Entrevista do jornalista Maurício Sabará com a Alessandra Santos de Oliveira, campeã mundial em 1994 e medalha de prata nas Olimpíadas de 1996

Entrevista do jornalista Maurício Sabará com a Alessandra Santos de Oliveira, campeã mundial em 1994 e medalha de prata nas Olimpíadas de 1996

MAURÍCIO SABARÁ: Alessandra, desde o início você se dedicou ao basquete ou

havia algum esporte que gostava mais e/ou praticava? Conte sobre o seu início.

ALESSANDRA: Não, na realidade minha iniciação esportiva deu numa escola pública
onde eu pratiquei nas aulas de educação física de tudo um pouco. Handebol, vôlei, atletismo, basquete. Eu era uma criança grande, então isso fazia com que eu fosse chamada para tudo. Mas as primeiras modalidades que descartei foi atletismo e handebol.

MS: Quando você era criança (década de 80) brilhavam no basquete feminino brasileiro
a Paula e a Hortência. Com tais referências, consideradas por muitos as maiores no bola
ao cesto do país entre as mulheres, acredito que tenha sido fácil ser influenciada. O que
dizer sobre essas duas formidáveis atletas?

A: As duas são espetaculares e uma honra e orgulho ter jogado com ambas e ter feito parte de um momento glorioso do basquete feminino com elas. Agradeço-as de coração por isso, pois além de me ajudar profissionalmente, também me ajudaram na minha vida pessoal.

MS: Relate o seu início profissional, atuando na cidade de Jundiaí.

A: Na realidade, eu comecei a jogar seriamente basquete em Piracicaba, pois em São Paulo, a cidade na qual eu nasci, fazia vôlei federada no São Paulo Futebol Clube e basquete a nível escolar, gostava das minhas amigas de escola. Mas quando o meu pai morreu, repentinamente tudo mudou, eu e os meus irmãos jogados e um belo dia fui ao Cepeusp e conheci o Prof. José Medalha, que me direcionou ao BCN Piracicaba. Lá eu fiz um teste e passei no dia 13 de junho de 1989. Por isso meu número também é 13.
Fui dispensada no final do ano, indo para Jundiaí, onde fiquei até 1993. Foram anos incríveis, dos quais peguei a minha seleção brasileira em 91 nas Olimpíadas da Juventude. Treinei muito e me dediquei demais full time ao basquete.

MS: Você têm exatos 2 metros de altura, sendo considerada bem alta para os padrões
femininos. Devido a isso, logo de início desempenhou a função de pivô ou tentou outras
posições?

A: Sempre joguei de pivô, nunca mudei de posição.

MS: O título paulista de 1994 pela CESP Unimep de Piracicaba foi o mais inesquecível
da sua carreira por um clube brasileiro?

A: Sim, esse ano foi mágico. Jogar ao lado de Paula, Marta, Branca e cia. Foi demais! Aliás, foi o ano no qual vencemos tudo e em seleção foi o ano do nosso inédito título.

MS: É nascida em São Paulo no ano de 1973 e a partir de 1991, ainda menor de idade, começa a defender a Seleção Brasileira ao disputar as Olimpíadas da Juventude na Espanha. Relembre esse momento tão especial e a oportunidade de atuar com as já citadas Paula, Hortência e outras jogadoras importantes como a Branca, Marta, Janeth e outras. Inclusive foi um ano importante, pois o Brasil venceu o Pan-Americano de Havana (Cuba) sob os olhares do presidente Fidel Castro.

A: 91 eu já era seleção juvenil, e assisti esse jogo. Foi mágico, pois elas foram as minhas referências...

MS: Não tem como esquecer o primeiro e único título mundial da Seleção Brasileira
Feminina de Basquete conquistado na Austrália em 1994. Relembre essa inesquecível
campanha e a fantástica vitória contra a poderosa equipe dos Estados Unidos por apenas
três pontos (110 a 107), além da partida final, quando a China foi derrotada pelo placar
de 96 a 87.

A: Na minha opinião o grupo estava unido e coeso, no qual cada um desempenhava a
sua função para um objetivo único: vencer. Uma vitória coletiva, sem vaidades ou
problemas, essa campanha para mim foi inesquecível. Fui designada a defender uma das melhores pivôs do mundo, a Katrina Mckleine. Na semifinal marquei tão bem que, ao terminar o jogo, perguntei quem era, e me disseram você a marcou e não lembra quem é. E marcar a Zeng Haxia também foi uma missão dura, mas consegui, com toda a minha dedicação e esforço fiz o que era designado a mim. Jamais esquecerei esses feitos.

MS: Claro que a medalha de prata nas Olimpíadas de Atlanta (Estados Unidos) em 1996
também foram inesquecíveis. Pelas imagens é possível ver que mesmo sendo vices,
vocês estavam muito orgulhosas, pois nunca o basquete feminino do Brasil tinha ido tão
longe no torneio e, mesmo depois, tal marca não foi superada. Lembrando também que
o jogo era uma espécie de tira-teima das americanas, com a vantagem de jogarem em
casa. É possível comparar esse momento com o título mundial? Tem um carinho maior por algum deles?

A: Eram momentos diferentes, e estar ali no Georgia Dome jogando uma final olímpica,
sendo que era a segunda vez que o basquete feminino participou de um Jogos
Olímpicos, era uma emoção e uma alegria de poder estar naquele time.
São momentos diferentes, que são mais que importantes na minha vida.

MS: Outro momento inesquecível da sua carreira foi atuar nos Jogos Olímpicos de 2000
em Sidney (Austrália). E talvez o momento mais emblemático que viveu, de ter feito
um inesquecível ponto contra a Rússia. Vocês também foram muito bem, conquistando
uma honrosa medalha de bronze.

A: Aquela medalha foi a superação, pois todos pensavam que sem a Paula e Hortência
não iríamos para zona de medalha. Trabalho em grupo e equipe, ingredientes que foram adicionadas a garra, luta e superação.

MS: Seria difícil pedir para você comentar sobre toda a sua carreira no exterior, já que
atuou em muitos países, como a Itália, França, Romênia, Turquia, Espanha, Eslováquia,
Rússia, Hungria e Coreia do Sul. Cite então os momentos mais importantes vividos em
sua passagem pela Europa e Ásia. Alguns fatos curiosos?

A: Bom, são tantos, como meu primeiro ano na Itália o técnico sempre falava “magari”,
que quer dizer talvez em italiano e eu pensava que era uma pessoa e um belo dia perguntei se o tal “magari” não viria. Todos começaram a rir. Na Eslováquia dirigir na neve, uma coisa que não era acostumada, as baixas temperaturas -20 graus.
São tantas histórias e momentos. Talvez escreverei um livro futuramente.

MS: Uma honra ter atuado pela WNBA? Grandes partidas?

A: Sim, muitas, como jogar no mítico Madison Square Garden… ao chegar na quadra
deitei no chão e comecei a admirar. Pensando aquela menina que nem sabia se ia jogar basquete um dia e estava jogando no Madison!!!!!! Única coisa que me arrependo é que acho que não fui preparada para jogar na liga...Talvez teria ido melhor lá se eu tivesse dimensão do que era.

MS: Houve alguma partida e adversária que você considerou como mais difíceis?

A: Lauren Jackson, pois no mundial de 98 com 17 anos já fazia diferença….

MS: De fato teve um término de carreira?

A: Não ainda, acho que um atleta de alto nível não termina a carreira e sim ele
transforma a sua carreira em outras ramificações. Eu atualmente jogo 3x3. Estou em forma física.

MS: Quais são os seus projetos atuais e futuros?

A: Planos futuros e continuar jogando... rsrsrs. Terminar a Universidade de Educação Física para trabalhar com preparo físico na área de qualidade de vida. Ensinar e massificar a modalidade basquete entre crianças e adolescentes, na qual já
atuo na área, dando clínicas e palestras motivacionais pelo Brasil com grupos de faixas etárias diferentes. E jogando o Basquete 3x3, modalidade que hoje é olímpica. Quem sabe se estiver bem fisicamente, mais umas Olimpíadas.

MS: Sabemos o quanto há dificuldades para que haja uma devida organização para o
basquete brasileiro, que já foi o segundo esporte do nosso país, sendo de uns anos pra cá
superado pelo vôlei. Têm esperanças que ocorra melhorias em sua administração e até
mesmo volte a ser a modalidade esportiva número 2 do Brasil?

A: Bom, acho que estivemos no abismo durante alguns anos por ter pessoas que
gerenciavam sem uma noção e com outros intuitos, mas desde o ano passado, pessoas
que já deveriam estar no basquete, estão tentando mudar o cenário.
Tem muito trabalho a fazer, mas com a união da família, basquete com certeza se
reverterá o cenário. Não será imediato, mas todos com um objetivo único serão o fator imprescindível para o crescimento da modalidade.

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