Mas o time também sofreu no treino de véspera da partida

Mas o time também sofreu no treino de véspera da partida

Dionizio Oliveira

Do UOL, em Belo Horizonte

O jogo entre Cruzeiro e Real Garcilaso nesta quarta-feira, às 22h, no Mineirão, marca o reencontro entre os brasileiros e os peruanos depois dos problemas enfrentados na partida de estreia das duas equipes na Libertadores, especialmente o episódio de racismo envolvendo o volante Tinga. Tanto o time celeste quanto a torcida prometem mobilização especial para o duelo e os peruanos deverão sofrer com a pressão dentro e fora das quatro linhas.

Jogadores como Egídio admitiram que as adversidades encontradas no jogo em Huancayo e a má receptividade que o time mineiro teve no Peru servem de motivação para conquistar o resultado positivo. "Foi lamentável o ocorrido. É mais um motivo para entrarmos em campo com gana, vontade, e tirarmos essa impressão ruim que ficou com os insultos ao Tinga, ganhando deles e ganhando bem", afirmou o lateral-esquerdo.

Na estreia na Libertadores, além da derrota por 2 a 1, a delegação estrelada voltou com várias más recordações do Peru. A principal delas foi o comportamento da torcida local, que insultou Tinga com manifestações de cunho racista imitando sons e gestos de macaco a cada toque do camisa 7 na bola.

Mas o time também sofreu no treino de véspera da partida, quando foi conhecer o estádio e pôde treinar por apenas 15 minutos por falta de luz. Os funcionários alegaram falta de combustível nos geradores. No dia do jogo os jogadores se depararam com uma mensagem de intimidação no vestiário, lembrando da altitude do local, e ainda por cima não tinha água para os brasileiros. Os atletas tiveram que tomar banho no hotel após o jogo.

Apesar dos problemas encontrados, a direção celeste não planeja nenhum tipo de revide ou troco ao rival e promete recebê-los na capital mineira assim como as outras delegações. "Claro que vamos encontrar com eles normalmente, não vamos criar problema aonde não tem. O Cruzeiro vai para vencer o jogo que precisa dentro de campo", afirmou o diretor de futebol, Alexandre Mattos, que foi um dos mais exaltados após os fatos ocorridos no Peru.

O discurso dos jogadores também é de dar o 'troco' dentro das quatro linhas. "Acho que toda a raiva que a gente passou lá tem que transferir para o campo e mostrar dentro de campo. Não fazer disso uma rivalidade, porque poderia nos prejudicar, toda essa raiva, até pelo que passou com o Tinga, tem que colocar em campo e transferir para o futebol", ressaltou Júlio Baptista.

Além dos jogadores, que prometem ir em busca do resultado positivo e um placar elástico até para garantir a classificação para as oitavas de final da Libertadores, os torcedores também prometem dificultar a vida do Real Garcilaso. Preocupado com algum tipo de represália, o time peruano solicitou até mesmo ajuda da Polícia para escoltar a delegação.

Porém, os cruzeirenses garantem paz fora do estádio e se mobilizam para fazer um protesto pacífico transformando a partida no "Planeta dos Macacos". O movimento surgiu entre os torcedores na internet pouco após o primeiro jogo quando Tinga foi chamado de macaco pelos peruanos e, por se tornar um jogo decisivo para o Cruzeiro na competição, ganhou ainda mais força nos últimos dias.

Dentre as ideias dos torcedores, está ir para o Mineirão com o rosto pintado de preto, outros pintados de azul, com máscaras de macaco e, mais recentemente, com máscaras do volante Tinga. Nas redes sociais, os torcedores prometem armar um "inferno" para recepcionar o Real Garcilaso e empurrar o time celeste rumo à vitória.

O office boy, Bruno Jales, de 20 anos, que criou um evento no Facebook e já teve mais de 650 adesões, explica a ideia. "Resolvemos fazer uma manifestação contra o racismo sofrido por Tinga e resolvi criar o evento para chamar a atenção de muita gente em relação ao racismo. A ideia original é pintar o rosto de preto, mas já tem muita gente imprimindo a máscara do próprio Tinga", disse o torcedor.

"O movimento não é de forma alguma uma forma de 'vingança' aos peruanos, e sim uma forma de protesto ao racismo que não pode ser aceito de forma alguma. A 'vingança', se é assim que podemos dizer, deverá vir dentro de campo, através de nossos jogadores, vencendo a partida e dedicando a vitória ao nosso Tinga", acrescentou o torcedor cruzeirense.

E com essa mentalidade que a maioria dos cruzeirenses encara a partida. O estudante Carlos Henrique, de 22 anos, quer que o time goleie o rival e descarta possibilidade de violência. "Vamos empurrar o time e mostrar para os peruanos que somos todos iguais, sem devolver na mesma moeda ou com algum tipo de violência. Vamos dar a resposta dentro de campo e na arquibancada", disse.

Alexandre Mattos também se mostrou tranquilo quanto as manifestações dos torcedores e não acredita em nenhum tipo de confusão. "A torcida está no direito dela de fazer a festa e tenho certeza que não vai ter nenhum tipo de problema relacionado", comentou o dirigente cruzeirense.

Castigo

Apesar do discurso esportivo dos cruzeirenses, os problemas do Real Garcilaso não ficarão restritos apenas aos 90 minutos de partida como prometem os jogadores e os torcedores. Antes mesmo de entrar em campo, a equipe peruana sofreu com diversos imprevistos em sua viagem e demorou mais de 28 horas para chegar a Belo Horizonte, encontrando muitos problemas e tendo uma espécie de castigo.

O plano inicial era de chegar à capital mineira às 22h30 de segunda-feira, mas o time só desembarcou no aeroporto de Confins por volta das 15h de terça-feira. Com o atraso, o time teve que passar todo o período entre o aeroporto e o avião, sem tempo para dormir. Os jogadores só foram descansar quando chegaram ao hotel na região centro-sul da capital

Os problemas também modificaram a programação da equipe, que teve que cancelar o treino na Cidade do Galo, às 16h, e conhecer o Mineirão no período da noite. O estádio estava normalmente à disposição dos peruanos, mas eles preferiram descansar e fazer um leve treino próximo ao hotel onde estão hospedados.

Foto: UOL

Últimas do seu time