A explicação para que dois clubes que levam o mesmo número de torcedores ao estádio tenham valores totais de arrecadação tão distintos é óbvia: o preço cobrado dos ingressos

A explicação para que dois clubes que levam o mesmo número de torcedores ao estádio tenham valores totais de arrecadação tão distintos é óbvia: o preço cobrado dos ingressos

Guilherme Palenzuela

Do UOL, em São Paulo

São Paulo e Corinthians repetem a temporada passada e travam duelo, rodada a rodada, pela liderança no ranking de maior público do Brasileirão de 2014. Depois dessa última rodada, o São Paulo ultrapassou. Média de 28.279 pessoas no Morumbi, contra a marca de 28.011 pessoas do Corinthians. Há uma grande diferença, no entanto, na arrecadação: enquanto o São Paulo teve renda bruta total de bilheteria de R$ 13,5 milhões neste campeonato nacional, o Corinthians recebeu R$ 29,7 milhões. A distância entre os valores, de R$ 16,2 milhões, é semelhante ao preço que o São Paulo pagou ao Benfica (POR) para contratar o atacante Alan Kardec, por exemplo.

A explicação para que dois clubes que levam o mesmo número de torcedores ao estádio tenham valores totais de arrecadação tão distintos é óbvia: o preço cobrado dos ingressos. O São Paulo é um dos clubes que vende bilhetes ao preço mais barato entre os 20 participantes do Brasileirão. Normalmente o ingresso mais barato para entrar no Morumbi custa R$ 20 (inteira), mas em diversos momentos o clube faz promoção e vende entradas para um dos setores a R$ 10.

No Corinthians, no entanto, a situação é completamente diferente. No início do campeonato o clube chegou a mandar uma partida no Pacaembu, antes da inauguração do Itaquerão, e depois jogou no Canindé. Nas ocasiões, pontuais, vendeu ingressos a R$ 40. Mas depois da abertura do novo estádio, que sediou a abertura da Copa do Mundo de 2014, a entrada mínima passou a custar R$ 50. O bom público, então, passou a render arrecadações sempre próximas a R$ 2 milhões por jogo.

No caso do Corinthians, no entanto, não é possível mexer na verba oriunda da arrecadação. Por contrato, o clube tem de reservar o dinheiro de bilheteria para pagar os empréstimos contraídos para a construção do Itaquerão. Somando-se os 17 mandos do Corinthians neste Brasileirão, a média de renda bruta por jogo do clube é de R$ 1,7 milhão. No mesmo cálculo, o São Paulo, que mandou 18 partidas no campeonato, recebe R$ 752 mil por jogo.

A fase popular do São Paulo, que mais uma vez briga com o Corinthians pela média de público do Brasileirão, se deve a uma medida implementada durante o campeonato passado, em 2013. O time vivia uma crise sem precedentes quando decidiu fixar a entrada mínima em R$ 10. A partir de então, houve um aumento significativo de público no Morumbi. Dessa forma, a medida foi parcialmente mantida em 2014.

Quanto cada torcedor paga no ingresso?

Além do São Paulo, que esporadicamente vende ingressos a R$ 10, há outros poucos clubes que chegam a tal valor. O Vitória, que luta contra o rebaixamento, ficou preços mínimos em R$ 10. Botafogo, Atlético-MG e Figueirense também chegaram ao mesmo valor mínimo.

Em outro patamar, Goiás, Bahia, Fluminense e Internacional mantêm os preços mínimos dos bilhetes entre R$ 20 e R$ 30. O Santos chegou a vender entradas a R$ 5 em casos específicos, mas normalmente vende ingressos a R$ 40.

Flamengo e Grêmio também vendem ingressos mínimos a R$ 40. Corinthians, Sport, Criciúma e Cruzeiro tem bilhetes mais baratos a R$ 50. O Palmeiras, caso específico, teve três preços mínimos neste Brasileirão: R$ 40 no início, R$ 15 durante o período mais preocupante da crise e R$ 80 agora, na reinauguração do Palestra Itália, que reabriu como Allianz Parque.

O trio que completa a lista tem suas curiosidades. A Chapecoense vende ingressos mínimos a R$ 60. No Paraná, a dupla mais cara do Brasil explica nos preços porque está na parte de baixo do ranking de média de público. A entrada mínima para assistir aos jogos do Coritiba é de R$ 95 e, no caso do Atlético-PR, é de R$ 150 desde a reabertura da Arena da Baixada – o clube cobra altos preços nas entradas porque tenta fazer com que os torcedores se associem ao programa sócio-torcedor.

Basta o ingresso barato para ter torcida no estádio?

Não basta, e Vitória e Botafogo servem para ilustrar a resposta. A dupla, mesmo tendo os ingressos mais baratos do Brasil, não conseguem nem passar perto de lotar os estádios. O Vitória tem média de 10 mil pessoas nos quase 35 mil lugares do Barradão. O Botafogo coloca menos de 12 mil pessoas por partida nos 79 mil lugares do Maracanã.

Coincidência ou não, os três líderes do ranking de público são também os três líderes do Brasileirão. São Paulo é o líder, Corinthians quase empatado, e Cruzeiro na terceira posição. Mas cada um com sua particularidade: o São Paulo vende ingressos baratos, o Corinthians realizou o sonho de ter estádio e o Cruzeiro é campeão e líder do campeonato.

FOTO: UOL

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