As gloriosas onze estrelas do Fogão

As gloriosas onze estrelas do Fogão

Formar um Botafogo de todos os tempos deixa a impressão de ser uma tarefa fácil, pois basta pegar como base a sua década dourada, que foi a de 60. Obviamente que o timaço da época, tanto o do bicampeonato carioca de 1961/62 quanto o de 1967/68, tem que servir como referência. Mas para um time que completará 110 anos em 2014, obviamente que teve ao longo da sua história variados títulos e muitos craques, alguns campeões e outros não, dos quais também merecem figurar na expressiva seleção botafoguense.

GLORIOSO: Termo surgido quando o Botafogo foi campeão carioca em 1910. É citado no hino do clube.
ESTRELA SOLITÁRIA: Era uma referência aos remadores do Botafogo, pois sabiam que a partir do momento que viam a Estrela Dalva tratava-se do momento de começar a treinar. Nos anos 40 passou a fazer parte do símbolo na camisa da equipe de futebol, permanecendo assim até hoje.

BOTAFOGO DE TODOS OS TEMPOS
O Botafogo de Futebol e Regatas foi fundado no dia 12/08/1904. Chamava-se inicialmente Electro Club, mas durou pouco, alterando para Botafogo Futebol Clube. Em 1942 mudou em definitivo para o nome que conhecemos hoje, em uma fusão com o Clube de Regatas Botafogo. Nos anos 30 montou uma bela equipe que se sagrou campeã estadual, tendo Carvalho Leite como o seu principal jogador. Mas foi nos anos 60 que formou inesquecíveis esquadrões, com craques que eram presenças garantidas na Seleção Brasileira, através de gênios como Mané Garrincha, Nílton Santos, Didi, Gérson, Paulo César Caju e tantos outros. Ficou mais de 20 anos sem ser campeão carioca, reconquistando-o de forma emocionante, mas longe de lembrar os seus mais gloriosos anos. É conhecido como um clube bem supersticioso.

TITULAR: Aymoré Moreira, Rildo, Nariz, Leônidas e Nílton Santos; Martim, Didi e Gérson; Garrincha, Heleno de Freitas e Quarentinha. Técnico: Mário Jorge Lobo Zagallo.

AYMORÉ MOREIRA (Miracema, RJ, 26/04/1912 – Salvador, BA, 26/07/1998) - Jogou no Botafogo de 1936 a 1946. Muito conhecido por ser um dos mais conceituados treinadores do futebol brasileiro, em especial da Seleção Brasileira no Bicampeonato Mundial de 1962. Mas Aymoré Moreira também foi um goleiro muito bom dos anos 30 e 40. Revelado pelo América do Rio, jogou bem no Palestra Itália, sendo campeão paulista em 1934. Sua melhor fase aconteceu no Botafogo. Dono de baixa estatura, mas muito ágil e valente, sabendo jogar fora da área. Mesmo não sendo campeão carioca pelo Fogão, teve grandes momentos no time, em especial do final de 1938 ao fim de 1941, quando foi convocado pela Seleção Carioca (campeão brasileiro de 1938) e Brasileira. Vivenciou a carreira de dois dos maiores centroavantes botafoguenses de todos os tempos, que foram o Carvalho Leite e o Heleno de Freitas. Quando já estava veterano começou a perder lugar para Ary, que era um goleiro que atuava pela Seleção Brasileira. Chegou a jogar com o seu irmão, o lateral-direito Zezé Moreira, no America, no Palestra Itália e no próprio Botafogo anos depois, que também viria a ser um conceituado treinador, comandando o Brasil na Copa do Mundo de 1954.

RILDO DA COSTA MENEZES (Recife, PE, 23/01/1942) - Jogou no Botafogo de 1959 a 1967. A presença do lateral-esquerdo pelo lado direito pode ser estranho, mas foi aí que ele começou. Com o tempo, Nílton Santos acabou sendo deslocado pra jogar na posição de quarto-zagueiro, quando estava veterano. Rildo passou então a jogar na lateral-esquerda, consagrando-se como um dos melhores do Brasil, não tanto pela técnica, mas sim pelo forte poder de marcação e pela facilidade com que subia ao ataque. Fez parte do período áureo do Botafogo, sagrando-se bicampeão carioca em 1961/62 e conquistando três Torneios Rio-São Paulo em 1962, 1964 e 1966 (dividido com o Corinthians, Santos e Vasco). A fase era tão boa, que fez com que fosse um dos convocados pra disputar a Copa do Mundo da Inglaterra, mas teve azar de disputar justamente a última partida, quando o Brasil foi desclassificado por Portugal. No início de 1967 é contratado pelo Santos, iniciando mais uma fase vitoriosa da sua carreira, conquistando o Tricampeonato Paulista de 1967/68/69 e o Roberto Gomes Pedroza de 1968. Pode se orgulhar em afirmar que jogou nos dois grandes clubes brasileiros dos anos 60, pois foi jogador do melhor Botafogo de todos os tempos e também fez parte de um excelente time santista, não tão forte quanto na primeira metade da década de 60, mas mesmo assim uma equipe extraordinária, que ainda tinha Pelé. Muitas vezes é escolhido pra integrar o Santos de todas as épocas. Teve sorte de não ter que enfrentar o Garrincha, pois quando estava no seu auge jogavam no mesmo time e depois o ponta-direita não era nem sombra ao que foi nos tempos de Botafogo. Sua grande mágoa foi ter sido cortado da Seleção Brasileira que seria tricampeão mundial em 1970 devido a um problema de coração do qual ele garantiu que nunca teve e que estava acostumado a jogar em países como o México.

Álvaro Lopes Cançado – NARIZ (Uberaba, MG, 08/12/1912 – 19/09/1984) - Jogou no Botafogo de 1934 a 1941. Não se surpreendam de seu sobrenome estar com a letra “ç”, pois era assim mesmo que se escrevia. Jogou inicialmente no Tupi e no Atlético Mineiro (campeão mineiro de 1932), indo jogar no Fluminense como jogador profissional em 1933, sagrando-se vice-campeão estadual pela Liga Carioca. No final do ano seguinte é contratado pelo Botafogo do Rio, o melhor time do Estado na ocasião, vindo a compor uma forte defesa, conhecida como Esquadrão da Cavalaria. Vence pela FMD o seu único Estadual, em 1935. Atuando mais como segundo zagueiro (quarto-zagueiro), nunca se primou pela técnica, pelo contrário, era muito duro na marcação. Disputou a Copa do Mundo de 1938, sendo também médico da equipe.

SEBASTIÃO LEÔNIDAS (Jerônimo Monteiro, ES, 06/04/1938) - Jogou no Botafogo de 1966 a 1972, marcando 1 gol em 277 partidas. Coincidentemente nasceu no ano em que o seu “quase” xará, o famoso Leônidas da Silva, era a maior estrela do futebol brasileiro. Nascido no Espírito Santo e revelado pelo América Mineiro, sagrou-se campeão estadual em 1957. Dois anos depois estava em outro America, o carioca, vencendo o Estadual de 1960. No início de 1966 é contratado pelo Botafogo, tornando-se o maior quarto-zagueiro da história do clube, devido ao seu futebol clássico, de disposição e sempre saindo com a bola dominada. Fez parte da segunda grande geração botafoguense da década de 60. Enquanto Gérson era o líder do meio de campo, Sebastião Leônidas fazia o mesmo na defesa. Foi campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1966, bicampeão carioca em 1967/68 e conquistou a inédita Taça Brasil no ano de 1968. Viveu a sua melhor fase no clube, sendo que as suas únicas convocações para a Seleção Brasileira ocorreram nos anos de 1966, 1967 e 1968. Devido a uma artrose foi cortado pra disputar a Copa do Mundo de 1970.

NÍLTON SANTOS (Rio de Janeiro, RJ, 16/05/1925 – 27/11/2013) - Jogou no Botafogo de 1948 a 1964, marcando 11 gols em 729 partidas. É o jogador que atuou mais anos e partidas pelo Botafogo. Mas não somente por isso que está no time de todos os tempos, onde sempre ganha por unanimidade. Nílton Santos foi um símbolo botafoguense e considerado por muitos o maior jogador da sua história de quase 110 anos. Foi descoberto quando cumpria o serviço militar na Ilha do Governador. Quando chegou ao clube em 1948 teve um desentendimento com a estrela da equipe, o temperamental Heleno de Freitas, que estava indo jogar no Boca Juniors, não se intimando com a fama do jogador e já mostrando a sua forte personalidade. No mesmo ano foi campeão carioca, título que não vinha desde 1935, provando que era um jogador que tinha “estrela”. Dono de um futebol de ilimitados recursos técnicos e absoluto como lateral-esquerdo, consagrou-se como o mais perfeito na posição do futebol brasileiro em todos os tempos, marcando os adversários com muita categoria, aplicando dribles precisos e dando precisos lançamentos, sendo apelidado anos depois de Enciclopédia do Futebol. Passou a ser convocado pela Seleção Carioca e Brasileira (campeão sul-americano em 1949), mas na Copa do Mundo de 1950 teve que ficar no banco, pois o treinador Flávio Costa preferia um jogador mais viril, que usasse outro tipo de chuteira. A partir de 1952 tornou-se titular absoluto da Seleção Brasileira durante 10 anos, disputando o Mundial de 1954 e sagrando-se bicampeão do mundo em 1958 e 1962. No Botafogo era o líder absoluto, tendo a oportunidade de jogar ao lado da maior e melhor geração que o clube teve, ao lado de Garrincha, Didi, Paulo Valentim, Quarentinha, Amarildo, Zagallo e Manga. Venceu por mais três vezes o Campeonato Carioca (1957 e 1961/62) e duas vezes o Torneio Rio-São Paulo (1962 e 1964). Na Copa do Mundo de 1958 ficou famoso o gol que fez contra a Áustria, com o técnico Vicente Feola gritando para que voltasse antes da finalização, já que naqueles tempos os laterais não costumavam avançar, o que prova os poucos gols que marcou. E na de 1962, atuando como quarto-zagueiro, cometeu um pênalti contra a Espanha, mas malandramente deu uns passos para fora da área, fazendo com que o árbitro marcasse apenas falta. Continuou muito ligado ao Botafogo depois que abandonou a carreira de jogador, que nunca lhe negou apoio, cuidando dele até o final da sua vida, tornando-se um patrimônio do clube.

MARTIM MÉRCIO DA SILVEIRA (Bagé, RS, 02/03/1911 – Rio de Janeiro, RJ, 16/08/1972) - Jogou no Botafogo de 1930 a 1933 e de 1934 a 1940. O melhor volante (antigo centromédio) da história do Botafogo. No Rio Grande do Sul jogou inicialmente no Guarany Futebol Clube de Bagé e no Salesianos de Porto Alegre. Logo no seu primeiro ano como jogador botafoguense venceu o Campeonato Carioca de 1930. Novamente campeão estadual em 1932, foi convocado pra disputar e ganhar a Copa Rio Branco na mesma temporada, sendo que as suas grandes atuações ao lado de Leônidas da Silva e Domingos da Guia despertaram o interesse do Boca Juniors, que o contratou. Retornando ao Brasil no início de 1934, voltou a jogar no mesmo clube, sendo convocado para a Copa do Mundo da Itália como capitão e sagrando-se mais uma vencedor com a camisa botafoguense do Estadual Carioca no final do ano, pela AMEA. Conquista em 1935 mais um título estadual e fazendo da década de 30 a segunda maior do Botafogo. Quando Fausto retornou ao Brasil em março de 1936 pra ser jogador do Flamengo, passou a rivalizar com ele, Zarzur (Vasco), Brant (Fluminense) e Og Moreira o posto de melhor centromédio do Rio de Janeiro. Martim Silveira se destacou mais contra a excelente concorrência, pois era um volante muito clássico, líder, que tinha muita habilidade com a bola nos pés, marcava bem e cerebral armador através de lançamentos primorosos. Disputou mais um Mundial, o de 1938, na França, como capitão, fazendo parte da formidável Seleção Brasileira que tinha dois times, sendo que na outra equipe estava o seu grande concorrente no futebol brasileiro, que era José Augusto Brandão, centromédio do Corinthians. Encerrou a carreira em 1940, com apenas 29 anos.

VALDIR PEREIRA – DIDI (Campos, RJ, 08/10/1929 – Rio de Janeiro, RJ, 12/05/2001) - Jogou no Botafogo de 1956 a 1959 e de 1960 a 1965, marcando 114 gols em 313 partidas. Considerado por muitos um dos grandes meias-armadores do futebol brasileiro em todos os tempos. Era um completo meia-direita, pois jogava um futebol clássico, de cabeça erguida, com excelente domínio de bola, driblava bem, tendo a capacidade de lançar os companheiros como pouco se viu e batia faltas com perfeição, algo aprimorado nos seus tempos de Botafogo, quando criou a sua famosa Folha Seca, um chute de muito efeito. Foi apelidado de “Príncipe Etíope”. Iniciou a carreira no Americano da sua cidade, teve rápida passagem pelo Lençoense e começou a se destacar no Madureira, time que havia revelado anos antes craques como Lelé, Isaías e Jair. Sua contratação pelo Fluminense, um dos grandes clubes do Brasil, acabou sendo o seu real batismo futebolístico, mas não atuou na Copa do Mundo de 1950, pois os meias eram nada mais nada menos que Zizinho e Jair Rosa Pinto. Na equipe das Laranjeiras foi campeão carioca em 1951 e no ano seguinte venceu a Copa Rio, tornando-se o principal jogador do Flu. A partir de 1952 tornou o camisa 8 da Seleção Carioca e Brasileira (campeão pan-americano), herdando a posição do Mestre Ziza, que sempre o considerou seu legítimo sucessor. Fez um excelente Mundial em 1954, mas teve azar de cruzar com a forte Hungria. É contratado pelo Botafogo no ano de 1956, iniciando, na opinião de muitos, a melhor fase da sua carreira. Formou uma maravilhosa ala-direita com Garrincha, a melhor do Brasil a partir de 1957, conquistando o título carioca no mesmo ano. Na Copa do Mundo de 1958 era inquestionável como titular e venceu o primeiro título mundial dos brasileiros, sendo eleito o melhor jogador da competição. A fama era tanta que o Real Madrid, o mais espetacular time do mundo, o contratou em 1959, pra jogar ao lado de gênios como Di Stefano e Puskas, mas problemas nunca tão bem explicados fizeram com que jogasse apenas uma temporada pelo esquadrão espanhol. No ano de 1961 jogou na grande equipe botafoguense de todas as épocas, ao lado de Mané Garrincha, Nílton Santos, Manga, Quarentinha, Amarildo e Zagallo, vencendo mais um Estadual. Conquista em 1962 o primeiro Torneio Rio-São Paulo do clube e sagrou-se bicampeão mundial e carioca, um ano mágico. Aos poucos Didi foi perdendo o gás, tornando-se mais reserva que titular. Anos depois, com a chegada de Gérson, passou um pouco dos seus conhecimentos, tendo tranquilidade em lhe passar o bastão simbólico recebido de Zizinho, pois se tratava de outro formidável meia-armador. Após uma rápida passagem pelo São Paulo, dedicou-se à carreira de treinador, comandando o forte time do Peru na Copa do México, sendo eliminado pelo seu “ainda mais forte” Brasil.

GÉRSON DE OLIVEIRA NUNES (Niterói, RJ, 11/01/1941) - Jogou no Botafogo de 1963 a 1969, marcando 96 gols em 248 partidas. Revelado pelo Flamengo, foi justamente na Gávea que o seu futebol começou a chamar a atenção, tendo as suas primeiras oportunidades na Seleção Brasileira. Teve problemas com o treinador Flávio Costa, por não concordar de ser escalado na ponta-esquerda pra marcar Garrincha na final do Campeonato Carioca de 1962. O Botafogo foi campeão e o craque ficou queimado no rubro-negro. Negociado pra jogar no rival, viveu em General Severiano a melhor fase da sua carreira. Tinha como missão substituir o genial Didi, não ficando muito atrás, pois também era um meia-armador de grandes qualidades, sendo considerado um dos melhores lançadores do Brasil em todos os tempos, com a capacidade de colocar a bola no peito de um companheiro mesmo estando 40 metros de distância. Fez parte da segunda grande geração botafoguense dos anos 60, atuando ao lado de Manga (que também foi da primeira), Sebastião Leônidas, Rogério Hetmaneck, Jairzinho, Roberto Miranda e Paulo César Caju. Através da sua liderança e maestria na organização das jogadas, tornou-se o principal jogador da equipe, conquistando títulos significativos, como o Torneio Rio-São Paulo de 1966, o Bicampeonato Carioca em 1967/68 e a Taça Brasil no ano de 1968. Vendido ao São Paulo no ano seguinte, conquistou mais uma vez um bicampeonato estadual, em 1970/71 e tendo outra excepcional fase. Na Copa do Mundo do México teve ao seu lado um quinteto excepcional com Clodoaldo, Rivellino, Jairzinho, Tostão e Pelé, tornando-se um notável destaque através dos seus incomparáveis lançamentos, tanto é que foi apelidado de Canhotinha de Ouro. O seu último clube (Fluminense) foi justamente o que sempre torceu, conquistando o Campeonato Carioca de 1973. Mas mesmo jogando por quatro grandes clubes, sem dúvida foi no Glorioso que viveu seus melhores momentos, tanto tecnicamente, quanto na importância dos títulos. Depois foi um conceituado comentarista, fazendo jus ao seu outro apelido, “Papagaio”, que o acompanhou por boa parte da sua carreira de jogador.

MANOEL FRANCISCO DOS SANTOS – GARRINCHA (Pau Grande, RJ, 28/10/1933 – Rio de Janeiro, RJ, 20/01/1983) - Jogou no Botafogo de 1953 a 1965, marcando 245 gols em 612 partidas. Considerado por muitos o segundo maior jogador brasileiro de todos os tempos. Tinha tudo pra não dar certo no futebol, pois suas pernas eram tortas e não tinha um QI dos mais elevados. Mas quem nasceu pra ser craque não precisa de tais perfeições para brilhar. E Garrincha foi o maior exemplo que tivemos. Logo no seu primeiro treino em General Severiano, no ano de 1953, mandou uma bola por baixo das pernas de Nílton Santos, que inclusive pediu para que fosse contratado logo, pois não queria enfrentá-lo, principalmente se jogasse no Flamengo, com o Maracanã sempre lotado. Surgia assim o mais famoso ponta-direita do mundo em todas as épocas. Seu início, apesar de gratificante, ainda era uma incógnita, pois na Seleção Brasileira já havia outro fantástico jogador, que era Julinho Botelho, que por causa do ponta botafoguense teria depois poucas oportunidades pra jogar pelo Brasil. Com a chegada de Didi, que entendia bem como era o seu jogo, foi melhorando cada vez mais, resultando na conquista do Campeonato Carioca de 1957. No Mundial da Suécia ficou no banco, pois para o treinador Vicente Feola era teimoso, não obedecendo as teorias táticas, optando mais pelo disciplinado flamenguista Joel na sua posição. No decorrer o torneio Feola percebeu que a sua presença em campo era imprescindível para as vitórias brasileiras, formando com Pelé uma infernal dupla, resultando no primeiro título mundial para o nosso país. Voltou ao Rio de Janeiro como herói, o que fez dele o principal jogador do futebol carioca. Suas exibições no Maracanã era um colírio aos olhos dos torcedores do seu time e dos adversários, através das suas incríveis arrancadas, cruzamentos precisos e em especial nos maravilhosos dribles, algo que era um especialista como poucos. Junto com Didi e Nílton Santos formou o mais espetacular time da história do Botafogo e segundo melhor do Brasil no início dos anos 60, brilhando com jogadores como Manga, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. Só não teve a sorte de ganhar títulos mais expressivos como a Taça Brasil e a Libertadores porque o auge da equipe do Anjo das Pernas Tortas coincidiu com o ápice do Santos do Rei Pelé. Mesmo assim foram memoráveis as conquistas do Bicampeonato Carioca de 1961/62 e o Torneio Rio-São Paulo de 1962 e 1964. O momento mais histórico da carreira de Garrincha aconteceu no Mundial do Chile, principalmente depois da contusão de Pelé, tornando-se o principal responsável pela conquista do Bi, fazendo de tudo, desde as maravilhosas fintas, quanto cabecear e cobrar faltas, além de marcar gol com o pé esquerdo. No meu entender se jogasse assim em toda a sua passagem no futebol teria sido o melhor de todos. Problemas com o joelho foram aos poucos abreviando a sua carreira. Saiu do Botafogo para defender o Corinthians no final de 1965, tendo alguns lampejos de genialidade que o levaram à sua última Copa na Inglaterra, mas longe daquele maravilhoso craque que todos conheceram. Fora de campo teve como companheira a cantora Elza Soares, tornando-se o grande amor da sua vida. Infelizmente sentia-se esquecido, o que foi entristecendo-o muito. Morreu no início de 1983, comovendo todo o Brasil. Mesmo sendo mais um ponta-direita de dribles e assistências, marcou muitos gols pelo Botafogo (na frente, inclusive, do centroavante Heleno de Freitas), além de ser o segundo jogador que mais vestiu a sua camisa.

HELENO DE FREITAS (São João Nepomuceno, MG, 12/02/1920 – Barbacena, MG, 08/11/1959) - Jogou no Botafogo de 1939 a 1948, marcando 209 gols em 235 partidas. O melhor e mais temperamental centroavante brasileiros dos anos 40. Viveu intensamente a sua vida dentro e fora de campo, pois fazia parte das grandes festas cariocas junto com o Clube dos Cafajestes devido à sua elegância, jogava um futebol extremamente virtuoso e também tinha um gênio terrível, tanto em relação aos adversários e até mesmo com os companheiros de time. Era diferenciado em todos os aspectos, pois estudava advocacia (algo incomum para jogadores de futebol do seu tempo), era um galã para as mulheres, tinha hábitos elegantes que faziam com que tivesse acesso a determinadas rodas de amigos que jogador nenhum teria e também era capaz de gestos grosseiros que faziam com que muitos se afastassem dele, colecionando assim mais desafetos do que amigos. Jogando futebol não era diferente, pois se tratava de um craque acima da média, com muita classe, que decidia partidas através de lances espetaculares, como dribles desconcertantes, passes de primeira, arrancadas mortais, cabeçadas certeiras e chutes indefensáveis. Por ser tão perfeccionista, não admitia falhas dos companheiros e jogadas desleais dos adversários (se bem que também costumava ser maldoso em alguns lances), envolvendo-se em inúmeras confusões e sendo expulso por várias vezes. Maior ídolo do Botafogo no seu tempo e principal atração de todas as partidas que disputava, era responsável por muitas vitórias e derrotas do time. Chegou até mesmo a ser apelidado maldosamente de Gilda, filme hollywoodiano da época em que a atriz principal era Rita Hayworth, que fazia uma personagem temperamental e cheia de recalques, que se encaixavam perfeitamente em Heleno de Freitas. Foi o titular absoluto da Seleção Carioca e Brasileira no seu auge, brilhou ao lado da maravilhosa geração de Zizinho, Ademir e Jair, mas teve azar de estar no seu ápice justamente quando não houve a Copa do Mundo, devido à Segunda Guerra Mundial, principalmente em 1946, quando o conflito tinha acabado no ano anterior. Seu outro azar foi jogar justamente na mesma época do maravilhoso futebol argentino, conseguindo conquistar pelo Brasil a Copa Rocca de 1945 e a Rio Branco dois anos depois. Mesmo todos sabendo do seu talento, percebia-se que enquanto estivesse no Botafogo, o time jamais seria campeão carioca, pois sempre batia na trave por detalhes bobos na reta final. Foi vendido ao Boca Juniors em 1948 e a percepção provou ser certa, com o time botafoguense sendo campeão depois de treze anos. Na Argentina jogou com o compatriota Yeso Amalfi, tendo um bom começo, com muita badalação, mas faltou futebol e seu gênio não foi engolido pelos dirigentes e torcedores, retornando ao Brasil. Foi tentar a sorte no Vasco, conquistando o seu primeiro título estadual em 1949, na grande fase do Expresso da Vitória. Problemas com o técnico Flávio Costa e companheiros fizeram com que perdesse a sua grande chance, que seria de disputar o Mundial de 1950, no Brasil. Foi jogar no Atlético Junior Barranquilla da Colômbia, tornando-se um rei. A doença de sífilis, que ele não quis tratar, ia avançando cada vez mais, fazendo dele uma pessoa impossível de se conviver, resultando inclusive no término do seu casamento (tendo um filho, inclusive), pois além do famoso gênio difícil, continuou a manter os seus hábitos boêmios. Nenhum clube o queria mais. Sua última chance foi no America do Rio, tendo a oportunidade de jogar a sua primeira e última partida no Maracanã, fazendo grandes jogadas no início do jogo, mas sendo expulso depois. Internado em Barbacena, teve tristes anos, piorando cada dia mais, fazendo com que aquele rapaz vaidoso ficasse irreconhecível, vivendo depois de forma vegetativa. Mesmo não sendo campeão pelo Botafogo, é na maioria das vezes eleito no time de todos os tempos, pois foi uma figura única, pelo incomparável talento como centroavante, por sua forte personalidade e pelas declarações e demonstrações de amor pelo clube da Estrela Solitária, sendo o quarto jogador que mais tentos fez pelo clube.

WALDIR CARDOSO LEBRÊGO – QUARENTINHA (Belém, PA, 15/09/1933 – Rio de Janeiro, RJ, 11/02/1996) - Jogou no Botafogo de 1954 a 1956 e de 1957 a 1964, marcando 313 gols em 444 partidas. Centroavante que não foi tão ídolo quanto Carvalho Leite, Heleno de Freitas e até mesmo Túlio, mas tem um recorde que provavelmente jamais será superado, o de maior goleador da história do Botafogo, sendo o único que marcou mais de 300 tentos. Era daqueles artilheiros com faro raro de gol, sem precisar de muita técnica para balançar as redes adversárias, através do seu forte chute de canhota, sem-pulos sensacionais e precisas cabeçadas. Tinha um hábito estranho quando anotava os seus muitos gols, sem comemorar, pois dizia que os fazia por obrigação, já que era pago pra isso. Começou a jogar no Paysandu, tendo uma primeira e rápida passagem por General Severiano. Jogou depois no Vitória e Bonsucesso, retornando ao time da Estrela Solitária, na melhor fase da sua carreira, mas não sendo de imediato o centroavante principal, pois na mesma posição jogava Paulo Valentim, outro respeitável goleador. Mesmo assim Quarentinha foi artilheiro do Campeonato Estadual de 1958, 1959 e 1960, anos que o time não foi campeão. Com a saída de Valentim para o Boca Juniors tornou-se dono da camisa 9, marcando muitos gols graças aos precisos cruzamentos de Garrincha. Foi campeão carioca em 1957 e 1961/62, vencendo também o Torneio Rio-São Paulo de 1962 e 1964 (dividido com o Santos). Só não foi à Copa do Mundo de 1962 por causa de uma contusão e devido à forte concorrência. Encerrou a carreira no América de Cáli, na Colômbia.

MÁRIO JORGE LOBO ZAGALLO (Maceió, AL, 09/08/1931) - Foi técnico do Botafogo de 1967 a 1971, 1974 a 1976 e em 1978. Sua carreira é, provavelmente, a mais completa do futebol brasileiro, juntando ele como jogador e treinador. Veio muito novo para o Rio de Janeiro, tanto é que parece mais ser carioca do que alagoano. Iniciou-se no America do Rio, mas foi no Flamengo que começou a se destacar como um ponta-esquerda bom pra driblar, adaptando-se depois para um estilo mais de armador, auxiliando o meio de campo. Com a camisa flamenguista foi tricampeão carioca em 1953/54/55. Fez parte como titular da Seleção Brasileira que foi bicampeã do mundo em 1958 e 1962. No Botafogo ganhou todos os mesmos títulos de Garrincha e seus companheiros, exceto o Campeonato Carioca de 1957, quando ainda atuava na Gávea. Fiz questão de incluí-lo como técnico botafoguense de todos os tempos devido à concorrência com tantos grandes jogadores e também por ter sido vitorioso no clube, em especial na sua primeira passagem, sendo bicampeão da Taça Guanabara e do Estadual em 1967/68, do Troféu Triangular de Caracas nos anos de 1968 e 1970 e da Taça Brasil de 1968. Com esse currículo foi o treinador brasileiro tricampeão mundial no México. Também comandou na Copa do Mundo da Alemanha, mas sem conseguir ser campeão, ficando em quarto lugar. Teve outras passagens pelo Glorioso, mas mais apagadas comparadas com a do final da década de 60. Quando o Brasil venceu o Mundial de 1994 era auxiliar do técnico Carlos Alberto Parreira, afirmando com orgulho que é o único do mundo que se sagrou tetra. Comandou mais uma vez a Seleção Brasileira na Copa da França, em 1998, perdendo a final para os donos da casa. Foi homenageado com uma estátua no Botafogo.

COMO JOGARIA O TIME DO BOTAFOGO?
Mário Jorge Lobo Zagallo, que é mais conhecido por ter estrela do que propriamente grandes qualidades como estrategista, não teria muito trabalho pra treinar um timaço como o Botafogo de todos os tempos. O goleiro Aymoré Moreira manteria a sua agilidade, coragem e precisão no gol botafoguense, mesmo sendo baixinho. O lateral-direito Rildo empregaria a sua forte marcação, sem precisar subir ao ataque, pelo ponta-direita que a equipe teria. A zaga seria um misto de firmeza e técnica, com Nariz e Sebastião Leônidas. Pela lateral-esquerda Nílton Santos marcaria os seus adversários com categoria, dando inclusive uma ajuda à zaga, já que havia atuado como quarto-zagueiro e também subiria ao ataque, pois a equipe não teria um ponta-esquerda fixo. O meio de campo seria extremamente criativo, com Martim cumprindo a sua função de marcador na sua posição e auxiliando os exímios lançadores Didi (responsável principal pelas cobranças de faltas e pênaltis) e Gérson na armação das jogadas. Pela ponta-direita, Garrincha, no auge da técnica e forma, exploraria ao máximo a sua velocidade e dribles em cima de qualquer marcador que aparecesse na sua frente, cruzando para o genial Heleno de Freitas e o matador Quarentinha (que chegou a jogar como ponta-esquerda) finalizarem para o gol adversário. Tendo companheiros como Nílton Santos, Martim, Didi, Gérson e Mané Garrincha, seria difícil Heleno reclamar que a bola não lhe chegasse redonda aos seus pés.

RESERVA: Wagner, Josimar, Wílson Gottardo, Octacílio e Marinho Chagas; Alemão, Geninho e Paulo César Caju; Jairzinho, Nilo e Carvalho Leite.

SEBASTIÃO WAGNER DE SOUZA E SILVA (Nova Iguaçu, RJ, 20/01/1969) - Jogou no Botafogo de 1993 a 2002, disputando 412 partidas. Após um bom início no Bangu, foi contratado pelo Botafogo, iniciando a grande fase da sua carreira. Goleiro de ótimos reflexos que se deu bem com a camisa botafoguense, honrando por quase 10 anos. Uma das suas maiores atuações aconteceu na final do Campeonato Brasileiro de 1995, com o time conquistando o seu primeiro Brasileirão, já que na época a Taça Brasil não era considerada com o mesmo valor. Ganhou também a Copa Conmebol (1993), o Campeonato Carioca (1997) e o Torneio Rio-São Paulo (1998). Uma das suas decepções foi perder a final da Copa do Brasil de 1999 para o Juventude, um dos títulos que o clube não tem. Mesmo sendo considerado um dos melhores goleiros do futebol carioca no seu tempo, nunca chegou a ser convocado pela Seleção Brasileira, pois a concorrência era muito grande.

JOSIMAR HIGINO PEREIRA (Rio de Janeiro, RJ, 19/09/1961) - Jogou no Botafogo de 1981 a 1989. Lateral-direito revelado em Marechal Hermes, já que General Severiano estava demolido na ocasião. Atuou no início como meia-direita, chegando a jogar pela lateral-esquerda. Na posição que o consagrou tinha boas qualidades, pois marcava, driblava, chutava com força e subia bem ao ataque, executando bons cruzamentos, algo fundamental para os laterais dos anos 80. Mas não era um jogador tão brilhante, ainda mais tendo jogadores como Leandro e Aldo na concorrência. Quando o craque flamenguista foi cortado por Telê Santana pra disputar a Copa do Mundo de 1986 acabou sendo convocado às pressas e desempenhou um bom papel, com direito a dois golaços, um contra a Irlanda do Norte e outro em cima da Polônia. Mesmo o Brasil não sendo campeão, voltou ao país consagrado. Mas jamais repetiu as mesmas performances, apesar de continuar sendo convocado pela Seleção Brasileira, sendo que curiosamente nunca mais marcou gols pelo Brasil, ficando no seu currículo aqueles dois, do Mundial do México. Continuou absoluto no Botafogo e estava na equipe quando foi conquistado o Campeonato Carioca de 1989, após 21 anos. No seu início de Flamengo chegou a fazer boas partidas. Foi campeão cearense em 1992 como jogador do Fortaleza.

WILSON ROBERTO GOTTARDO (Santa Bárbara d’Oeste, SP, 23/05/1963) - Jogou no Botafogo de 1987 a 1990 e de 1994 a 1996, marcando 13 gols em 354 partidas. Zagueiro-central com estilo xerifão. Era uma espécie de líder da defesa, gritando com os companheiros e muito forte nas divididas, mas também conhecido por ser um jogador violento. Começou a carreira no União Barbarense, time da sua cidade e com uma boa passagem pelo Guarani. Chegando ao Botafogo, teve pela sua frente uma equipe que buscava um título e uma torcida traumatizada. Demorou um pouco, mas conseguiu conquistar o Campeonato Carioca de 1989, sagrando-se bicampeão no ano seguinte. Da mesma forma que Josimar, foi jogar no rival Flamengo, conquistando mais um Estadual, o de 1991. Após uma rápida passagem pelo Marítimo, de Portugal (seu único clube fora do Brasil), retornou ao Botafogo e após um breve período no São Paulo, venceu o Brasileirão de 1995 com o time da Estrela Solitária. Teve uma boa fase no Cruzeiro, sendo bicampeão mineiro em 1997/98 e da Libertadores de 1997. Encerrou a carreira no Sport com o título pernambucano em 1999.

FRANCISCO DAS CHAGAS MARINHO – MARINHO CHAGAS (Natal, RN, 08/02/1952) - Jogou no Botafogo de 1972 a 1977. Considerado o melhor lateral-esquerdo brasileiro dos anos 70. Vindo do norte brasileiro, em uma época que o futebol de lá revelava grandes times e jogadores (campeão potiguar pelo ABC em 1970 e da Taça Eraldo Gueiros com o Náutico no ano de 1972), viveu no Botafogo os seus melhores momentos no futebol, mesmo sem ser campeão. Cumpria as suas funções de marcador, mas destacou-se mais pelo toque de bola, com chutes de fora da área e por sua objetividade, que resultaria em uma boa escola de futuros laterais brasileiros. Visualmente e no temperamento combinava bem com os anos 70, pois era um loiro cabeludo e rebelde e também por não gostar de se prender a esquemas táticos. No seu tempo era o maior ídolo botafoguense depois de Jairzinho, sendo que os dois eram os únicos representantes do clube na Copa do Mundo de 1974. No Mundial da Alemanha era uma sensação devido à sua presença no ataque, algo mal interpretado pelo goleiro Leão, que o considerou culpado pelo gol do polonês Lato na decisão do terceiro lugar, porque não estava na defesa pra fazer a cobertura. Vendido ao Fluminense em 1977, fez um bom ano nas Laranjeiras. Outra boa passagem foi no São Paulo, conquistando o Estadual de 1981 e considerou injusto não ter sido chamado pra disputar a Copa da Espanha no ano seguinte, com Júnior sendo o titular, que sempre disse ser fã de Marinho Chagas.

RICARDO ROGÉRIO DE BRITO – ALEMÃO (Lavras, MG, 22/11/1961) - Jogou no Botafogo de 1981 a 1987. Volante dinâmico e de bom preparo físico, com capacidade pra jogar em outras posições, sempre atuando com destemor. Iniciou a carreira no clube mineiro Fabril, sendo contratado pelo Botafogo no início da década de 80. No Glorioso jogou em uma fase nada gloriosa, pois o time atravessava uma fila com mais de 10 anos sem um título importante. Mesmo assim era um dos destaques da equipe, sendo convocado por três treinadores da Seleção Brasileira, que foram Carlos Alberto Parreira, Evaristo de Macedo e Telê Santana. Desempenhou um bom papel na Copa do Mundo de 1986, indo jogar no Atlético de Madrid. Teve uma excelente passagem pelo Nápoli ao lado de Careca e Maradona, ganhando a Copa da Itália (1989), da UEFA (também em 1989) e o Campeonato Italiano (1990). Passou a ser constantemente convocado pelo técnico brasileiro Sebastião Lazaroni, indo disputar o Mundial da Itália em 1990, mas o mau desempenho da equipe e a desclassificação contra a Argentina (por sinal a melhor partida do Brasil na Copa) fez com que muitos jogadores do time não fossem mais vistos com bons olhos pra defender o seu país, inclusive ele. Encerrou a carreira no São Paulo, onde, como jogador veterano, jogou relativamente bem. Tornou-se empresário.

EPHIGÊNIO DE FREITAS BAHIENSE – GENINHO (Belo Horizonte, MG, 10/09/1918 – Rio de Janeiro, RJ, 21/06/1980) - Jogou no Botafogo de 1940 a 1954, marcando 115 gols em 422 partidas. Um dos grandes craques do Botafogo da década de 40. Veio do Cruzeiro pra brilhar em General Severiano. Meia cerebral que era conhecido como “Arquiteto do Jogo”, pois através da sua grande habilidade com a bola nos pés e incrível facilidade para lançar os companheiros, desenhava todas as ações do ataque. Muitos dos gols de Heleno de Freitas aconteciam através de brilhantes jogadas criadas por ele. Teve poucas chances na Seleção Carioca, não por falta de talento, mas por ter sido contemporâneo de uma brilhante geração de meias, como Tim, Perácio, Zizinho, Jair, Lelé, Maneco, Ipojucan e Didi. Na Brasileira, infelizmente, nunca foi convocado. Um momento importante da sua vida foi servir o Exército Brasileiro na Batalha de Monte Castelo, em plena Segunda Guerra Mundial. No ano de 1948 realiza o seu grande sonho, conquistando o Campeonato Carioca, sendo que da mesma forma que fazia com Heleno, serviu com passes açurados o centroavante Sílvio Pirillo pra marcar os seus gols. No final de carreira teve a satisfação de formar a ala direita com o futuro gênio Garrincha e de dar os seus precisos lançamentos a Carlyle e Dino da Costa, outros dois grandes goleadores, pra marcarem os seus gols durante o Estadual de 1953. Jogou 14 anos no Botafogo e só não está na meia-direita (sua posição mais marcante) de todos os tempos por causa do genial Didi.

PAULO CÉSAR LIMA – PAULO CÉSAR CAJU (Rio de Janeiro, RJ, 16/06/1949) - Jogou no Botafogo de 1967 a 1972 e em 1977/1978, marcando 83 gols em 263 partidas. Maravilhoso jogador e um dos mais polêmicos de todos os tempos. Revelado no berço de craques que é General Severiano, iniciou-se profissionalmente em 1967 na ponta-esquerda, posição essa que tinha grandes concorrentes no futebol carioca, como Lula (Fluminense), Eduardo (America) e Aladim (Bangu). Logo em seu primeiro ano já foi convocado pela Seleção Brasileira em um jogo comandado pelo técnico Mário Jorge Lobo Zagallo, que era seu fã, pois lembrava o seu estilo de jogo, recuando para o meio de campo, apesar de Caju ser bem mais habilidoso. Na mesma temporada, com Zagallo como treinado, foi campeão carioca pelo Botafogo, sagrando-se bi no ano seguinte, vencendo também a Taça Brasil. Era um dos principais jogadores botafoguenses daquele fabuloso time e constantemente convocado pra defender o Brasil pelos técnicos Aymoré Moreira e João Saldanha. Foi um reserva de luxo na Copa do Mundo de 1970, chegando a atuar nas três primeiras partidas. Nos anos seguintes teve mais oportunidades como titular, mas mesmo sendo um craque muitos achavam que o ponteiro esquerdo deveria ser o Edu, do Santos, que tinha um estilo mais rápido e driblador, do qual não agradava muito à Zagallo. No Fogão, mesmo sendo ídolo, a falta de títulos começaram a pesar e acabou sendo negociado ao Flamengo no início de 1972. Foi titular absoluto do Mundial da Alemanha. Retornou ao Botafogo em 1977, jogando em um bom time que ficou invicto por várias partidas, mas sem conseguir ser campeão. Dentro e fora de campo era um jogador polêmico. Mesmo passando por vários clubes e sendo vitorioso em muitos deles como o Flamengo (campeão carioca em 1972), Fluminense (bicampeão estadual de 1975/76) e Grêmio (campeão mundial no ano de 1983), foi no Glorioso que passou a se destacar no futebol e que viveu os melhores momentos da sua carreira. Pode afirmar com orgulho que jogou nos quatro grandes do Rio de Janeiro, pois também atuou no Vasco em 1979. E teve passagens pelo Olympique, da Franca, em 1974/1975, Califórnia Surf (1980) e pelo Corinthians no ano de 1981.

JAIR VENTURA FILHO – JAIRZINHO (Duque de Caxias, RJ, 25/12/1944) - Jogou no Botafogo de 1963 a 1974 e em 1981/1982, marcando 189 gols em 413 partidas. Uma glória da história do Botafogo. Desde 1958 era gandula do time, admirando e aprendendo os grandes craques da época, jogando depois no time juvenil tricampeão carioca em 1961/62/63. No Campeonato Pan-Americano de 1963 teve grandes atuações, lançando-o em definitivo ao futebol. Passou a jogar no time principal na mesma temporada pra ter uma missão complicada, que era substituir Mané Garrincha devido às contusões que já estavam bem presentes. Jairzinho chegou a jogar com o gênio das pernas tortas, pois atuava em todas as posições do ataque, devido ao seu estilo de jogo, com dribles, grandes arrancadas e faro de gol. Depois da conquista do Torneio Rio-São Paulo de 1964 (dividido com o Santos), passou a ser constantemente convocado pela Seleção Brasileira. Em 1966 vence mais um Rio-São Paulo, também dividido com o Santos, além de Corinthians e Vasco, levando-o para a sua primeira Copa do Mundo, a da Inglaterra, mas teve a infelicidade de fracassar com todo o grupo. Na segunda metade da década de 60 atingiu o ponto alto da carreira, jogando em outro timaço do Fogão, ao lado de Manga, Gérson, Leônidas, Rogério, Roberto Miranda e Paulo César Caju, faturando títulos importantes como o bicampeonato carioca de 1967/68 e a Taça Brasil em 1968. Continuava jogando constantemente pelo Brasil, mas devido à contusão do companheiro Rogério Hetmanek ganhou a camisa 7 pra disputar o Mundial do México, sendo o artilheiro brasileiro do Tricampeonato Mundial, marcando gols em todos os jogos e um dos destaques daquele grande time, passando a ser conhecido como “O Furacão da Copa”. Mais do que nunca consagrado, infelizmente não teve muita sorte de conquistar títulos no Botafogo, batendo na trave com os vices do Carioca de 1971 e do Brasileirão em 1972. Pela Seleção Brasileira continuava tendo destaque (autor do gol do título da Taça Independência de 1972) e foi para a Copa do Mundo da Alemanha dando esperanças de repetir o mesmo desempenho do Mundial anterior, jogando bem, mas longe de ser o Furacão. Após uma rápida passagem pelo Olympique de Marselha retorna ao Brasil pra iniciar no Cruzeiro outra boa fase da sua carreira (chegou a jogar uma partida pela Seleção Brasileira contra o Flamengo, em 1976), sendo conhecido como “O Furacão da Toca”, ganhando o Campeonato Mineiro de 1975 e a Libertadores no ano seguinte. Depois a sua carreira começou a declinar, tendo passagens por times e países inexpressivos futebolisticamente naquela época, como a Portuguesa de Acarigua (campeão venezuelano em 1977) e o Jorge Wilstermann (campeão boliviano de 1979). Após algumas passagens pelo futebol amazonense retorna ao Botafogo, o clube do seu coração, sendo inclusive homenageado no dia 03 de março de 1982 com um jogo de despedida pela Seleção Brasileira, empatando com a Tchecoslováquia em 1 a 1 no Morumbi. No mesmo ano encerrou a carreira no Nove de Outubro, do Equador.

NILO MURTINHO BRAGA (Rio de Janeiro, RJ, 03/04/1903 – 05/02/1975) - Jogou no Botafogo de 1919 a 1922, 1923 e de 1927 a 1938, marcando 190 gols em 201 partidas. Mesmo sendo revelado nos quadros inferiores do Fluminense em 1916, sempre foi botafoguense, transferindo-se para o seu clube de coração dois anos depois, estreando pelo time principal na temporada seguinte. O novato jogador rapidamente tornou-se o maior ídolo da torcida, jogando tanto nas meias quanto como centroavante. Sua paixão pelo Glorioso era tanta, que quando teve desentendimentos com a sua diretoria aceitou jogar por duas vezes no Sport Club Brasil, um time que não teria como enfrentar o seu time, pois jogava em outra divisão do Campeonato Carioca. Contratado pelo Fluminense em 1924 devido à saída do seu tio de General Severiano e conquistando no mesmo ano o seu primeiro título carioca, formou uma grande dupla de ataque com Preguinho, sendo artilheiro da competição e marcando gol inclusive no seu Botafogo. Nilo era pequeno de tamanho, mas tinha muita habilidade pra driblar e finalizar, tornando-se um dos principais jogadores cariocas da década de 20. Foi várias vezes convocado pela Seleção do seu Estado, ganhando em muitas ocasiões o Campeonato Brasileiro de Seleções. Também era presença constante na Brasileira, chegando a jogar a Copa do Mundo de 1930, no Uruguai, a primeira da história. Quando retornou a General Severiano, em 1927, iniciava a mais brilhante fase da sua carreira, realizando no mesmo ano uma exuberante apresentação na goleada de 9 a 2 em cima do Flamengo, marcando 4 gols. Mas os seus melhores momentos no Fogão em termos de títulos foram nos anos 30, formando uma inesquecível dupla com o “também” terrível goleador Carvalho Leite, conquistando os Estaduais de 1930, 1932/33 (artilheiro da competição)/34 (os três últimos foram pela AMEA)/35 (FMD). Mesmo sendo um craque, começou aos poucos a perder espaço pra novos talentos, em especial para o craque Leônidas da Silva, que jogou com ele na conquista do título de 1935. Encerrou a carreira no dia 16/05/1938, pouco antes da Copa do Mundo, como herói botafoguense. É o quinto maior goleador do Botafogo e quem marcou mais gols em média (0,94 por jogo).

CARLOS DOBBERT DE CARVALHO LEITE (Rio de Janeiro, RJ, 26/05/1912 – 19/07/2004) - Jogou no Botafogo de 1929 a 1941, marcando 275 gols em 326 partidas. Começou a carreira no Petropolitano Foot-Ball Club, mas foi em General Severiano que se tornou uma lenda, sendo um dos maiores centroavantes da história do clube. Tinha mais características de matador (no seu tempo não existia o termo) que de um estilista, pois era rápido, chutava bem com ambas as pernas, excelente cabeceio e acreditava em todos os lances. Jogou a Copa do Mundo de 1930 e estava no grupo do Mundial de 1934. Seu azar foi ser contemporâneo do melhor centroavante da época, que era Leônidas, perdendo assim espaço na Seleção Brasileira em Copas, pois ainda jogava em outras partida de menor importância. Já no Botafogo era um rei, ganhando os mesmos títulos cariocas que venceu o companheiro Nilo. Curiosamente foi artilheiro dos campeonatos que o Glorioso não conquistou, nos anos de 1936, 1938 e 1939. É o segundo maior goleador do clube em todos os tempos, permanecendo como o principal durante mais de 20 anos, sendo apenas superado na década de 60 por Quarentinha. Quando encerrou a carreira teve um sensacional substituto, o magistral Heleno de Freitas. Formado em medicina, trabalhou de graça no clube do seu coração.

OS ESQUECIDOS
Nos últimos anos tem sido comum lermos e ouvirmos que o Botafogo não é um clube tão “glorioso” quanto os outros grandes do futebol brasileiro. Criou-se um novo conceito para se analisar a grandeza de uma agremiação, pois o fato de um time não ter a Libertadores da América parece que é o suficiente para que toda a sua famosa grandeza vá por água abaixo. Mas muitos se esquecem que é justamente no auge do timaço de Garrincha é que havia um concorrente como o Santos de Pelé, que também estava no seu ápice. Outro detalhe é que na época a equipe botafoguense dava mais valor às excursões ao exterior, algo que rendia um bom dinheiro aos cofres do clube. Afirmo isso pela dificuldade que tive em montar o meu Botafogo de todos os tempos, não por falta de opções, pelo contrário, mas pela quantidade de grandes jogadores que me deparei, tentando ser o mais justo possível e respeitando os vários momentos da sua história. Mesmo sendo chamado de “Glorioso” com apenas seis anos, o Botafogo fez jus ao apelido anos depois, pelos fantásticos jogadores que vestiram a sua camisa.
No gol botafoguense jogou o famoso Manga. Ele fez parte dos expressivos times dos anos 60, sendo considerado um dos melhores goleiros da sua época. Impunha-se pelo seu tamanho e personalidade, realizando grandes defesas, tendo uma satisfação ainda maior de desafiar o grande rival Flamengo. A partir de 1966, por causa da sua atuação na Copa do Mundo de 1966, contra Portugal, com o Brasil sendo eliminado, passou a ser questionado. No clube não foi diferente, sendo que sofreu questionamentos do comentarista João Saldanha, afirmando que havia entregado uma partida, resultando em uma satisfação que não aconteceu, já que o acusador estava armado. Saiu de forma triste do Botafogo. Opto mais pelo goleirão no Internacional de todos os tempos, já que não estou repetindo os jogadores. Outros bons goleiros que ficaram de fora é Oswaldo Baliza (campeão carioca em 1948) e o arqueiro atual, que é o Jefferson.
Na segunda metade da década de 30 a lateral-direita botafoguense teve o craque Zezé Procópio, considerado o melhor da posição no Brasil, disputando a Copa do Mundo de 1938, mas como pretendo montar o Villa Nova de todas as épocas, será lá que irei escalá-lo. Pelo lado esquerdo Canalli brilhou na primeira metade dos anos 30, conquistando vários Estaduais, disputando o Mundial de 1934 e chegando a jogar a partir de 1937 com o companheiro Zezé Procópio. Outro grande nome da lateral-direita foi o de Waltencir, que foi bicampeão carioca de 1967/68 e da Taça Brasil em 1968, sendo o terceiro jogador que mais jogou pelo Botafogo, atrás apenas de Nílton Santos e Garrincha.
Osmar Guarnelli foi o grande zagueiro botafoguense dos anos 70, conhecido pelo seu estilo xerifão, mas não teve a sorte de ser campeão. Já no Atlético Mineiro cansou de ganhar o Estadual, algo que aconteceu em todos os anos que esteve lá, de 1979 a 1983.
Muitos bons volantes ficaram de foram, como Gérson dos Santos (campeão carioca em 1948), Pampolini (vencedor dos Estaduais de 1957 e 1961/62, além do Torneio Rio-São Paulo) e Carlos Roberto (ganhou todos os títulos possíveis da segunda grande geração dos anos 60). O próprio Seedorf merece ser lembrado, pelo maravilhoso ano de 2013 que fez pelo Botafogo.
De 1976 a 1983, anos difíceis para o Botafogo, brilhou o meia Mendonça. Era um excelente jogador, mas também muito pé-frio, algo que foi confirmado na Portuguesa de Desportos e Palmeiras, sendo vice-campeão paulista em 1985 e 1986. Fez grandes apresentações com a camisa botafoguense, em especial no Campeonato Brasileiro de 1981, quando o seu time eliminou o fortíssimo Flamengo (campeão do ano anterior), com Mendonça dando dois dribles sensacionais no lateral-esquerdo Júnior e marcando o gol mais bonito da sua carreira.
Na eterna posição de Garrincha, a ponta-direita, brilhou o jogador Paraguaio, que foi campeão carioca em 1948. E teve também o irreverente Maurício, autor do gol do título carioca de 1989.
Mesmo tendo uma lista boa de atacantes escolhidos no meu Botafogo de todos os tempos, muita gente boa ficou de fora, no quilate de um Flávio Ramos (um dos fundadores do clube e principal jogador dos títulos de 1907 e 1910), Mimi Sodré (principal jogador dos anos 10, marcando o gol de inauguração do estádio General Severiano), Octávio (amigo e companheiro de Heleno de Freitas, grande jogador da década de 40), Sílvio Pirillo (consagrado centroavante do Internacional e Flamengo, que teve a dura de missão de substituir Heleno, sagrando-se campeão carioca em 1948), Dino da Costa (goleador botafoguense no início da década de 50 e que posteriormente brilhou no futebol italiano), Amarildo (meia-esquerda famoso do início dos anos 60, que substituiu Pelé no Bicampeonato Mundial de 1962 e que teve uma boa passagem pelo Milan e Fiorentina), Roberto Miranda (outro excelente centroavante da década de 60) e o folclórico Túlio Maravilha (muito sucesso e gols nos anos 90 e principal responsável pela conquista do Campeonato Brasileiro de 1995).
E na ponta-esquerda brilhou nos anos 30 e início dos 40 o genial ponta-esquerda Patesko, que disputou os Mundiais de 1934 e 1938, sendo considerado um dos melhores da sua posição no futebol brasileiro.

De fato a lista botafoguense é muito imensa, sendo que provavelmente alguns outros grandes nomes eu tenha deixado de fora. Os torcedores do Botafogo tem que de fato se orgulharem, pois o seu clube é uma verdadeira constelação de craques, que jamais ficou a uma única “estrela solitária” e fez jus ao apelido de “Glorioso”, que há mais de 100 anos o acompanha.

Foto: Portal TT

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