Minha proposta em escrever no Terceiro Tempo é sobre a história do boxe e quem fez parte dela. Esta é sobre a vida de Miguel de Oliveira no boxe, campeão mundial profissional, professor de Educação Física, e técnico consagrado.

Minha proposta em escrever no Terceiro Tempo é sobre a história do boxe e quem fez parte dela. Esta é sobre a vida de Miguel de Oliveira no boxe, campeão mundial profissional, professor de Educação Física, e técnico consagrado.

Minha proposta em escrever no Terceiro Tempo é sobre a história do boxe e quem fez parte dela. Esta é sobre a vida de Miguel de Oliveira no boxe, campeão mundial profissional, professor de Educação Física, e técnico consagrado.
Miguel de Oliveira nasceu em Lençóis Paulista em 30/09/1947, depois foi com a família para Agudos e em seguida para a fazenda da Glória, também interior de São Paulo. Quando ele tinha seis ou sete anos de idade foi com a família para São Manuel onde a partir dos 10 anos de idade, na Praça Dr. Pereira de Rezende (a praça principal da cidade), já ganhava seu próprio dinheiro como engraxate.
Aos domingos junto com amigos da mesma idade iam assistir a matinê no cinema da cidade que tinha o nome de Para Todos.
Aos 13 anos de idade, 1961, foi ao cinema e antes de assistir ao filme, viu o trailer do Eder Jofre conquistando o título mundial de boxe contra o mexicano Eloy Sanchez.
Miguel foi para sua casa, pegou sacos de estopa, colocou um dentro do outro e encheu de areia, pendurou o saco no pé de jabuticaba e começou a dar socos no saco, machucou suas mãos, mas o instinto de luta despertara para nunca mais adormecer.
A irmã Darci já morava em São Paulo e convidou o Miguel para vir para a cidade em 1962, ele foi autorizado pelos pais e chegou aos 14 anos de idade. Com a carteira de trabalho nas mãos, começou a trabalhar na cidade de Osasco, município próximo a cidade de São Paulo.
A empresa onde ele foi trabalhar tinha uma  academia, e ali ele começou a treinar boxe.
No campeonato da Gazeta Esportiva de 1964, Miguel de Oliveira estreou no boxe pelo Clube de Osasco: Rilsan e com a orientação do técnico Jair Ongaro, Miguel foi campeão na categoria de meio médio ligeiro (63,500 kg) e eleito o melhor boxeador do campeonato.

A partir de 1965, já na categoria de médio ligeiro, 71 kg, foi bicampeão paulista, bicampeão do Torneio dos Campeões, e bicampeão Brasileiro. Disputou os Jogos Panamericanos de Winnipeg no Canadá em 1967, e em 1968 o Latino americano de Santiago do Chile. Após ser cortado para defender o Brasil nos Jogos Olímpicos de 1968, transferiu-se para o boxe profissional.
Em 1970 venceu por nocaute no sétimo round o carioca Alvacir Dórea e conquistou o título brasileiro da categoria dos médios ligeiros no boxe profissional.
Tendo como seu agente no boxe profissional Glicério Mattei, em 1971 ingressou no ranking do Conselho Mundial de Boxe (CMB), e no da Associação Mundial de Boxe (AMB), na época existiam apenas as duas entidades.
A cada luta, cada nocaute, Miguel foi ascendendo no ranking mundial de boxe e em 09/01/1973 lutou pelo titulo mundial em Tóquio contra o japonês Koichi Wajima, Miguel surpreendeu o campeão mundial e o mundo, após 15 rounds e obter uma clara vantagem, a outra surpresa veio dos juízes que deram empate na luta que Miguel de Oliveira bateu muito mais.
Foi uma vergonha o resultado da luta e os agentes do Koichi Wajima tiveram que conceder uma revanche, e sabendo que Miguel é de um país tropical, marcaram a revanche no mês de fevereiro, período mais frio no Japão, e em 05/02/1974 Koichi Wajima venceu o brasileiro numa luta muito equilibrada.
Após as duas lutas serem analisadas pelos dirigentes do CMB, foi proposto ao campeão Koiche Wajima e aos seus assessores mais uma luta com Miguel de Oliveira, mas num país neutro, o que não foi aceito por eles, de forma que o CMB tomou a decisão de destituir o japonês do título mundial.
O título mundial da categoria dos médio-ligeiros do CMB ficou sem um campeão e o título seria disputado entre o primeiro e segundo do ranking, o primeiro era o brasileiro Miguel de Oliveira e o segundo era o espanhol José Duran.
Com apenas 26 anos de idade, experiente e no melhor de sua forma, Miguel tinha outra oportunidade, desta vez no Principado de Mônaco em 07/05/75.
Miguel junto ao seu treinador, Antônio Ângelo Carollo iniciaram a preparação no Brasil, depois de mais 12 dias em Genova na Itália onde ficou 1 kg abaixo do peso, chegou a Mônaco, onde ele e o espanhol almoçaram com o prefeito da cidade.
"Sangue, Suor e Determinação":
Miguel começou a luta vencendo o 1º round, no 2º round tiveram um choque de cabeças e Miguel abriu seu supercílio, a preocupação com o corte era grande, Miguel dominava a luta e a estratégia feita por ele e seu técnico Carollo estava dando certo, taticamente estava perfeito, dominando a luta com socos mais fortes, concentrado e muito determinado. Ao chegar em seu corner  Carollo falou: Miguel agora é só controlar, você está ganhando a luta e acabou o 13º round; o Miguel falou: já? Ao final do 15º round em decisão unânime o brasileiro era declarado CAMPEÃO MUNDIAL DE BOXE.
No vestiário após a luta e a conquista do título mundial, o agente do Miguel, Glicério Mattei perguntou a ele, e agora? Miguel respondeu, estou com fome, preciso comer.
Saíram procurando restaurante para comer às 23h a pé, era 07/05/75 e no próximo dia 11/05/75 ia acontecer o Grande Prêmio de Fórmula 1 de Mônaco, corrida vencida pelo austríaco Niki Lauda (Andreas Nikolaus Lauda), o Brasil também fez pódio com Emerson Fittipaldi em 2º e Carlos Pace em 3º.
Na semana de Fórmula 1 não circulam carros nas ruas de Mônaco, era preciso se deslocarem a pé e ao chegarem ao restaurante para comer, o porteiro perguntou se haviam feito reserva e a resposta foi que não. O porteiro pediu para aguardarem e comunicou ao maitre que quem estava querendo jantar era um campeão mundial de boxe, o maitre pediu para esperarem, e quase 30 minutos depois haviam reservado uma mesa no centro do restaurante com 12 lugares e todos os clientes do restaurante ficaram em pé aplaudindo o campeão mundial Miguel de Oliveira.
Ao voltarem para o hotel por volta das 4h30 da manhã, onde também estavam hospedados jornalistas do Brasil e de outros países para o Grande Prêmio de Automobilismo, fizeram uma mesa redonda para entrevistar o campeão mundial de boxe, Miguel de Oliveira.
O retorno de Miguel demorou sete dias, fez o seguinte percurso: Mônaco, Nice, Paris,  Roma. Pegou o avião para São Paulo que fez escala no Rio de Janeiro antes.
José Santa Rosa:
Quando o avião que o Miguel de Oliveira fez escala no Rio de Janeiro, entrou no avião o ex boxeador e técnico de boxe José Santa Rosa, o primeiro brasileiro em solo brasileiro a cumprimentar Miguel de Oliveira como campeão mundial.
Em sua chegada ao aeroporto de Congonhas, havia um caminhão do Corpo de Bombeiros que o levou até Osasco saudando a todos em carro aberto.
Há pouco mais de um mês eu tinha escutado pelo rádio a vitória do Miguel de Oliveira e para minha surpresa o campeão mundial foi a nossa concentração agradecer alguns lutadores que o haviam ajudado nos treinos, e desejar boa sorte a todos.
Sei também que nesse período que o Miguel de Oliveira disputava o título mundial, também fazia faculdade de Educação Física, isso mesmo, nos anos 70 apenas 1% da população brasileira tinha curso superior e o Miguel também cursava.
Levantava da cama às 4h30, corria para sua preparação física, saia de Osasco (cidade que escolheu para viver), ia para Santo André cursar a faculdade, voltava para Osasco para trabalhar no período da tarde na prefeitura da cidade, voltava a Santo André para treinar na academia da ADC Pirelli com seu técnico Antônio Carollo, e após o treino retornava para dormir em Osasco. Depois, no terceiro ano, foi concluir a faculdade em São Caetano, mas continuava a treinar em Santo André, trabalhar e morar em Osasco.
Meu contato com o Miguel de Oliveira ficou mais estreito no ano de 1976, na "Campanha Adote Um Atleta? na qual Luís Carlos Fabre e ele eram nossos técnicos de boxe, e durante quatro anos nos víamos de segunda a sexta-feira.
Em 1980 fui aos Jogos Olímpicos de Moscou e ao retornar das Olimpíadas, Miguel estava trabalhando no Olympia Park, a primeira academia em São Paulo a trabalhar com diversas modalidades de lutas, ginástica e musculação. 
A Cia Athlética, onde o Miguel trabalha até hoje, abriu espaço nos anos 80 para boxeadores profissionais treinarem com o Miguel de Oliveira, também começaram a treinar com ele outros pretendentes a iniciar carreira no boxe, e em 1987 a sala de boxe da Cia Athlética da Kansas tinha o maior número de boxeadores profissionais campeões brasileiros treinando na mesma academia simultaneamente, bem como alguns campeões sul americanos.
Em 1987 treinavam regularmente na academia com o técnico Miguel de Oliveira: Paulo Ribeiro (campeão brasileiro dos moscas), João Cardoso (campeão brasileiro dos galos), eu (campeão brasileiro dos penas), Francisco Thomaz da Cruz (campeão brasileiro e sul americano dos leves), Hélio Santana (campeão brasileiro dos meio-médios), Adilson "Maguila? Rodrigues (campeão brasileiro e sul americano dos pesados) e também se juntou a nós, antes de ir morar nos EUA, Francisco Carlos de Jesus, conhecido como Chiquinho de Jesus (campeão brasileiro e sul americano dos médios ligeiros). Ainda no mesmo ano a equipe de boxe amador (olímpico) da Cia Athlética sob o comando do técnico Miguel de Oliveira, foi campeã por equipe da Forja dos Campeões, e claro, Miguel foi considerado o melhor técnico do ano de 1987, período no qual ele levou Thomaz da Cruz a disputar o título mundial contra Júlio César Chavez.
Viajei com eles para essa batalha do Thomaz na cidade de Nimes, França (fui como sparring do Thomaz) e lá fiz a primeira luta da programação contra o campeão francês dos pesos pena, Bruno Jacob, lutando em casa contra o campeão brasileiro, e no 1º round acertei um upper de esquerda no queixo do francês que foi para a lona, o árbitro fez a contagem mais longa possível para ele se levantar. Machuquei minha mão direita batendo na cabeça dele no 4º round, as luvas eram de crina e de seis onças, avisei o Miguel no intervalo do 5º para o 6º round: "Miguel, tá doendo pra caramba essa mão?, e ele disse: "bate com a outra?; visão dele ou sorte minha, usei  a esquerda com um cruzado na ponta do queixo do francês, e o árbitro teve que contar até duzentos porque o francês não levantou em dez.
Além de ser o técnico do Thomaz da Cruz na disputa do mundial, Miguel de Oliveira também foi técnico de outros dois brasileiros para disputas de títulos mundiais, José Arimatéia e Ezequiel Paixão. É importante frisarmos que a melhor fase da carreira do "Maguila? foi quando ele estava sendo orientado tecnicamente pelo Miguel de Oliveira.
Perguntei ao Miguel: uma frase?
E Miguel me disse: "Faça o seu melhor?.
Imagem: @CowboySL

Contra o japonês, esta foi na primeira, empate e na segunda o Miguel de Oliveira perdeu


Durante a luta pelo título mundial em Mônaco, a qual venceu por pontos em 15 rounds o espanhol José Duran, Miguel de Oliveira no córner sendo orientado pelo técnico Antônio Ângelo Carollo e com um corte no super cílio desde o 2º round, conquistou o título mundial, com sangue, suor e determinação, do Conselho Mundial de Boxe da categoria médio-ligeiro em 1975



SOBRE O COLUNISTA

-Comentarista esportivo (boxe) da Rede Globo (desde 1994)
-Comentarista esportivo (boxe) da RedeTV de 2006 a 2008
-Comentarista esportivo (boxe) da Rede Globo dos Jogos Olímpicos de Pequim, 2008
-Comentarista esportivo (boxe) da Rede Globo dos Jogos Panamericanos Rio 2007
-Comentarista esportivo (boxe) da Rede Globo dos Jogos Olímpicos de Atenas, 2004
-Precursor do boxe feminino no Brasil em 1984
-Coordenador de cursos d... Saiba Mais

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