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No dia 16 de maio de 2015, a redação do Portal Terceiro Tempo recebeu o seguinte e-mail de Magalhães Jr, sobre sua visita a Itália. Abaixo, confira:

Oi, Milton. Tudo bem?

Tenho andando meio sumido, eu sei. Inclusive dei um tempo nos meus textos no Portal Terceiro Tempo. Achei que era o momento de parar e me reciclar.

Mas escrevo porque imagino que você vá gostar da história.

Tive a oportunidade de viajar recentemente para a região da Campania, na Itália. A região, que tem Nápoles como capital, conta com cidades tais como Sorrento, Avelino (onde jogou Juari), Salerno, Caserta, Benevento, Pompéia, etc.

Cheguei a Salerno no mesmo dia em que a Juventus de Turim tornou-se campeã italiana. O máximo que ouvi nas ruas foi “bella roba”, grande coisa, num tom bem jocoso. Isso porque não cabe na cabeça de um italiano torcer para um time que não seja da sua cidade ou, ao menos, da sua região.

Mas vi uma efervescente Salerno, cidade com pouco mais de 150 mil habitantes. As ruas todas enfeitadas de grená e branco, cores da equipe da Salernitana. Parecia clima de copa do mundo. E, para eles, era. Tudo aquilo era porque a Salernitana havia conquistado o título... da Série C. Eram inúmeras as faixas e cartazes que mostravam o cavalo marinho, símbolo da Salernitana (e que está em seu distintivo), com a inscrição: “B – Torna Sua Maestà”.

Sim, a cidade respirava a volta da Salernitana – equipe que faliu e foi obrigada a suspender atividades anos atrás – à Série B.

Em cada cidade que vou procuro comprar a camisa do time local. Tenho camisa do Veneza, do Perúgia, até do Sorrento. Mas não consegui comprar a da Salernitana. Motivo: o povo da cidade comprou todas.

— Não estamos com Sua Maestà porque ela venceu e sim porque ela representa a nossa cidade – me disse uma vendedora.

Embora a tevê italiana apresente jogos dos times das Séries A e B, as emissoras locais transmitem os jogos da Salernitana.

Fiquei com inveja. Juro. Tudo bem que não dá para comparar a cidade de São Paulo com seus 13 milhões de habitantes com a Itália com seus 60 milhões.

Também não dá para se comparar a história. Na Itália, todos têm rixa com todos. Os do norte esnobam os do sul (a quem chamam de “terrone”). O milanês fala mal do turinês, assim como o fiorentino fala mal do napolitano que fala mal do siciliano.

Na própria região há rixa. No sábado que cheguei, por exemplo, jogavam Salernitana e Casertana pela última rodada da Série C. E me dizia um garçom do restaurante Porto Vecchio:

— É o derby local. Temos que vencer. Assim a Casertana sequer poderá participar dos play offs.

Já um motorista de táxi dizia o inverso:

— Tomara que dê empate. Assim a Casertana tem chance. É preciso que a Salernitana, o Avellino, o Nápoli, a Casertana estejam sempre bem. É pelo bem da a Campania.

O jogo acabou 1x1 e foi realizado no Stadio Arecchi, que tem lugar para 38.000 pessoas (maior que a nossa querida Vila Belmiro), com transmissão direta. E ao final do jogo os jogadores tiveram direito a tapete vermelho, sendo chamados um a um ao centro do campo (acompanhados de filhos e filhas) para receberem o carinho do povo. Após essa festa no campo teve início outra pelas ruas. Era o povo saudando seu time e sua cidade.

Milton, você imagina algo assim aqui no Brasil? Com exceção de um Santa Cruz, um Payssandu ou um Clube do Remo, não consigo imaginar.

Infelizmente a proliferação dos times de aluguel (o querido Juventus da minha Mooca, que acaba de subir pra série B de São Paulo, é um exemplo disso), juntando-se o péssimo espetáculo que se promove no Brasil (e hoje a comparação é on-line dado o excesso dos jogos – em sua maioria, bons – dos campeonatos europeus) parece fazer com que o sentimento fique restrito a alguns times da elite. Daí explicar-se por que alguém do Amazonas torce pelo Flamengo  ou alguém de Araraquara torce pelo Cortinthians.

Penso que tudo isso vai muito além, e é muito anterior, aos 7x1 da Copa.

Tomara que venha ainda um futuro em que possamos voltar a ver as cidades em festa comemorando a vitória dos verdadeiros times que as representam. Assim como já foi um dia.

Grande abraço e me desculpe pelo logo e-mail.

Maga

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