Espanha e Brasil decidiram no dia 30 de junho de 2013 o título da Copa das Confederações. Um confronto com curiosos contrastes.

Espanha e Brasil decidiram no dia 30 de junho de 2013 o título da Copa das Confederações. Um confronto com curiosos contrastes.

Espanha e Brasil decidiram no dia 30 de junho de 2013 o título da Copa das Confederações. Um confronto com curiosos contrastes. A Seleção Espanhola é considerada a melhor do mundo nos últimos 5 anos, sendo a campeã da Copa de 2010, além de duas Copas da UEFA em 2008 e 2012. Já a Brasileira foi a melhor por muitos anos, principalmente na Era Pelé, quando sagrou-se tricampeã mundial, conservando essa inédita marca por 12 anos, ganhando mais 2 títulos muitos anos depois, sendo a única equipe do planeta a ser pentacampeã. Atualmente os espanhóis deslumbram os amantes do bom futebol, mas, como muitos talvez não imaginam, já montaram grandes equipes no passado, tendo destaque em alguns mundiais, sendo em certas oportunidades eliminada por grandes adversários, desclassificada por erros de arbitragem e chegando a eliminar equipes que eram a sensação da Copa do Mundo.
O futebol na Espanha foi introduzido no século XIX, pois como o esporte surgiu na Inglaterra, invariavelmente era nos países europeus que ele surgia primeiro, indo anos depois à América do Sul.
A seleção do país começou a se destacar de fato a partir das Olimpíadas de 1920, quando ficou com a medalha de prata, coincidindo com o início da ascensão do goleiro Ricardo Zamora. Considerado até hoje como o maior do país e um dos maiores de todos os tempos, destacava-se no gol do Real Español, Barcelona, Real Madrid e depois no Nice, da França. Mas o seu maior destaque aconteceu na Copa do Mundo de 1934, junto com a seleção do seu país. No Mundial da Itália, a Espanha apresentava uma equipe que estava entre as favoritas ao título, com um forte trio de defesa, formado por Zamora, Ciriaco e Quincoces, além de atacantes como Iraragorri, Langara e Regueiro. Seu primeiro jogo, uma partida eliminatória, enfrentou justamente o Brasil de Leônidas (se consagraria mesmo no próximo mundial), vencendo-o pelo placar de 3 a 1, com o melhor goleiro do mundo defendendo um pênalti cobrado pelo brasileiro Waldemar de Brito, um craque e futuro descobridor de Pelé, eliminando o time brasileiro. Mas o grande desafio espanhol aconteceria no próximo jogo, enfrentando os italianos, donos da casa, naquela que é considerada a maior partida da Copa, sendo que no primeiro prélio aconteceu um empate de 1 a 1, fazendo-se necessário uma segunda partida (a de desempate, que Zamora não atuou), com a Azzurra ganhando pelo placar de 1 a 0, levando o seu técnico, Vitorio Pozzo, a fazer uma propaganda em relação à fibra dos seus jogadores, frutos do regime fascista do ditador Benito Mussolini. O título italiano foi muito valorizado, eliminando adversários de peso, como a Áustria (outra sensação do torneio com o seu maravilhoso time do centroavante Mathias Sindelar) e derrotando na final a Tchecoslováquia do goleiro Planicka (chamado de Zamora do Leste) e do artilheiro Nejedly. Coube aos espanhóis voltarem mais cedo pra casa. Dizia-se que eram fortes candidatos ao título se disputassem a Copa do Mundo de 1938, mas a Guerra Civil Espanhola adiou os planos.


O apelido Fúria surgiu na Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil. A Itália participou do Mundial sem a sua força maior, já que ano anterior, o time do Torino (base da seleção) morreu num trágico acidente aéreo. Os argentinos não foram à disputa, devido à greve no futebol do país. Os espanhóis, juntos com os anfitriões brasileiros, apresentaram-se então como os favoritos ao título. Os destaques da equipe eram o defensor Parra e os atacantes Basora, Igoa, Zarra (o principal) e Gainza. Seu principal adversário na primeira fase foi a Inglaterra, que apresentava mais fama (inventores do futebol moderno e primeiro torneio mundial que disputava) do que propriamente futebol, sendo derrotados por 1 a 0 e eliminados do torneio.  No próximo grupo, o que definiria o título, os espanhóis continuavam bem, empatando no Pacaembu pelo placar de 2 a 2 com os uruguaios, os futuros campeões mundiais. Quando foram enfrentar o Brasil, o jogo era apontado como final antecipada, já que os brasileiros vinham de uma formidável goleada por 7 a 1 contra os suecos (o maior placar da Seleção Brasileira em Copas do Mundo até hoje), repetindo o belo futebol contra a Espanha, goleando-os pelo placar de 6 a 1, considerada a maior exibição da história do Maracanã, embalando a torcida local, que cantava das arquibancadas a música As Touradas de Madrid (Eu fui às touradas de Madrid, Pararatim bum, bum bum, E quase não volto mais aqui, Pra ver Peri beijar Ceci). Os espanhóis, de cabeça quente e eliminados do torneio, perderam o seu último jogo por 3 a 1 para a Suécia, nem sequer conseguiram ficar com o bronze. Já o Brasil foi decidir o título com o Uruguai, mas aí é uma história para outra ocasião.
Somente doze anos depois, a Espanha voltava a uma Copa do Mundo. Ela havia sido desclassificada nas eliminatórias para o Mundial de 1958, contando inclusive com o centroavante argentino Di Stefano, que atuava no Real Madrid e considerado o melhor do mundo na posição, da mesma forma que a sua equipe em relação aos outros times. O campeonato espanhol era muito bom, pois também contava com o Barcelona, numa grande fase. Em 1962, a Fúria vinha renovada, contando com o talento do húngaro Ferenc Puskas, sensação da seleção do seu país em 1954 e que também defendia o Real. Além dele, havia o zagueiro Santamaria e os atacantes Del Sol, Peiró, Suárez, Adelardo e Gento. Inclusive Di Stefano estava no grupo, mas contundido, tendo condições de jogo caso os espanhóis passassem para a próxima fase. De fato era um time de respeito. Mas em campo não correspondeu às expectativas que o elenco oferecia, pois logo na estreia perdeu para a Tchecoslováquia, que seria derrota na final para o Brasil. A vitória por 1 a 0 contra o México, ainda era sinal que não estava embalada na competição. Então veio a partida contra os brasileiros, campeões do mundo na Copa anterior e que não estavam tão bem assim na disputa, mas que ficou marcada pelos erros da arbitragem, deixando de anotar um pênalti a favor dos espanhóis (o lateral-esquerdo Nilton Santos, de forma malandra, cometeu a penalidade, mas deu uns passos para fora da área, enganando o árbitro) e um lindo gol de bicicleta marcado por Puskas, que o juiz anulou, alegando jogo perigoso, que não houve. O Brasil estava classificado com uma vitória por 2 a 1 (gols de Amarildo) e a Espanha acabou eliminada, mas diferente dos mundiais anteriores, de uma forma um tanto injusta, impedindo Di Stefano de ter a chance de disputar pela primeira vez uma Copa do Mundo. O consolo da Seleção Espanhola deste período foi ganhar a sua primeira Copa da UEFA, em 1964.
Na Copa do Mundo de 1966, mesmo a Espanha contando ainda com jogadores como Del Sol, Suárez e Gento, além do lateral-esquerdo Amancio, só estava boa no papel, sendo eliminada na primeira fase.
Um novo intervalo de doze anos para que os espanhóis estivessem novamente no Mundial. Na Copa do Mundo de 1978, sem algum destaque individual, voltou a cair na primeira fase, tendo inclusive empatado com os brasileiros pelo placar de 0 a 0.
Em 1982 a Espanha realizava a sua primeira e única (até então) Copa do Mundo. Era um novo momento do país, respirando outros ares, já que o regime ditatorial de Francisco Franco havia sido destituído no ano de 1975. Mas o desempenho da Seleção Espanhola não agradou muito os seus torcedores, passando com sufoco a primeira fase, tendo que enfrentar no grupo decisivo adversários com tradição em mundiais como a Alemanha e a Inglaterra, não tendo forças para chegar à final. A torcida vibrou de fato com o Brasil, que mesmo sendo eliminado para a aplicada Itália, deixou ótima impressão no país. Outro grande evento realizado em terras espanholas aconteceu dez anos depois, realizando as Olimpíadas na cidade de Barcelona, com os espanhóis sendo campeões olímpicos no futebol.
No Mundial de 1986 a Espanha voltou a fazer um bom papel. Mesmo perdendo a partida de estreia para o Brasil, recuperou-se no seu grupo e conseguiu se classificar. Nas oitavas de final aplicou uma histórica goleada por 5 a 1 contra a Dinamarca de Michael Laudrup, apelidada de Dinamáquina, que era a seleção sensação torneio, com grande atuação do atacante espanhol Butragueño, marcando 4 gols na partida. Apontada agora como favorita, foi para as quartas de final enfrentar a Bélgica do grande goleiro Pfaff, empatando por 1 a 1, levanto o jogo à prorrogação, sem alteração no placar e sendo derrotada pelos belgas nos pênaltis.
Na Copa do Mundo de 1990, nenhuma novidade, a Espanha se classifica na primeira fase, mas é eliminada nas oitavas de final, desta vez pela Iugoslávia. A situação continuou a mesma nos dois próximos mundiais. Mas algo fantástico acontecia no país, pois na década de 90 o campeonato espanhol tornou-se o mais importante do planeta, da mesma forma que era o italiano nos anos 80, importando vários jogadores, principalmente brasileiros.
Nos dois próximos mundiais, os primeiros do século XXI, a Seleção Espanhola manteve o mesmo retrospecto, passando na primeira fase e sendo eliminada no final. O grande destaque era Raul, que por muito tempo foi o maior goleador da história da seleção de seu país. Mas no Mundial de 2006, a espinha dorsal dos próximos anos estava praticamente montada.
Após a Copa do Mundo da Alemanha, surgia a maior safra de talentos do futebol espanhol e a fase mais vitoriosa da Seleção Espanhola. Comentava-se que o campeonato do país era o melhor do mundo, mas que a sua seleção não repetia os mesmos feitos.


Ao assumi-la em 2004, o técnico Luis Aragonés decidiu mudar essa imagem, pois já na Copa de 2006 apresentava alguns jogadores que se consagrariam depois, como Casillas, Sergio Ramos, Puyol, Xabi Alonso, Xavi, Fabregas, David Villa, FernandoTorres, Iniesta e tantos outros. Ninguém reparou muito, mas em 2008 veio a primeira grande conquista desta geração, que foi Copa da UEFA, depois de 44 anos, vencendo a tradicional Alemanha na final e com um novo estilo de jogo, valorizando a posse da bola com passes precisos, num vai e vem que desnorteava os adversários, mesmo não aplicando grandes goleadas. Vicente del Bosque assume o comando da seleção, com uma mudança ou outra, mas mantendo o mesmo padrão de jogo. E o maior título da história da Seleção Espanhola aconteceu em 2010, que foi a inédita conquista de uma Copa do Mundo, decidindo o título com a Holanda, que também nunca havia vencido um Mundial. No ano de 2012 vence mais uma Copa da UEFA, derrotando agora na decisão mais um forte e tradicional, a Itália do goleiro Buffon. Times como o Real Madrid e principalmente o Barcelona de Messi apresentavam um futebol irrepreensível. Não havia dúvidas, o melhor futebol do mundo estava na Espanha, tanto em relação aos times, como de sua seleção. O próprio técnico do Barça, Pep Guardiola, declarou que o seu time está fazendo o mesmo que os brasileiros faziam com os seus antepassados, após o baile da sua equipe no Santos, quando decidiram a final do Mundial Interclubes de 2011.
Retornando ao primeiro parágrafo, a Espanha veio como favorita para a Copa das Confederações de 2013, realizada no Brasil. Obteve convincentes vitórias, obedecendo ao estilo de jogo que a vinha consagrando há cinco anos. Já a Seleção Brasileira também apresentava um bom futebol, tentando trazer a torcida ao seu lado, portanto a conquista do título lhe daria muita moral para a Copa do Mundo no ano seguinte, principalmente se houvesse uma final contra os melhores do mundo e vencessem.
Sem esquecer-se dos marcantes protestos ocorridos em cada jogo dos brasileiros. Nas semifinais, os espanhóis ganharam dos italianos nos pênaltis, acreditando-se que não era tão imbatível assim. Já na outra semifinal, o Brasil venceu o Uruguai numa grande partida. A tão esperada final aconteceria no Maracanã, com os melhores do mundo no momento contra os melhores de todos os tempos. Para surpresa de todos, o centroavante Fred marcou o primeiro gol dos brasileiros em menos de 2 minutos de partida. O Brasil não dava chance para a Espanha e quando os espanhóis estavam pra encerrar o primeiro tempo para tentarem conversar sobre uma nova estratégia, Neymar faz o segundo gol, por sinal um golaço. E logo quando se inicia a segunda fase, novamente Fred marca, anotando o terceiro gol brasileiro. Praticamente estava selada a vitória do Brasil, ainda mais quando Sergio Ramos perde uma penalidade.
O título foi conquistado de forma justa, mas em nada tirou o brilho da Seleção Espanhola, ainda considerada como uma das favoritas para a próxima Copa do Mundo, a de 2014, realizada pela segunda vez no Brasil, pois ainda possui o melhor selecionado mundial e o maior do país em todos os tempos.
Imagem: @CowboySL

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