Porco Evair ganhou água, carinho e virou alvo de selfies no Estádio Olímpico. Foto: Reprodução/PFC

Porco Evair ganhou água, carinho e virou alvo de selfies no Estádio Olímpico. Foto: Reprodução/PFC

O "porco Evair", até o último domingo, não tinha nome, era apenas um porco sem nenhuma fama específica. O nome de um dos grandes artilheiros da história do Palmeiras veio quase sem querer, enquanto ele se juntava a torcedores palmeirenses na chegada ao estádio Olímpico de Goiânia para o jogo contra o Atlético-GO. Exibido em rede nacional no meio da multidão, ele estava tranquilo em seu chiqueiro até o sábado à tarde, quando foi emprestado para roubar a cena. 

O professor aposentado Lucio Nunes da Mata, 62 anos, pegou o leitão da chácara de um amigo para representar um dos clubes do coração numa rara aparição em Goiânia. As câmeras da transmissão oficial do Premiere não demoraram a achar o animal no meio da torcida palmeirense, que ocupou cerca de 70% dos 12 mil lugares disponíveis na vitória por 3 a 1 sobre o Atlético-GO.

"Peguei o porco na chácara do Daniel, amigo meu. Moro em um sobrado, aí não tem como ter ele lá. Um dia antes fui lá pegar o porquinho, o Daniel sempre me arruma. Consegui com ele levar um galo em um jogo do Anápolis, e agora ele arrumou um porquinho", contou Lucio, em entrevista ao UOL Esporte.

Sim, Lucio já havia entrado com animais nos estádios em Goiânia, e ganhou fama local por isso. No último domingo, porém, a ousadia ganhou proporções ainda maiores. Antes mesmo de entrar no local do jogo, o professor aposentado e o seu porco chamaram a atenção de torcedores, que tiveram participação decisiva na definição do nome do suíno de apenas 60 dias.

"Tinha falado Vair. Aí um rapaz lá colocou assim: ´vamos fazer uma homenagem ao Evair´. Os torcedores do Palmeiras falaram do Evair e ficou assim. Foi batizado como Evair lá no momento. Tiramos muitas fotos, muitas selfies", afirmou o torcedor, que divide a paixão entre Palmeiras, Anápolis (cidade que reside) e Botafogo.

Evair recebeu tratamento especial dentro do Estádio Olímpico, segundo Lucio. O professor, já acostumado a lidar com a companhia animal em jogos de futebol, se defendeu de quem criticou a ação de levar um porco para um ambiente totalmente hostil – no caso, um estádio com mais de 12 mil pessoas.

"Ele ficou no meu colo, fiquei dando água. Até tentei ficar na sombra, mas era difícil ontem, viu? Fiquei dando água para hidratar. Os torcedores do Palmeiras me ajudaram muito comprando água, tudo para hidratar o porco. Estava muito quente. O porco estava tranquilo. Teve um momento que fiquei sentadinho, dando carinho, coçando ele, quase sem ver o jogo. Foi uma manifestação de carinho que tive, e muitos outros torcedores também", assegurou ele, que foi bastante criticado pela ideia. 

No fim da experiência inédita, o suíno voltou para o chiqueiro. "Estava cansado, mas levei ele lá. De noite já estava no seu chiqueirinho, tranquilo, lá na chácara do Daniel", encerrou Lucio, que promete levar o novo companheiro de estádio na próxima visita palmeirense a Goiânia.

Mas, afinal, como um porco entrou no estádio?

Revistas em estádios são constantemente criticadas. Em Goiânia, como em todo o Brasil é a Polícia Militar a responsável pela entrada dos torcedores nos estádios. Lucio diz que passou tranquilamente pelos oficiais, mesmo com a nada discreta companhia de um animal.

"Sempre quando o Anápolis joga, levo o galo. Quando o Palmeiras jogou com o Atlético-GO no Serra Dourada, levei o porco. Agora de novo levei o porco, entrei tranquilo", disse o professor, antes de detalhar o momento em que encarou um policial militar antes de entrar com "Evair" no estádio.

"O policial revistou e disse: ´é o mascote do Palmeiras´. Viu o porquinho e brincou que era o símbolo do Palmeiras", acrescentou.

A versão de Lucio contradiz a da Polícia Militar. Em conversa com a reportagem, o Major Arantes, do Batalhão de Eventos, disse que Lucio não passou pelo bloqueio dos policiais. "A PM é responsável pela vistoria nas catracas que têm a entrada do público geral, o pagante. O que posso adiantar é que ele não entrou por estas entradas".

Caso contrário, na versão do policial, Evair não se tornaria o xodó das arquibancadas em Goiânia. "No Estatuto do Torcedor, não tem esta proibição. Óbvio que tem a questão do que um animal pode causar, como até levantar a hipótese de maus tratos. Quando tomamos conhecimento do caso [a presença de Evair], tentamos localizar, mas não o encontramos mais. Se tivesse de passar pela PM, seria barrado", sentenciou o major da PM.

"Queria eu que todos os problemas se resumissem a um porco"

Enquanto o Batalhão de Eventos justificou a entrada do animal, a Federação Goiana de Futebol atribuiu aos clubes a responsabilidade pela organização do espetáculo. O presidente André Pitta, em conversa com a reportagem, tratou o caso como folclore.

"Queria eu que todos os problemas do futebol se resumissem a um porco. Por um lado, é uma bobagem aquilo lá. O torcedor queria fazer parte da brincadeira, o porco é o mascote do Palmeiras e tal... Não vejo maldade. Agora, para a imagem, poderiam alguns falar que ´Ah, em Goiás é roça, é bagunça e até levam porco para o estádio´. Isso aí vem de gente que não conhece Goiás", comentou o dirigente, já acostumado à presença animalesca nos estádios.

"Tínhamos um torcedor que ia nos jogos do Goiás com um papagaio, periquito. O cara andava com ele o tempo todo. Não sei o que deu na cabeça de um cara para levar um porco para o estádio, mas não vejo como maldade ou coisa ruim. Tem tanta gente que vai para o estádio brigar. Um porco não é um fator negativo", acrescentou.

Atlético-GO se incomoda com o porco Evair

Se a Federação Goiânia se absteve de críticas, o Atlético-GO reclamou da presença do porco Evair no estádio durante a derrota para o Palmeiras. O clube, na voz do diretor de futebol Adson Baptista, tratou o caso como "piada" e questionou a revista feita pelos policiais no jogo de domingo.

"Foi questão na revista mesmo, o cara conseguiu passar. É um negócio que me surpreendeu demais quando vi. Pedimos satisfação para a PM, notificamos eles e a Federação Goiana. Vamos fazer uma sindicância sobre este assunto. É inadmissível. Não pode acontecer em um evento de grande porte e televisionado para o mundo todo", sentenciou.

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