Chiquinho de Jesus representou o Brasil em dois Jogos OlÃmpicos, Montreal em 1976 e Moscou em 1980 onde após vencer duas lutas, perdeu nas quartas de final para o cubano Armando Martinez que foi medalha de ouro. Também defendeu nosso paÃs em dois Jogos Pan-americanos, México em 1975 e Porto Rico em 1979 onde conquistou a medalha de bronze.
Também lutou em dois Latino-americanos, em 1977 ficou com a medalha de prata e em 1979 foi ouro em Buenos Aires na Argentina. Nesse Latino-americano no Luna Park em 1979 o publicou ficou em pé aplaudindo o boxeador brasileiro, ele foi o melhor boxeador do torneio.
Em sua carreira no boxe "amador? ainda conquistou seis campeonatos brasileiros e todos os campeonatos estaduais, Paulista e Torneio dos Campeões que disputou de 1974 até 1980, ano que encerrou sua carreira no boxe não remunerado.
"Boxe amador ou não remunerado? desde a década de 70 não existe no Brasil, inúmeros boxeadores nunca receberam dinheiro algum para lutar, mas já na década de 70 os melhores boxeadores brasileiros recebiam dinheiro para defender o único clube que registrava os atletas como funcionários e esses recebiam mensalmente um salário, a A.D.C. Pirelli.
Ainda nos anos 70 foram chamados atletas da capital de São Paulo através das federações em diversas modalidades olÃmpicas, para a "Campanha Adote Um Atleta?. Somente atletas com potencial olÃmpico, isto é, atletas que os técnicos e as federações acreditavam que iriam representar o Brasil em Jogos OlÃmpicos. E no dia 10 de fevereiro de 1976 foi feito a assinatura dos contratos e apresentação dos atletas escolhidos e entre eles no boxe estava o Chiquinho de Jesus. Ele permaneceu na "Campanha Adote Um Atleta? por mais quatro anos.
A "Campanha Adote Um Atleta? foi um sucesso, empresas depositavam na conta corrente dos atletas o equivalente na época a quase três salários mÃnimos e esse pagamento era debitado nos impostos dessas empresas, algo parecido com a "Lei de Incentivo ao Esporte? nos dias de hoje.
Quatro anos depois de iniciar a "Campanha Adote Um Atleta?, um ciclo, tivemos quatro representantes do boxe brasileiro nos Jogos OlÃmpicos de Moscou, três pertenciam a "Campanha Adote Um Atleta?: Chiquinho de Jesus, Jaime Sodré de França e Sidnei Dal Rovere.
Os boxeadores da "Campanha? treinavam no perÃodo da manhã, batiam cartão de ponto até à s 8h, por volta das 8h30 iniciava-se os treinamentos técnicos com os técnicos LuÃs Carlos Fabre no comando, Miguel de Oliveira e o preparador fÃsico André Carone, todos graduados em Educação FÃsica, duas vezes por semana o treinamento terminava mais cedo, havia aulas de inglês (fazia parte da preparação dos atletas para futuras viagens representando o Brasil e também para contribuir na formação de cada um). Às 11h30 era servido o almoço e à s 12h batiam o ponto da saÃda.
A "Campanha Adote Um Atleta? nesse perÃodo contava com atletas do calibre de João Carlos de Oliveira (João do Pulo), Paulo Correia, Adauto Domingues, Wilson Davi, os irmãos Nélio e NeÃlton no atletismo, Hortência no basquetebol feminino, Rudnei, Vagner, Cadum no basquetebol masculino, Amauri e Motanaro no voleibol masculino, Ricardo Prado na natação entre outros atletas importantes no esporte brasileiro que fizeram parte da "Campanha?. Em 1978 vieram outros boxeadores que tiveram êxitos, olÃmpicos Peter Venâncio e Wanderlei Demétrio, Antonio Benedito Madureira que conquistou medalha em Jogos Pan-americanos e ainda o peso galo João Cardoso e o peso leve Francisco Thomaz da Cruz que não foram para Jogos OlÃmpicos e Pan-americanos, mas fizeram parte da equipe brasileira de boxe em outros torneios. Todos esses boxeadores acima tem em comum com o Chiquinho de Jesus o fato de participarem da "Campanha Adote Um Atleta? e defenderem a A.D.C. Pirelli.
Chiquinho de Jesus fez sua transferência do CMTC Clube para a A.D.C. Pirelli em 1978 por incentivo do seu técnico, Arlindo de Oliveira que foi conversar com o técnico Antonio Carollo para que a transferência se efetivasse.
O sonho de todo boxeador dos anos 70 e 80 era treinar na Pirelli, receber orientações do técnico mais especializado naqueles tempos, o técnico da seleção brasileira, o que viajava para outros paÃses e tinha conhecimento da metodologia do boxe olÃmpico.
Chiquinho de Jesus defendeu a Pirelli de 1978 até 1980 ganhando todos os campeonatos que disputou para o clube. Após os Jogos OlÃmpicos de Moscou fez sua transferência para o boxe profissional, mas continuou treinando com o técnico Carollo na Pirelli em Santo André.
Em 1981 após desafiar e vencer Mario Martiniano, Chiquinho conquistou o tÃtulo brasileiro do boxe profissional na categoria de médio ligeiro, tÃtulo que já havia pertencido ao campeão mundial Miguel de Oliveira.
Na sequência de sua carreira lutou contra Crispim de Oliveira, boxeador fortÃssimo que havia perdido por pontos no desafio do tÃtulo brasileiro do peso médio para LuÃs Carlos Fabre e também por pontos em 10 rounds para Miguel de Oliveira, as táticas de luta aplicadas pelo Chiquinho eram de "afogar? o adversário, partia para cima e não dava trégua, conclusão: Crispim não conseguiu voltar para o 3° round e perdeu por nocaute técnico. Invicto Chiquinho desafia o campeão sul-americano da sua categoria (69,853 kg), o argentino Walter Gomes em 1982 e conquista o cinturão dos pesos médio ligeiro da América do Sul. Quero fazer uma ressalva aqui, até o final dos anos 80 o boxeador precisava ser o campeão do seu paÃs, ser o primeiro do ranque sul-americano para desafiar o campeão sul americano que era o melhor boxeador do continente em sua categoria de peso, hoje não é necessário nem ser campeão do seu paÃs para disputar um tÃtulo sul americano.
Em 1984 Chiquinho campeão brasileiro e sul-americano foi para os Estados Unidos, naquele paÃs só lutas difÃceis, adversários durÃssimos e mesmo assim em 1988 conquistou o tÃtulo americano dos médios ligeiros vencendo Mathew Ferraro. Isso proporcionou ao brasileiro a oportunidade de desafiar o campeão mundial Julian Jackson, fenômeno que batia muito forte com ambos os punhos e estava nocauteando rapidamente todos os adversários. Mas o Chiquinho com sua habilidade técnica e suas ações táticas levou a luta até o 8º round. Para o leitor ter uma ideia Julian Jackson poucos meses depois de vencer o brasileiro massacrou outro desafiante no 2° round, esse desafiante era Terry Norris que meses depois lutou contra "Sugar? Ray Leonard também pelo tÃtulo mundial e acabou com o reinado de Ray Leonard.
A habilidade técnica defensiva, o estilo de luta que o Chiquinho de Jesus apresentava nos ringues é comparável ao de Floyd Mayweather Jr e na década passada tivemos outro boxeador espetacular com a mesma defesa, Pernell Whitaker. Todos com a mesma guarda, bem perfilados para o adversário, com a mão de trás guardando o rosto e o braço o corpo, o braço da frente abaixado com o ombro guardando o queixo e com muita mobilidade nas esquivas, o adversário não consegue atingi-los.
Chiquinho de Jesus desenvolveu essa técnica vendo outro boxeador da A.D.C. Pirelli e da seleção brasileira de boxe, Fernando Martins que em 1975 foi medalha de prata nos Jogos Pan-americanos do México.
Parece tudo fácil, inicia-se no boxe, vence os adversários, viaja para vários paÃses, suas lutas são transmitidas pela televisão em rede nacional...mas as dificuldades foram grandes.
Francisco Carlos de Jesus nasceu em 9 de maio de 1956 em São Paulo, na zona norte da capital paulista, numa famÃlia com cinco irmãos: Terezinha, Carlinhos, Zéquinha, Chiquinho e Valdelice.
Moravam no bairro do Canindé até 1961 quando perdeu seu pai, sua mãe Dona Benedita foi morar e criar os cinco filhos com muito trabalho e amor no Jardim Peri, também zona norte de São Paulo, mas sem infra estrutura naquela época.
No ano de 1970 após assistir uma luta do João Henrique da Silva, um dos maiores boxeadores brasileiros de todos os tempos, Chiquinho de Jesus foi até a Rua Santa Ifigênia, centro de São Paulo na academia do São Paulo Futebol Clube para começar a treinar boxe. Quem o recebeu na academia e começou a treina-lo foi o Sr. Aristides Jofre (Kid Jofre), pai do melhor peso galo da história do boxe mundial, Eder Jofre.
Preservando o menino muito magro, Kid Jofre não o colocou para lutar nos campeonatos da Forja dos Campeões em 1971 e nem em 1972, em São Paulo o começo na carreira no boxe é por esse campeonato. Chiquinho foi procurar outro clube de boxe para treinar, o CMTC Clube, academia de boxe na Ponte Pequena com a orientação técnica do Sr. Arlindo de Oliveira. No ano seguinte, 1973, estreou na categoria de peso leve e foi campeão da Forja dos Campeões.
Um ano depois, 1974, venceu o campeão sul-americano no boxe amador, José Luis Ribeiro e passou a integrar a equipe paulista de boxe. Em 1975 na categoria super leves, (63,500) integra a equipe brasileira nas eliminatórias para os Jogos Pan-americanos, vence e viaja para representar o Brasil no México. Em 1976 após os Jogos OlÃmpicos de Montreal, sobe seu peso para 67 kg e numa disputa sensacional contra o Cláudio Pereira vence na final do Torneio dos Campeões. Cláudio Pereira também era "Atleta Adotado? e posteriormente a essa luta, foi representar o Brasil nos Jogos Pan-americanos de Porto Rico.
No ano de 1978 o Chiquinho sobe novamente de peso (71 kg) e mais uma vez fica o titular da categoria de peso no boxe brasileiro, médio ligeiro e nessa categoria de peso encerrou sua jornada no boxe "amador? e se desligou da "Campanha Adote Um Atleta?em 1980.
Durante dois anos e meio para manter seus ganhos diariamente transitava em nove transportes públicos, saia da zona norte de São Paulo para a zona sul e da zona sul ao municÃpio de Santo André de onde retornava a sua casa na zona norte. Naquela época só existia uma linha do metrô, de Santana ao Jabaquara e também não existia bilhete único.
Entre as suas conquistas no boxe brasileiro e internacional, Chiquinho também conquistou e está casado com Cleide Diana de Jesus há 34 anos, com quem teve três filhas e são avós de um menino e uma menina, todos ainda vivem no Jardim Peri, bairro onde ele é exemplo de cidadania.
Imagem: @CowboySLChiquinho de Jesus, Sidnei Dal Rovere, uma praticante de boxe e Peter VenâncioFinal do campeonato Paulista de 1979, Chiquinho de Jesus o 8° da esquerda para a direita, ao seu lado seu adversário da final, José Maria de Oliveira que saiu dos ringues e foi ser técnico de futebol, formou a equipe da Lusa campeã da Taça São Paulo, depois foi para o Corinthians e cuidou dos Juniores, depois da saÃda do BasÃlio como técnico, Zé Maria assumiu o comando da equipe do S.C.Corinthians Pta. e conquistou a taça dos invictos, na época colocou dois jogadores do Juniores na equipe principal do "Timão", Viola e Paulo Sérgio que posteriormente foram tetra campeões mundiais pelo Brasil
Seleção brasileira de boxe do Latino Americano de 1979 em Buenos Aires, Argentina, Chiquinho de Jesus é o 6° da esquerda para a direita e o cabeludo agachado a sua frente é o colunista que escreve sobre a "Nobre Arte"Os representantes do boxe brasileiro na abertura dos Jogos OlÃmpicos de Moscou, Chiquinho de Jesus, Jaime Sodré de França, Sidnei Dal Rovere e Carlos Antunes da FonsecaNa Cidade do México em 1980 na preparação para os Jogos OlÃmpicos de Moscou, domingo dia de descanso ativo, lazer na piscina com toda a equipe: o peso médio Carlos Antunes da Fonseca, o búlgaro responsável pela nossa preparação no México Stravi Bacharov, Antonio Carollo (técnico da equipe de boxe), Wladimir Constantiner, médico e chefe da equipe, o peso médio ligeiro Chiquinho de Jesus, o peso pena Sidnei Dal Rovere e o peso super leve Jaime Sodré de França. Esta foto está no livro "Carollo do primeiro ao último round" e apesar de ter sido registrada com minha máquina fotográfica, não consta meu nome no livro. Acontece