Na Copa São Paulo de Juniores, para cada Corinthians existem dez Genus de Rondônia

Na Copa São Paulo de Juniores, para cada Corinthians existem dez Genus de Rondônia

Nessa abertura do ano-base do futebol, atrás do sonho em forma de bola correm milhares de jovens. São filhos de um Brasil que não tem fim. Simulam com as pernas mirradas a metonímia de um tempo esquecido, quando em São Paulo despencavam outros sonhadores. Dentro das quatro linhas espelham a realidade distorcida de um país barbaramente desigual, onde a riqueza concentra-se no topo do topo. E o grosso dos contribuintes se contenta com as migalhas desprezadas pelos rentistas.

Na Copa São Paulo de Juniores, para cada Corinthians existem dez Genus de Rondônia. Em campo, nem a imprevisibilidade do futebol, que despreza discrepâncias físicas, consegue colocar em pé de igualdade os meninos bem jantados do Flamengo e a molecada rastaquera do Pinheiro do Maranhão. A defasagem expressada nas goleadas é cruel.

Soam inocentes as platitudes dos comentaristas de plantão. O torneio não é o “vestibular da bola”. Não há esperança para a maioria dos meninos que se esfalfam pelos gramados carecas do interior paulista. Sua sorte já foi lançada muito antes: no futebol moderno e capitalizado, a trajetória dos futuros neymares já está demarcada desde os cueiros pela ganância dos empresários. Diante de um ou outro holofote, os meninos se celebrizam na anedota das “histórias de superação” ou pelos nomes exóticos com que foram batizados.

Aos que tombam pelo caminho, moídos pela lâmina implacável da mediocridade, resta resignarem-se com as estatísticas do desemprego. Fadados a sobreviver de um infrequente salário mínimo, suando por contratos precários e enganados por dirigentes sem escrúpulos. Os dados do último censo da CBF esfria em estatísticas a rudeza abrasadora dessa vida vagamunda.

Dos 28.203 contratos de jogadores profissionais registrados na CBF em 2015, 82,40% apontavam salários de até R$ 1000,00; 13,68%, salários de R$ 1000,00 a R$ 5000,00 e apenas 0,40%, vencimentos entre R$ 50.000,00 e R$ 100.000,00 (http://www.cbf.com.br/noticias/a-cbf/raio-x-do-futebol-salario-dos-jogadores#.WHTO_rYrLHd).

A olho nu, a paleta da cor da pele desses meninos de coragem representa mais fielmente o compósito étnico nacional, recenseado pelo IBGE, que amalgama, sem distinção, os do topo e os da base (segundo o censo de 2010, 47% da população se declarou branca, contra 53% de não-brancos, somados os pretos, pardos, amarelos e indígenas). Ou talvez, especulando um pouco além, o álbum de figurinha da Copa São Paulo decalque um outro álbum, este macabro, que, reproduzido nos jornais, deu rosto e nome aos mais de cem massacrados nas prisões brasileiras nesse interminável 2016. Tanto num como noutro, alinham-se os homens, os jovens e os pretos/pardos.  


Últimas do seu time