No dia 26 de novembro de 2005, o Tricolor entrava em campo para enfrentar o Náutico em um jogo de muita pressão

No dia 26 de novembro de 2005, o Tricolor entrava em campo para enfrentar o Náutico em um jogo de muita pressão

Era 26 de novembro de 2005. O Grêmio entrava em campo para enfrentar o Náutico em um jogo de muita pressão. A temporada e quem sabe o futuro do clube estavam em jogo. Retornar à Série A e se estabilizar financeiramente com cotas de TV maiores e rendas de jogos. Ou permanecer na Série B e ver só crescer a crise. Mal sabiam os gremistas que o desfecho dessa história seria celebrado ano após ano. Uma vitória com sete jogadores em campo que simbolizou o título completa 10 anos nesta quinta-feira. Como último grande feito do Grêmio. 

Era a terceira fase da Série B. O último ano antes da implantação do sistema de pontos corridos. Oito equipes classificaram-se para a segunda etapa, de onde os dois melhores de cada chave avançaram para um quadrangular decisivo. O Grêmio foi quarto colocado na fase regular, avançou em segundo no Grupo A da segunda fase e teve pela frente Santa Cruz, Portuguesa e Náutico no quadrangular. 
 
O duelo no Recife era a última rodada. Antes do jogo, a classificação apontava um cenário bem complicado. Com duas vitórias e três empates, o Grêmio era líder, mas não tinha nada garantido. Precisava de ao menos um empate. Vitória garantiria o título. Mas o Náutico dependia apenas de si, também. Vencendo estaria na Série A. 
 
Paredes pintadas e pressão 
 
Antes do jogo, o Náutico tomou algumas atitudes que tornaram a partida ainda mais complicada aos gaúchos. O vestiário visitante foi pintado no dia da partida. O insuportável cheiro de tinta atrapalhou a concentração. Os jogadores foram impedidos de fazer aquecimento no campo, seu vestiário estava com cadeado e a chave havia "sumido". Tudo em retaliação a falta de água ocorrida no vestiário visitante no jogo de ida, no Olímpico. 
 
Na noite anterior ao duelo, o Grêmio mudou-se de hotel para fugir do "foguetório" realizado pelos aficionados do time pernambucano. Na chegada ao estádio, o veículo que levava a delegação gaúcha foi cercado e alvo de todo tipo de xingamento.
 
Bola rolando e muita confusão
 
Com bola rolando o drama tomou conta. Náutico pressionando o jogo inteiro. Logo aos 32 minutos, pênalti para os donos da casa. Bruno Carvalho bateu e acertou a trave. Era o dia do Grêmio, mas de uma forma inimaginável. 
 
No início do segundo tempo, o lateral esquerdo Escalona foi expulso.Em seguida, o lance que mudaria o jogo. Um chute que iria ao gol defendido por Gallato acabou na mão de Nunes. Mais um pênalti para o Náutico. A marcação gerou revolta e muita confusão. Os jogadores do Grêmio cercaram e derrubaram o árbitro Djalma Beltrami. Nunes e Patrício foram expulsos por agredir o juiz. A Polícia Militar precisou entrar em campo para evitar briga generalizada. Mas a confusão seguiu. 
 
De um lado estava o meia Marcel, arrancando a grama da marca do pênalti para dificultar a cobrança. De outro estava Domingo, recebendo cartão vermelho por tirar a bola das mãos do árbitro, que a colocaria na marca. Grêmio com seis jogadores de linha e mais o goleiro, 25 minutos de jogo parado, e ainda mais ao menos 10 de bola rolando pela frente. Além da cobrança que precisava ser feita. 
 
A direção gremista não deixou os jogadores abandonarem a partida. Sair de campo sinalizaria derrota. Enquanto isso, o Santa Cruz vencia seu jogo contra a Portuguesa e comemorava o título da Série B. Apenas o empate servia. 
 
Ídolo do Náutico, o centroavante Kuki não se apresentou para a cobrança. Entregou a bola ao zagueiro Ademar. Mas era dia do Grêmio. Gallato saltou e defendeu. Seria necessário suportar pressão com quatro jogadores a menos. 
 
Recuado, o Grêmio via o Náutico tentar de toda forma o gol. Até que a bola parou nos pés de Anderson. Com 17 anos, o rápido meia disparou pela esquerda e só parou nas redes. Gol gremista, 1 a 0, o título da Série B, a garantia de futuro do clube e um jogo que entrou para história. 
 
Se por um lado a Batalha dos Aflitos, que virou DVD e até hoje vive na memória dos torcedores, garantiu que o Grêmio conseguisse recuperação, o aniversário é ambíguo. Foi o último grande feito do clube, que não conquistou outros títulos com tanta relevância desde então. Nesta quinta-feira, a celebração não é apenas da Série B daquela temporada, mas do espírito que marca o clube chamado de "Imortal", e que só honrou este apelido no gramado dos Aflitos naquela tarde. 
 
O Grêmio treinado por Mano Menezes foi campeão da Série B com: Gallato; Patrício, Domingo, Pereira e Escalona; Nunes, Sandro Goiano, Marcelo Costa e Marcel (Anderson); Ricardinho (Lucas) e Lipatin (Marcelo Oliveira).
 
Foto: UOL

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