Cruzeiro sobra e ganha antecipa conquista do título

Cruzeiro sobra e ganha antecipa conquista do título

É claro que seria até falta de ética jornalística iniciar um comentário esportivo nesta segunda-feira sem fazer alusão ao título de campeão brasileiro de 2014 meritoriamente conquistado nesse domingo pelo Cruzeiro Esporte Clube, uma das mais tradicionais agremiações esportivas do futebol brasileiro.

Oficialmente, a Raposa chegou ao tetracampeonato com essa conquista, mas sabe-se que nessa contagem existe um título biônico representado pela antiga Taça Brasil, que a CBF resolveu considerar como campeonato brasileiro.
 
Trata-se de algo que deu um título brasileiro a mais a Raposa, mas tirou do rival Galo o orgulho do pioneirismo da primeira conquista do certame nacional, alcançada em 1971, que foi transferido para o Bahia, primeiro campeão daquele torneio extinto.

A conquista antecipada do Brasileirão consubstancia dois campeonatos consecutivos que colocam o time de Marcelo Oliveira num patamar diferenciado em relação aos demais clubes brasileiros, até pela maneira folgada como foram alcançados em 2013 e 2014.
 
Olhando a frieza dos números, não hã como ignorar que o trabalho desenvolvido nos diversos setores desse grande clube mineiro, possuidor de um numeroso quadro social e de um belo centro de treinamento, serve de modelo para outros agremiações de ponta até mais famosas, como o claudicante Flamengo e o sofrível Palmeiras da era das vacas magras pastando no Parque Antártica. 

Se por um lado o já campeão brasileiro de 2014 é visto como um clube bastante superior na comparação com seus coirmãos da série A, por outro não seria correto dizer  o mesmo em relação ao grau de superioridade do time que o levou a mais essa conquista, perante as demais equipes que brigam por vaga no G-4.   ,

Não existem grandes estrelas no plantel cruzeirense. Apenas jogares de boa qualidade  porém com a diferença de que isso acontece em quase todas as posições, o que  torna esse time uma equipe parelha do goleiro ao ponta esquerda.

Essa peculiaridade facilita bastante o trabalho do técnico Marcelo Oliveira, que  mesmo sem figurar na primeira linha dos chamados treinadores de ponta, consegue com isso fazer com que o seu trabalho de planejamento técnico e tático funcione de forma harmônica, sem peças destoantes que venham a comprometer o conjunto.

Alicerçado nessa homogeneidade, o esquadrão cruzeirense conseguiu ao longo do campeonato manter um padrão de regularidade que o permitiu alcançar vitórias não muito expressas, porém suficientes para acumular os pontos que lhe deram toda essa tranquilidade de chegar  ao título deste ano, faltando duas rodadas para o término do Brasileirão.

Comparando esse Cruzeiro que se sagrou campeão nesse domingo, após a vitória magra de 2 a 1 diante do Goiás, como aquele que venceu o título do ano passado,quer me parecer que houve uma pequena queda de qualidade do futebol da Raposa em relação a si mesma.

Trata-se de um dado que passa despercebido entre a maioria dos analistas esportivos do país, mas que conduz a  uma projeção pouco otimista acerca do futuro do futebol brasileiro na disputa da Copa Libertadores do ano que vem, que a meu ver já tem cinco participantes definidos: Cruzeiro, São Paulo,Corinthians, Internacional e Atlético Mineiro.

O motivo desse pessimismo é óbvio. Se o melhor time brasileiro de 2014 é um pouco inferior a ele própria, que foi também o melhor de 2013, logicamente o fracasso dos brasileiros no torneiro continental de 2015 tende a se repetiar

Não estou com isso tentando desmerecer a conquista cruzeirense que está sendo festejada, com sobradas razões, por sua entusiástica torcida.
 
Mas não se pode limitar a títulos e números qualquer análise séria que se pretenda fazer em torno de um time de futebol, em função do nível futebolístico que apresenta.

Para justificar a tese, basta lembrar que, nas duas vezes em que enfrentou o Cruzeiro, tanto no Mineirão quanto na Arena, o Grêmio, que é um time não mais que razoável, teve maior volume de jogo do  que o adversário, perdendo ambas as partidas no detalhe, por escores apertados (1 a 0 em Belo Horizonte, 2 a 1 em Porto Alegre)

No jogo de quinta-feira em Porto Alegre, em que o Grêmio amassou a Raposa no primeiro tempo, mas acabou perdendo de virada na segunda etapa, mesmo sem um grande predomínio do visitante, assisti das cabines de imprensa um fato emocionante, retratado na realização de um sonho de criança,  acerca do qual  eu tinha conhecimento prévio.

Vi a menina Maria Eduarda Carrion da Silveira,  carinhosamente conhecida como Duda, de 12 anos, entrar em campo de mãos dadas com o atacante Barcos e posar para a fotografia no centro do gramado com o seu time do coração.

A mãe da menina, Rafaela Carrion, havia me falado semanas atrás que sua filha, mesmo enfrentando cirurgias delicadas devido a uma doença cerebral rara de que é portadora, havia lhe dito repetidas vezes que o seu maior sonho era conhecer a Arena do Grêmio.
 
Em contato com o departamento de relações públicas do Clube, seus pais conseguiram um pouco mais do que sonhava a amada filha, em meio a tantos dissabores motivados pelas frequentes internações hospitalares.

Receberam da direção do tricolor gaúcho o convite para essa "entrada triunfal" da Duda em campo, bem como para assistirem o espetáculo futebolístico em família, comodamente instalados nas luxuosas tribunas de honra do majestoso estádio gremista.

Atitudes como essa merecem ser colocadas em destaque em veículos de grande penetração popular, como este portal esportivo, que figura entre os mais acessados do país, devido à multiplicidade de opções que oferece a seus milhões de leitores.

O gesto gremista  engrandece o conceito dessa extraordinária entidade esportiva do Pampa, que sempre primou por humanizar seus diversos setores, no sentido de atender aos apelos não só de seus associados e profissionais, mas principalmente dos que veem na logomarca Grêmio um porto seguro para a conquista de objetivos traçados. 
 

A bravura da menina Duda, que passa por cima das adversidades motivadas pela doença que a incomoda e coloca a realização desse sonho como um objetivo primordial, representa muito mais do que o emocionante quadro humanístico que protagonizou na Arena do Grêmio.

Constitui-se em exemplo raro de superação que merece ser seguido por todos aqueles que assumem a condição de derrotados diante do primeiro obstáculo encontrado pelo caminho.

E por conta disso, negam a si mesmos a chance de "virar o jogo", como fez o Cruzeiro naquele confronto em que o time da Duda perdeu em campo, mas venceu de goleada no terreno da solidariedade e do amor ao próximo.

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Foto: GRÊMIO

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