hercules indagou este blogueiro: “Será possível resgatar o amor pela seleção brasileira?”
Alexandre relatou que seus dois filhos, Bruno (15 anos) e Tiago (14 anos), não demonstram interesse pela seleção, preferindo os jogos do Palmeiras e dos clubes do exterior. “O meu filho mais velho sabe a escalação de todos os times da Europa, agora pergunte os 11 da seleção...”
A postura desta nova geração reflete a falta de referência do escrete nacional com o povo. A seleção é da CBF e não a pátria de chuteiras como muitos podem pensar de forma equivocada. A seleção vive um mundo que envolve desconfianças, milhões de dólares e uma frieza cruel com o sentimento do torcedor.
Na minha infância e adolescência, os jogos da seleção paravam o país. A mobilização do povo deixava claro a paixão pelo time nacional. A seleção de 1982, tida como uma das melhores seleções de todos os tempos, ajudou a cativar o sentimento de amor pelo Brasil. Não ganhou a Copa disputada na Espanha, sendo eliminada de forma justa e frustrante pela Itália. No entanto, uniu o Brasil na dor, numa comoção que dificilmente será vista num futuro próximo.
As desilusões atuais não unem o povo na dor. Elas demonstram sim desprezo e revolta com a seleção. Trata-se de um sentimento ruim, mas totalmente compreensível.
A seleção da CBF paga o preço pela distância com o torcedor brasileiro. O sentimento de amor e paixão não existe mais. É fato. Na Copa do Mundo do ano passado, o fator casa e a grandeza do evento fizeram parte da população abraçar o time brasileiro.
No entanto, todos os desmandos na realização do Mundial por aqui e a eliminação vergonhosa para a Alemanha (7 a 1), na semifinal, no Mineirão, trouxeram ao povo a certeza de que a seleção atual não representa em nada a história do time pentacampeão do mundo.
A realidade revela um desamor do povo com o que deveria ser orgulho nacional. A seleção precisa ser devolvida ao brasileiro. O escrete sempre esteve sob o comando da entidade máxima do futebol nacional, é verdade, mesmo quando a CBD dava as cartas, mas a seleção representa há alguns anos os interesses da CBF e em nada o sentimento do povo brasileiro. O preço a ser pago é alto, muito alto...
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Imagem: Túlio Nassif/Portal TT
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