Ele teve a grande chance na equipe em 2007, quando foi incorporado de vez ao grupo em função do polêmico corte de Ricardinho

Ele teve a grande chance na equipe em 2007, quando foi incorporado de vez ao grupo em função do polêmico corte de Ricardinho

José Ricardo Leite

Do UOL, em Lodz (Polônia)

A cara de menino, nome em diminutivo e a lembrança por ser filho de Bernardinho talvez transmitam a imagem do levantador titular da seleção brasileira masculina como a de um jovem protegido que ainda luta para se firmar. Só que Bruno Mossa, o Bruninho, aos 28 anos, é muito mais do que isso dentro do elenco que tenta o inédito tetracampeonato mundial.

Ele teve a grande chance na equipe em 2007, quando foi incorporado de vez ao grupo em função do polêmico corte de Ricardinho, considerado por muitos o melhor levantador de todos os tempos. Passou a ter sobre as costas a pecha de estar na equipe apenas por ser o filho do treinador.

De lá pra cá, já são sete anos de seleção brasileira. No ano passado assumiu o posto de capitão da equipe com o afastamento de Murilo em virtude de uma cirurgia no ombro. O ponteiro, mesmo sem a tarja, assume também responsabilidades de conversar com os mais jovens e ajudar a manter a estabilidade emocional nos momentos mais tensos. Não é do tipo que fala alto e gesticula nas orientações, mas conversa mais reservadamente e suas feições são suficientes para acalmar o time.

Já Bruno, por sua personalidade mais expansiva, tem importante atuação na questão motivacional e de liderança do elenco. É quem mais fala, gesticula e conversa. Não há atuação boa ou ruim que faça o capitão da equipe se ausentar de explicações e declarações. Fala o tempo que for preciso (sua única ausência nesse sentido foi quando o Brasil não foi à coletiva contra a Polônia e incomodou a federação).

Nos jogos do Mundial em que não pôde atuar por uma lesão no dedo, ficou do lado de fora e não parava de incentivar um minuto sequer. Cada atleta que chegava ou saía recebia um tapinha de incentivo e uma palavra de motivação ou consolo.

De fora, olhava atentamente as partidas quase que como um observador técnico em busca de uma leitura que pudesse ajudar com sua análise. Nos tempos pedidos por Bernardinho, se juntava ao time e acompanhava as instruções de forma compenetrada para saber o que está se passando, mesmo de fora.

Isso faz parte de seu estilo "CDF" quando o assunto é vôlei, ainda mais quando é para estudar os adversários de suas equipes. Por conta própria, pede para a comissão técnica vídeos e estatísticas dos rivais e acompanha de seu Ipad. "Acho que trato o vôlei não só como meu trabalho, mas é minha paixão também. Brinco que é meu hobby. Até quando tenho tempo livre gosto de ver os jogos. É o que me dá prazer, gosto de estudar mesmo", declarou.

Quando explica o porquê de sua busca por aperfeiçoamento na base da leitura nas horas vagas, reverencia outros grandes nomes de sua posição e diz até se ver abaixo deles em termos de talento. As palavras seriam quase impossíveis de sair da boca de um jogador egocêntrico e vaidoso.

"Não sou um levantador talentoso como foram Maurício e o Ricardinho, então tenho que tentar buscar outros meios pra me tornar um cara eficiente. É isso que me faz ter esse lado", falou. "Pego vídeos das últimas partidas do adversário pra ver o bloqueio deles, que é a principal função que o levantador tem que ter, de estudar o bloqueio rival", continuou. "Eu era um cara OK nos estudos, nunca fui muito estudioso, mas o mundo do vôlei acabou me despertando esse interesse."

Bruno é do tipo que não tem vergonha de admitir os erros. Nem mesmo se a falha não for só individual e técnica, mas como capitão e líder. Expõe sua falha e se cobra. Como ao analisar os momentos em que o Brasil perdeu a cabeça com a provocação polonesa e deixou a vitória escapar, na terça-feira, no tie-break.

"Ficamos chateados e acho que faltou um pouco de lucidez de minha parte para ajudar o time naquele momento e juntar todo mundo. Acho que faltou comunicação. A gente não pode mais cair numa armadilha dessas."

Quando ficou de fora do time, fez questão de uma conversa mais reservada com o concorrente à posição. "O Bruno veio falar comigo antes do jogo e me deu muita força, falou coisas muito legais e que me deixaram mais confiante", falou o levantador Raphael, logo depois da vitória por 3 a 0 sobre a Finlândia. "Nós trocamos muitas experiências. Ele é um cara muito importante no grupo."

Bruno diz que a maneira pró-ativa de querer participar e se posicionar é algo que talvez tenha vindo do sangue do pai. Mas entende que um capitão não pode passar do ponto e querer impor sua ideia, mas sim juntar todos em um ideal.

"(Querer falar e se posicionar) foi bastante da minha personalidade. Tento falar, mas o principal que eu vejo e procuro enxergar em grandes líderes é ser um cara natural, não faço isso porque acho que tem que ser assim do meu jeito. É meu jeito de ser e a minha personalidade de agir. Eu não estou forçando nada. Acho que isso eu posso ter puxado o lado dele (Bernardinho)."

O fato de o capitão ser filho do técnico só cria uma saia justa no momento de defender o elenco e se posicionar. Ele diz que isso nunca foi problema na relação com jogadores e equipe e entende que o fato de conhecer pessoalmente o Bernardinho técnico como alguém da família é algo mais positivo do que negativo perante os outros jogadores. E nem se importa quando a questão é sobre ser filho do técnico.

"Não, hoje em dia esta tranquilo (essa questão). É difícil porque ele é um cara que cobra muito, como tenho bastante tempo de convivência, tem hora que falamos e tem que escutar apenas e deixar pra outra hora a de dialogar. E os mais experiente têm que passar isso pros mais jovens."

Uma de suas principais funções é a de deixar o elenco "ligado", já que é o mais agitado do time que inicia as partidas. Divide com Murilo as duas faces dos mais experientes em quadra, mesclando energia com serenidade. Mas ambos assumem as funções de dialogar com os mais jovens.

"Eles dois estão sempre conversando com a gente e fazendo de tudo pra que a gente não sinta tanto a pressão e deixando à vontade", falou Lucarelli, o mais jovem do elenco, com 22 anos.

E conversas entre os jogadores não foi o que faltou após a derrota para a Polônia, na terça-feira. O resultado gerou a obrigação de bater a arquirrival Rússia na quarta para o time ter chances de prosseguir no Mundial. Venceu por 3 a 0 está nas semifinais.

"De maneira alguma imaginamos que iríamos ficar de fora. Na preleção comentamos dos inúmeros momentos que passamos para estar ali. Temos provado que temos um time de guerreiros. Fico orgulhoso de ter caras como Murilo e Wallace (que estavam lesionados e jogaram contra a Rússia). Acho que vamos longe."

FOTO: UOL

Últimas do seu time