Uma equipe para encher de orgulho qualquer moça bonita

Uma equipe para encher de orgulho qualquer moça bonita

Na segunda série dos melhores times cariocas de todos os tempos o Bangu é o assunto em questão. Por ser um clube de subúrbio, suas origens estão mais ligadas as pessoas humildes, devido à fábrica. Mesmo sendo apenas duas vezes campeão carioca, é considerado um dos grandes times do Rio de Janeiro, em muitas ocasiões comparado ao quatro grandes do Estado, pois teve em seu quadro excelentes jogadores e chegou a ser vice-campeão brasileiro.

MOÇA BONITA: Nome do estádio do Bangu inaugurado no dia 17 de novembro de 1947.

BANGU DE TODOS OS TEMPOS
O Bangu Atlético Clube foi fundado no dia 17 de abril de 1904, sendo o primeiro dos três futuros grandes cariocas fundados no mesmo ano, que são o Botafogo e o America. Destacou-se no início do século XX por ser um dos clubes pioneiros na inclusão de jogadores negros em seus quadros, da mesma forma que fez a Ponte Preta no Estado de São Paulo. Formava bons times, mas conseguiu faturar apenas dois títulos estaduais, em 1933 (Liga Carioca - LCF) e no ano de 1966. Montou um belo time em 1985, sendo vice tanto no Brasileirão quando no Estadual. Um dos seus orgulhos foi ter revelado os grandes jogadores da família da Guia.

TITULAR: Ubirajara, Fidélis, Luiz Antônio da Guia, Zózimo e Nilton dos Santos; Israel e Menezes; Paulo Borges, Moacir Bueno, Ladislau e Nívio. Técnico: Elba de Pádua Lima (Tim).

UBIRAJARA GONÇALVES MOTA (Rio de Janeiro, RJ, 04/09/1936) - Jogou no Bangu de 1956 a 1969, disputando 534 partidas. Sem sombra de dúvidas o maior e melhor goleiro do Bangu de todos os tempos. E é também o recordista de jogos disputados pelo clube, não somente como arqueiro, mas também dentre todos que passaram por Moça Bonita. Revelado pelas divisões de base do clube, ganhou alguns títulos. Fez parte de grandes gerações do time, desde os anos 50 ao lado de Zizinho, Zózimo, Nílton dos Santos, Decio Esteves, Calazans e Nívio, atuando depois na década de 60 com Paulo Borges, Fidélis, Aladim e tantos outros. Na sua posição era um dos melhores na época, por ser seguro, arrojado e executava ótimas defesas. O maior título da carreira de Ubirajara e do próprio Bangu foi o Campeonato Carioca de 1966. No mesmo ano jogou a sua última partida pela Seleção Brasileira. Outra conquista marcante foi o Torneio de Nova York em 1960, considerado uma espécie de Mundial. Atuou também no Botafogo Carioca e no Flamengo, conquistando no último os Estaduais de 1972 e 1974.

JOSÉ MARIA FIDÉLIS DOS SANTOS (São José dos Campos, SP, 13/03/1944 – 28/11/2012) - Jogou no Bangu de 1962 a 1968, marcando 4 gols em 202 partidas. Lateral-direito de brio, muita raça e com ótima velocidade. Formou com o ponta-direita Paulo Borges um excelente lado direito, avançando quando o companheiro entrava em diagonal. 1966 foi o seu grande ano, pois além de participar da Copa do Mundo, conquistou o título carioca, sendo que na final chegou a brigar com o flamenguista Almir. Outro clube que teve uma passagem de destaque foi o Vasco da Gama, sagrando-se campeão estadual em 1970 e brasileiro no ano de 1974.

LUIZ ANTÔNIO DA GUIA (Rio de Janeiro, RJ, 1895 – 03/11/1969) - Jogou no Bangu de 1912 a 1931, marcando 5 gols em 269 partidas. Pertencente da célebre família da Guia, que revelou grandes jogadores para o futebol brasileiro, dizia-se que foi um dos mestres do genial zagueiro-central Domingos da Guia, sendo que muitos que o viram jogar diziam que era tão bom quanto ele, tanto é que era chamado de “Perfeito”. Da mesma forma que o seu famoso irmão, destacou-se pela elegância, toque de bola e desarmava com classe os atacantes adversários, além de cabecear muito bem. Jamais jogou em outro clube, pois dizia que nunca enfrentaria o Bangu, seu time de coração. Foram quase 20 anos de amor e muito futebol, um recorde inalcançável.

ZÓZIMO ALVES CALAZANS (Salvador, BA, 19/06/1932 – Rio de Janeiro, RJ, 21/09/1977) - Jogou no Bangu de 1952 a 1964, marcando 28 gols em 466 partidas. Era irmão de Calazans, que também atuou no Bangu, como ponta-direita. Foi um dos grandes orgulhos banguenses, pois foi o jogador do time que mais atuou pela Seleção Brasileira, desde as Olimpíadas de 1952 ao bicampeonato mundial em 1962, quando era o titular da zaga ao lado de Mauro Ramos de Oliveira. Começou jogando no time principal como centromédio (atual volante), mas consagrou-se na posição de quarto-zagueiro através do seu estilo clássico, firme e excelente na colocação e no desarme. Teve um triste fim, falecendo devido a um acidente de automóvel.

NILTON DOS SANTOS (Caxambu, MG, 17/06/1935) - Jogou no Bangu de1953 a 1965, marcando 4 gols em 506 partidas. Jamais confundi-lo com o famoso Nílton Santos, lateral-esquerdo do Botafogo, que esteve presente em quatro Copas do Mundo, sendo bicampeão mundial. Mas o jogador banguense também tem uma bela história no seu clube, tornando-se o segundo atleta com mais jogos disputados pelo time de Moça Bonita. Vindo das categorias de base, tornou-se um símbolo da equipe principal, pois mesmo tendo apenas 1,67m de altura, demonstrava muita disposição em campo, sendo fundamental para qualquer esquema tático dos treinadores que passavam pelo Bangu. Muitas vezes nas excursões causava furor quando o seu nome era anunciado, com os torcedores presentes imaginando ser o famoso Enciclopédia do Futebol. O título mais importante que conquistou pelo time foi o Torneio de Nova York em 1960. Diferente do xará, nunca vestiu a camisa da Seleção Brasileira.

ISRAEL VENÂNCIO FERREIRA (Rio de Janeiro, RJ, 23/05/1962) - Jogou no Bangu de 1984 a 1989 e em 1991, marcando 3 gols em 225 partidas. Excelente volante que fez ótimas exibições pelo time no período de 1984 a 1987, através da sua boa marcação e grandes lançamentos. Estava presente na memorável equipe de 1985, vice-campeã brasileira e estadual. Mesmo estando contundido durante todo o ano de 1987 devido a uma operação do joelho, retornou bem. Jogou também no Botafogo, retornando à Moça Bonita pra jogar alguns poucos jogos.

ANTÔNIO MENEZES (Miracema, RJ, 13/06/1925) - Jogou no Bangu de 1944 a 1955, marcando 135 gols em 327 partidas. Atacante muito talentoso e principal jogador do time nos anos 40. É o quarto maior goleador do clube, participando com sucesso na segunda metade da década de 40 e na primeira da de 50. Teve grandes atuações contra o Vasco do Expresso da Vitória e Fluminense. No Campeonato Carioca de 1952 competia com Zizinho, companheiro de time, pela artilharia da competição. Quando encerrou a carreira de jogador não se desligou de Moça Bonita, pois foi trabalhar no Departamento Territorial da Fábrica Bangu.

PAULO LUIZ BORGES (Laranajais, RJ, 24/12/1944 – São Paulo, SP, 15/07/2011) - Jogou no Bangu de 1962 a 1968, marcando 108 gols em 208 partidas. Ponta-direita extremamente veloz, de arrancadas fulminantes em diagonal e goleador (artilheiro carioca em 1966 e 1967). Foi apelidado de Gazela e por rir sempre o chamavam de Risadinha. Em 1966, seu melhor ano, chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira, mas acabou não indo à Copa do Mundo. Mas o melhor ficou reservado, pois foi campeão estadual, marcando o terceiro gol contra o Flamengo na decisão, sendo que o jogo não foi até o fim, pois os jogadores flamenguistas não se conformavam com a vitória de 3 a 0, iniciando-se uma histórica briga no Maracanã. O Bangu tinha um belíssimo time. Em 1968 é contratado pelo Corinthians, anotando o famoso primeiro gol contra o Santos, vencendo o rival por 2 a 0 (Flávio fez o segundo gol), quebrando assim um tabu no Campeonato Paulista que vinha desde 1957.

MOACIR BUENO (Rio de Janeiro, RJ, 17/07/1924 – 31/12/2004) - Jogou no Bangu de 1942 a 1959, marcando 184 gols em 361 partidas. No seu início nas divisões de base chegou a se envolver em algumas brigas e perdia muitos gols, fazendo com que o seu futuro fosse uma incógnita. Foi melhorando tanto no temperamento quanto na fome de gols, fazendo com que se tornasse no time principal o segundo maior goleador da história do Bangu. Em um amistoso no dia 24 de novembro de 1946, contra o Serrano, anotou 5 gols na goleada de 10 a 3, um recorde que tem junto com outros 9 jogadores (ninguém marcou 6 ou mais). É também o quarto jogador que mais jogos disputou com a camisa banguense. Formou com Menezes uma grande dupla de ataque. Anos depois teve o Zizinho, um maestro que através dos seus passes magistrais o deixava na cara do gol. Um dos seus orgulhos foi ter feito parte da Seleção Carioca que disputou a primeira partida do Maracanã, em 1950. Ao encerrar a carreira de jogador chegou a treinar algumas vezes o seu clube do coração, que foi o único que atuou como futebolista.

LADISLAU ANTÔNIO JOSÉ DA GUIA (Rio de Janeiro, RJ, 27/06/1906 – 31/10/1988) - Jogou no Bangu em 1922/1923, de 1926 a 1936 e de 1938 a 1941, marcando 223 gols em 328 partidas. Um dos irmãos da célebre família da Guia e o maior goleador da história do Bangu. Iniciou a carreira com apenas 16 anos e teve passagens pelo Torpedo Futebol Clube (fundado por ele mesmo) e America do Rio. Na sua segunda fase por Moça Bonita (a melhor de todas as três) tornou-se o principal jogador da equipe, sendo que os seus fortíssimos chutes ficaram conhecidos como “Tijoladas”. No início dos anos 30 o Bangu chegou a ter no mesmo time os quatro irmãos (Luiz Antônio, Ladislau, Médio e Domingos), um fato raro no futebol. A grande conquista de Ladislau da Guia foi o Campeonato Carioca de 1933, vencido pela Liga Carioca (o Botafogo ganhou pela AMEA). Depois de passar pelo Flamengo, teve a sua última passagem com a camisa banguense, mas sem o mesmo faro de gol de antes. Jogou também no time dos veteranos. Um símbolo de uma época em que o negro não tinha muito espaço no futebol.

NÍVIO GABRICH (Santa Luzia, MG, 07/09/1927 – Belo Horizonte, MG, 20/07/1981) - Jogou no Bangu de 1951 a 1958, marcando 144 gols em 263 partidas. Ele veio do Atlético Mineiro, clube que foi campeão estadual em 1946/47 e em 1949/50, anotando 126 gols em 222 jogos, tornando-se o décimo goleador do time em todos os tempos. No Bangu nunca foi campeão carioca. Então ele deveria estar no Galo de todas as épocas? Mas em Moça Bonita tornou-se o terceiro maior goleador e foi peça fundamental na equipe na primeira metade da década de 50. Era veloz, driblador e chutava com muita força. Melhorava a cada ano e sempre foi muito elogiado pelo seu companheiro Zizinho.

ELBA DE PÁDUA LIMA – TIM (Rifaina, SP, 20/02/1915 – Rio de Janeiro, RJ, 07/07/1984) - Foi técnico do Bangu em 1951, de 1953 a 1956, 1959/1960, 1963/1964 e em 1980, comandando o time num total de 278 partidas. Um dos grandes jogadores brasileiros dos anos 30 e 40. Na função de treinador era um dos mais respeitados no Brasil, com passagens por várias equipes, em especial o Bangu, que foi o time que mais vezes comandou. Não foi campeão carioca, mas suas passagens são bem marcantes, passando a ser conhecido como “Estrategista”. Seu título mais importante foi o Torneio de Nova York em 1960. Foi com ele que Ademir da Guia teve as suas primeiras oportunidades no time principal. O único técnico que dirigiu mais vezes o Bangu que ele foi o também ex-jogador Moisés, com 301 jogos (1983 a 1986, 1989, 1992 e em 1994).

COMO JOGARIA O TIME DO BANGU?
Claro que tendo um técnico como o estrategista Tim, obviamente que o time do Bangu seria surpreendente. Mas pelo fato de eu não ser treinador, tentarei montar a forma de jogar da equipe baseado ao estilo dos anos 60, com dois jogadores no meio de campo e quatro atacantes. Ubirajara seria um goleiro que transmitiria tranquilidade à sua defesa, pois além de sereno era seguro nas suas intervenções. O lateral-direito Fidélis seria uma barreira, devido à sua forte marcação e excelente preparo físico, subindo de vez em quando ao ataque, dependendo das jogadas do seu companheiro da ponta-direita. Luiz Antônio e Zózimo formariam uma zaga clássica, desarmando os adversários sem cometer falta. Nilton dos Santos seria o pulmão do setor defensivo, marcando com competência e correndo por quase todo o campo. Israel marcaria e armaria pelo meio, sendo municiado por Menezes na armação das jogadas, que também subiria ao ataque, já que era um goleador por excelência. Os pontas Paulo Borges e Nívio infernizariam a vida dos laterais, pois ambos eram muito velozes e habilidosos, contribuindo para os precisos cruzamentos aos atacantes Ladislau da Guia e Moacir Bueno, os dois maiores goleadores da história do Bangu. Pelo fato de Ladislau ter um chute fortíssimo, seria o encarregado das cobranças de penalidades e faltas.

RESERVA: Gilmar, Ademir Batista, Mário Tito, Luís Alberto e Médio; Jaime e Arturzinho; Marinho, Dé, Décio Esteves e Dininho.

LEIR GILMAR DA COSTA (Marília, SP, 07/07/1956) - Jogou no Bangu de 1984 a 1988 e em 1992, disputando 280 partidas. Mesmo Gilmar não sendo o seu primeiro nome, ficou conhecido assim, já que atuava na mesma posição do lendário Gylmar dos Santos Neves. Considerado por muitos o melhor goleiro que jogou em Moça Bonita. Vinha bem recomendado do Palmeiras, por onde teve grandes momentos, mesmo sem conseguir tirar o time paulista da fila. No Rio de Janeiro apresentou maravilhosas exibições, sem jamais ser crucificado por não defender o pênalti que daria o título nacional ao Bangu em 1985, contra o Coritiba. No mesmo ano foi novamente vice, mas pelo Campeonato Carioca. Morava na concentração do próprio clube. Seu único título foi a Taça Rio de 1987, com outras soberbas apresentações. Após o Estadual de 1988 foi jogar no Nacional da Ilha da Madeira, em Portugal. Retornou em 1992, mas longe de ser o arqueiro que encantou a torcida banguense.

ADEMIR BATISTA DA SILVA (Rio de Janeiro, RJ, 28/02/1956) - Jogou no Bangu de 1974 a 1983, marcando 8 gols em 200 partidas. Revelado pelo próprio clube, ficou conhecido como o Diabo Loiro, por ter os cabelos bem claros. Jogador defensivo e cobrador oficial de pênaltis da sua equipe, mas não teve sorte de atuar em bons times. Não conseguiu levantar títulos pelo Bangu.

MÁRIO TITO (Bom Jardim, RJ, 06/11/1940 – Rio de Janeiro, RJ, 09/03/1994) - Jogou no Bangu de 1960 a 1969 e em 1972, marcando 5 gols em 326 partidas. Mais um prata da casa de Moça Bonita. Excelente zagueiro-central, esguio, que formou ótimas zagas com Joel, Ananias e Hélcio Jacaré. Mas foi com Luís Alberto, outra cria do Bangu, que fez provavelmente a melhor dupla de zagueiros da história do clube. Ambos foram campeões cariocas em 1966, o mais inesquecível título banguense. No início de 1969 foi vendido ao Cruzeiro, mas a concorrência era grande e jamais conseguiu se firmar. Retornou ao time do coração no ano de 1972, jogando apenas um jogo. Morreu jovem, vítima de cirrose hepática.

LUIS ALBERTO ALVES SEVERINO (Rio de Janeiro, RJ, 05/11/1942) - Jogou no Bangu 1963 a 1971 e em 1975, disputando 303 partidas e sem marcar gols. Da mesma forma que Mário Tito, seu grande companheiro de zaga, começou a jogar em Moça Bonita, tornando-se um dos grandes quarto-zagueiros da história, herdando a posição do inesquecível Zózimo. Mesmo sendo um bom zagueiro, foi expulso algumas vezes, tendo bastante envolvimento na histórica briga da final do Campeonato Carioca de 1966, quando o seu time foi campeão. Também foi treinador da equipe.

MAMÉDIO ANTÔNIO DA GUIA – MÉDIO (Rio de Janeiro, RJ, 19/05/1911 – 08/01/1948) - Jogou no Bangu de 1928 a 1936 e em 1943/1944, marcando 52 gols em 226 partidas. Mais um dos irmãos da legendária família formada por Luis Antônio, Ladislau e Domingos. Inicialmente jogava no ataque ao lado do irmão Ladislau da Guia, anotando a maioria dos seus tentos. A partir de 1932 passou a jogar na linha média, mais precisamente como lateral-esquerdo, tendo vivido durante quatro anos o melhor período da sua carreira, destacando-se pelo estilo clássico, boa marcação e eficiência nos passes. De 1936 a 1942 jogou com o Divino Mestre no Flamengo, atuando bem, mas sempre perseguido pelo locutor Ary Barroso, flamenguista fanático. Retornou ao Bangu em 1943, mas permanecendo mais na reserva. Suicidou-se no início de 1948.

JAIME CORRÊA FREITAS (Rio de Janeiro, RJ, 07/04/1943) - Jogou no Bangu de 1965 a 1969 e em 1974, marcando 21 gols em 146 partidas. Volante importante na conquista do Campeonato Carioca de 1966. Mesmo atuando em uma posição que não se exige muitos gols, balançou algumas vezes as redes adversárias. Além de marcar bem, também lançava com categoria e era habilidoso com a bola nos pés. Depois de uma boa passagem pelo Palmeiras, retornou à Moça Bonita em 1974, disposto a mostrar que ainda tinha futebol, mas a equipe não era muito boa, portanto não conseguiu ajudar muito.

ARTUR DOS SANTOS LIMA – ARTURZINHO (Rio de Janeiro, RJ, 13/05/1956) - Jogou no Bangu de 1982 a 1984, 1985/1986, 1987 a 1989, 1990 a 1992 e em 1995, marcando 91 gols em 252 partidas. Suas idas e vindas no Bangu já é uma prova do seu amor ao clube, mesmo passando por altos e baixos. Era um jogador lento, mas dono de um futebol técnico com facilidade pra chutar bem com ambos os pés e tabelava fácil, penetrando nas defesas adversárias. Seu melhor ano no time aconteceu em 1983, com grandes partidas, em especial nas vitórias contra o America e Flamengo. Foi coroado como o Rei Artur. Não estava presente na histórica campanha do Brasileirão de 1985, mas sagrou-se vice-campeão carioca no mesmo ano. Jogava com a camisa 8 na posição de meia-direita.

MÁRIO JOSÉ DOS REIS EMILIANO – MARINHO (Belo Horizonte, MG, 23/05/1957) - Jogou no Bangu de 1983 a 1988, em 1989/1990, 1993, 1994 e em 1997, marcando 82 gols em 229 partidas. Só não é o ponta-direita do Bangu de todos os tempos por causa de Paulo Borges, mesmo tendo muitos outros grandes jogadores na sua posição. Foi revelado no Atlético Mineiro em 1975, junto com uma grande geração do Galo, sagrando-se campeão estadual em 1976 e 1978. Jogava à moda antiga, pois era veloz, driblador, centrava bem e finaliza com facilidade. Depois de uma boa passagem pelo América de São Paulo, foi contratado pra jogar em Moça Bonita, tendo os melhores momentos da sua carreira. O ano de 1985 foi sensacional, sendo eleito o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, mas amargurando os dois vices banguenses, tanto no Brasileirão quanto no Carioca, com o time sendo prejudicado nas arbitragens, quando poderia ter se consagrado. Chegou a ser comparado à Garrincha. Ficou muito chateado ao ser cortado da Seleção Brasileira que disputaria a Copa do Mundo de 1986. Mas a grande decepção da sua vida aconteceu no Carnaval de 1988, no momento que estava dando uma entrevista para a televisão e, sem ninguém perceber, o seu filho de um ano e sete meses havia caído na piscina e morreu afogado. Depois se separou da esposa. Nunca mais a sua vida voltou a ser a mesma, tendo idas e vindas no Bangu, mas sem jamais repetir o mesmo futebol, além do seu psicológico não ser mais o mesmo. Em 2013 tornou-se auxiliar técnico do time, que sempre está com as portas abertas pra ele.

DOMINGOS ELIAS ALVES PEDRA – DÉ (Paraíba do Sul, RJ, 16/04/1948) - Jogou no Bangu de 1967 a 1970, 1980 e em 1981/1982, marcando 34 gols em 128 partidas. Um dos grandes ídolos do clube no final da década de 60. Tinha talento e luta na disputa das jogadas. Era bom driblador, preparador de jogadas e concluía bem a gol. Tornou-se folclórico em 1970 ao atirar com um gelo na bola que estava nos pés do zagueiro flamenguista Reyes que a perdeu do domínio e por ter jogado areia nos olhos do goleiro vascaíno Andrada e marcado o gol do Bangu. No mesmo ano foi pra São Januário em uma transação que não agradou os torcedores do clube, que precisava de dinheiro. Como boa parte dos antigos ídolos, retornou algumas vezes à Moça Bonita, mas da mesma forma que os demais, sem repetir o mesmo futebol da primeira passagem.

DÉCIO ESTEVES DA SILVA (Rio de Janeiro, RJ, 21/05/1927 – 25/12/2000) - Jogou no Bangu de 1950 a 1961, marcando 96 gols em 379 partidas. Um dos maiores goleadores da história do clube e quarto que mais vestiu a sua camisa. Revelado em Moça Bonita, tornou-se um dos grandes ídolos do time na década de 50, atuando ao lado de grandes jogadores como Menezes, Moacir Bueno, ZIzinho e Nívio. Além de ser goleador, era um jogador que se encaixava em várias posições, jogando até na defesa se fosse possível. Tantas qualidades fizeram com que fosse convocado pra disputar o Campeonato Sul-Americano de 1959 pela Seleção Brasileira. Como capitão ganhou o Torneio de Nova York em 1960, mas jamais conseguiu o seu grande sonho de ganhar o Campeonato Carioca.

BERNARDINO GRANADO COUTINHO – DININHO (Rio de Janeiro, RJ, 28/01/1906 – 1986) - Jogou no Bangu de 1923 a 1936 e de 1937 a 1939, marcando 54 gols em 276 partidas. Um dos grandes jogadores do time nos anos 20 e 30 e que fez parte da equipe dos Mulatinhos Rosados. Era o ponta-esquerda mais rápido da sua época. Sagrou-se campeão carioca em 1933. Chegou a ser reserva algumas vezes, tendo inclusive uma passagem pelo Vasco da Gama na década de 20. Teve boas atuações ao longo da carreira e no final dela.

OS ESQUECIDOS
O Bangu teve grandes jogadores ao longo da sua história. Os poucos Estaduais conquistados em nada desqualificam as boas equipes montadas, já que sabemos que em algumas decisões o time foi prejudicado pela arbitragem. Farei, para não me estender muito, apenas citações de nomes que foram esquecidos na minha escalação, mas reservarei um capítulo à parte a três históricos jogadores do futebol brasileiro, sendo que dois deles iniciaram a carreira em Moça Bonita (um deles também encerrou) e o outro veio ao time já consagrado, sendo que todos eles também tiveram uma passagem (ainda maior) em determinados clubes.
No gol ficaram de fora nomes como os de Luiz Alberto, Mattos e Wagner.
Na lateral-direita teve Cabrita e Márcio Nunes. E pelo lado esquerdo brilharam Ari Clemente, Belisário, Hamílton, Marco Antônio, Marquinhos, Paulo Roberto e Pedrinho.
Grandes zagueiros foram muitos. O Bangu teve Abílio, Ananias, Camarão, Darci Faria, Enéas, Jair, Joel, Márcio Rossini, Mário, Moisés, Naílton, Oliveira, Paulo Campos, Rafagnelli, Sérgio Cosme, Serjão, Sidclei e Sula.
Já pelo meio não faltaram bons nomes, como Adauto, Ademir da Guia, André Barreto, Djalma, Edílson, Eduardo, Guálter, Hélcio Jacaré, Humberto, Índio, Maciel, Macula, Marcão, Marcelo Cardoso, Mário, Mineiro, Mirim, Mococa, Nadinho, Ocimar, Paulista, Pinguela, Renatinho, Rodrigo, Roldão, Santana, Toby e Zé Maria.
Pela ponta-direita sobravam craques, como Calazans, Correia, Gilberto, Gilson, Lula, Plínio e Sonô. E pela outra ponta destacaram-se Ado, Aladim, Antenor, Beto, Marcelo e Mariozinho.
E no comando do ataque, tanto na função de meia, como na de centroavante, muitos brilharam com a camisa do Bangu. Cito Cabralzinho, Hilton Vaccari, João Rodrigo, Joel, Jorge Nunes, Luís Carlos, Luisão, Mário, Nando, Parada, Pastor, Patrick, Serginho, Válter e Vermelho.

Fausto dos Santos foi um dos principais jogadores brasileiros dos anos 30. Nasceu na cidade de Codó (MA) no dia 28/01/1905 e chegou com a família ao Rio de Janeiro em 1920. Pegou gosto pelo futebol, tanto é que no ano de 1926 foi fazer um teste no Bangu, o time dos operários e se deu bem. Jogar em Moça Bonita era uma boa opção para os jogadores negros e pobres. Com a camisa banguense jogou inicialmente como meia-direita e centroavante. No Campeonato Carioca de 1927 passou a jogar na posição que o consagraria, a de centromédio (atual volante). Marcou 4 gols em 64 partidas. Era alto, extremamente técnico, marcava de forma firme e lançava os companheiros com maestria, ou seja, era completo na sua função. As grandes atuações fizeram com que o Vasco da Gama, agremiação que também abria as portas aos negros e humildes, o contratasse no ano de 1929. Em São Januário teve, no meu entender, uma história maior, sendo campeão carioca logo no seu primeiro ano e grande destaque brasileiro na Copa do Mundo de 1930, no Uruguai. Também atuou no Barcelona, da Espanha e no Young Fellows, da Suíça. Sua carreira foi marcada por muito preconceito em relação à sua cor, tanto no Brasil quanto no exterior. Quando retornou ao seu país optou em jogar no Vasco, sagrando-se mais uma vez campeão estadual, em 1934. Teve uma rápida passagem pelo Nacional Uruguaio, mas o seu problema de tuberculose já costumava a se manifestar. Voltando mais uma vez à sua pátria, foi jogar no Flamengo, clube que já abria as suas portas aos jogadores negros como ele e depois à Domingos da Guia e Leônidas da Silva. Mas na Gávea teve desentendimentos com o técnico húngaro Dori Kruschner, que achava que deveria atuar como zagueiro, por não ter mais fôlego pra jogar na função de centromédio, devido à saúde e a idade um pouco avançada. Faleceu moço, com apenas 34 anos, no dia 28/03/1939, na cidade de Santos Dumont, MG.
Mesmo tendo iniciado a sua carreira na Rua Ferrer (antiga sede do Bangu), considero que Fausto teve uma passagem mais marcante em São Januário, portanto opto mais por ele em um Vasco de todos os tempos do que no Bangu, já que não estou repetindo os jogadores nas minhas escalações.

A família da Guia tem uma história grandiosa no Bangu. Muitos notáveis jogadores vestiram a camisa banguense, como Luiz Antônio, Ladislau, Médio e o genial Domingos, que ainda deu ao futebol um filho genial. Domingos da Guia iniciou a sua carreira em 1929 para ser uma espécie de substituto de Fausto na função de centromédio. Mas não demorou muito para começar a jogar como zagueiro-central, posição que é considerado até hoje o mais perfeito zagueiro brasileiro de todos os tempos. Destacava-se pela sua calma, fantástica técnica para desarmar os adversários, nunca dava um chutão, optando sempre em sair com a bola dominada, driblando quem aparecesse à sua frente e lançando os companheiros. Acabou não indo à Copa do Mundo de 1930 por estar iniciando a carreira e pelo preconceito que existia em relação aos clubes suburbanos. Não demorou muito para começar a ter chances na Seleção Carioca e Brasileira. Depois do título da Copa Rio Branco de 1931, em plena Montevidéu, virou destaque internacional, passando a ser conhecido como o Divino Mestre. No início de 1932 foi jogar no Vasco da Gama, mas ainda estava ligado ao Bangu. Até que em 1933 o Nacional de Montevidéu o contratou, tornando-se ídolo uruguaio, campeão nacional e ser requisitado que se naturalizasse, tamanha a admiração que causou. Mesmo sendo uma consagração na sua carreira, de certa forma foi uma pena, pois poderia ter sido campeão carioca pelo Bangu em 1933. Retorna ao Brasil no ano seguinte para conquistar o seu primeiro título carioca, o de 1934, pelo Vasco. Mais uma vez sai do Brasil, indo jogar no Boca Juniors, conquistando o Campeonato Argentino de 1935, algo que sempre o orgulhou, pois gabava-se de ser o único jogador a ser campeão nos três maiores centros futebolísticos da América do Sul. Ao ser contratado pelo Flamengo, em 1936, inicia a melhor fase da sua carreira, realizando memoráveis exibições com a camisa rubro-negra, eleito o melhor zagueiro do Mundial de 1938, campeão carioca em 1939 e Bi nos anos de 1942/43. É contratado pelo Corinthians no início de 1944. Faz ótimas apresentações com a camisa corintiana, mesmo sendo um jogador veterano, mas frustra-se por não conseguir ganhar o Campeonato Paulista. Em 1948 retorna ao Bangu para encerrar em definitivo a sua carreira, num total de 133 partidas. É citado no hino do Bangu com o seguinte trecho: “De lá, pra cá, surgiu Domingos da Guia”.
Muitos clubes gostam de brigar para ter Domingos da Guia como o seu zagueiro-central de todos os tempos. O Bangu sempre o escala, o que considero justo, por ser cria do clube e também ter encerrado como jogador de futebol, além de revelar o seu filho Ademir da Guia, o Divino. Até mesmo o Vasco da Gama, que teve o consagrado Bellini na sua posição, chegou a citá-lo em algumas enquetes. Nacional e Boca Juniors também se rendem ao seu talento. E no Corinthians muitas vezes ganhou nas votações. Mas entendo que é no Flamengo, pelos títulos, fama e auge na parte técnica, é que mereça estar como zagueiro-central de todos os tempos.

A Copa do Mundo de 1950, a única realizada no Brasil até 2014, tinha tudo pra consagrar uma fabulosa geração de jogadores brasileiros da década de 40. De todos eles o mais fantástico foi Thomaz Soares da Silva, o excepcional Zizinho, que na época era jogador do Bangu. Torcedor do America quando criança, não teve oportunidade de jogar em seu clube do coração. Foi tentar a sorte na Gávea no final de 1939, que tinha lendários jogadores, em especial Domingos da Guia e Leônidas da Silva, dos quais haviam sido pouco antes campeões cariocas. Agradou de imediato o técnico Flávio Costa, pois logo em seu primeiro treino mostrou tudo o que sabia, além de não ter medo de cara feia. No ano seguinte já era titular do Flamengo, iniciando no time uma carreira maravilhosa, conquistando o primeiro Tricampeonato da sua história, em 1942/43/44. Presença constante na Seleção Carioca e Brasileira com louvor, pois era o melhor jogador do país, considerado por muitos o mais completo antes do surgimento de Pelé, um armador de técnica refinada, dribles desconcertantes, que armava e concluía igualmente bem, chutes com efeito e preciso nas cobranças de faltas e penalidades. Com tanto talento assim foi apelidado de Mestre Ziza. Quando o Brasil foi campeão sul-americano em 1949, realizado no próprio país, Zizinho estava mais do que consagrado. Surpreendeu-se após o Torneio Rio-São Paulo, em março de 1950, ao saber que a diretoria flamenguista negociou o seu passe. Saiu magoado do clube. Não chegou a estrear pelo Bangu, pois ainda tinha compromisso com a Seleção Carioca (campeã brasileira daquele ano) e Brasileira (a fatídica Copa do Mundo, quando foi eleito o melhor jogador da competição). De 1950 a 1955 fez maravilhosas partidas pelo Bangu, sendo vice-campeão carioca em 1951 e artilheiro do certame no ano seguinte. Infelizmente não conseguiu ser campeão estadual. Muitos acharam um absurdo a sua não convocação para o Mundial de 1954, na Suíça. Nos anos seguintes, devido a uma má fase e contusões, não era mais o mesmo. Mas muitos torcedores do Bangu o consideram o melhor jogador que vestiu a camisa banguense. Quando foi contratado pelo São Paulo na reta final do Campeonato Paulista de 1957, alguns acharam ser um erro, por já ser um jogador com 36 anos, mas ao lado do ponta-esquerda Canhoteiro deu um novo ritmo à equipe e conseguiu o seu último título, sendo inclusive cotado pra disputar a Copa de 1958, na Suécia, quando o Brasil finalmente foi campeão do mundo. Seu último clube foi o Audax, do Chile, encerrando a carreira em 1962.

Mesmo sendo muito importante no Bangu, jogando de 1950 a 1957 e marcando 123 gols em 275 partidas, não há possibilidade de trocar pela sua passagem no Flamengo. Apesar de ter saído magoado da Gávea, foi lá que surgiu para o futebol, sendo tricampeão carioca e atuando por mais de uma década. Alguns questionarão que na Copa do Mundo de 1950 ele era jogador do Bangu, mas sua estreia pelo time aconteceu no dia 23 de julho de 1950, sete dias depois da final do Mundial. Mas a sua média de gols pelo Bangu é maior que no Flamengo (146 gols em 318 jogos).

Assim termina o meu Bangu de todos os tempos, com tantos grandes nomes e que teve em Castor de Andrade um dos seus mais importantes presidentes. Sua torcida é considerada a sexta maior do Rio de Janeiro, se bem que no seu hino, composto por Lamartine Babo, compositor de todos os hinos carioca, é citada uma frase que desmente “um pouco” tal número: “A torcida reunida até parece a do Fla-Flu, Bangu, Bangu, Bangu”!

Foto: Portal TT

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