Sempre assombrado pelo "Roubo de Moscou", João decaiu em seus pulos, separou-se, largou a farda, acidentou-se em 1981 e vieram a política, o alcoolismo e a morte

Sempre assombrado pelo "Roubo de Moscou", João decaiu em seus pulos, separou-se, largou a farda, acidentou-se em 1981 e vieram a política, o alcoolismo e a morte

Paulo Francis escreveu contra a Petrobras lá atrás.

Chamou diretores de ladrões.

Processado, morreu asfixiado pelos tribunais, em Nova York.

O tempo passou e Francis foi absolvido pela história.

Tivesse sido ouvido ontem, não teria havido “Petrolão” hoje.

Outro jornalista chamou russos de ladrões, em 1980.

Foi Orlando Duarte, em luta individual e inglória naquela Olimpíada de Moscou.

Não foi processado, mas hoje fatos “esportivos” desonestos provam que ele estava certo.

É uma “analogia factível”, como dizem os juristas.

Punidos os ladrões ontem, não teria havido esta atual “Usina Russa de Dopagem”.

Perto o máximo possível da caixa de areia, o “Gol do Salto Triplo”, o veterano e experiente Orlando Duarte cravou em 1980 que João do Pulo tinha sido roubado em dois de seus saltos espetaculares.

Recordista mundial desde 1975 no México com seus assombrosos 17m89, João Carlos de Oliveira era grande adversário de Viktor Saneyev no salto triplo.

Reforçado pela zebra Jaak Udmae, o time russo de Saneyev tinha a medalha de ouro como questão de honra nacional.

O que fizeram?

Roubaram João do Pulo!

Na cara dura, nos olhos podres e nos punhos comprados.

Seus dois saltos acima dos 18m foram “queimados” pelo “olhômetro” desonesto do fiscal de linha, hasteando a bandeirinha vermelha, impeditiva.

Um deles, tcheco, já falecido, um dia reconheceu em Praga que tinha mesmo ordem de sabotar o brasileiro.

Era fácil.

Não havia a câmera de TV de hoje que flagra, filma e fotografa o exato momento em que o bico da sapatilha do saltador toca ou não na marca fatal.

É como a bolinha amarela do tênis quando do desafio do tenista.

Bastava, em 1980, o “achômetro” do fiscal-bandeirinha naquela Olimpíada de Moscou.

Pobre João!

Nunca se conformou.

Era meu amigo.

Foi até Muzambinho-MG comigo dias depois de voltar consagrado do México em 1975, trocando grande homenagem que receberia da Rede Globo na Praça Marechal Deodoro por minha pequena cidade.

Sempre assombrado pelo “Roubo de Moscou”, João decaiu em seus pulos, separou-se, largou a farda, acidentou-se como vítima em seu Passat em 1981 entre São Paulo e Campinas, na Via Anhanguera, perdeu a perna, a carreira e vieram a política, o alcoolismo e a morte.

Culpa dos russos, esses indecentes que hoje roubam no doping e que ontem roubaram João do Pulo e o Brasil.

E é exatamente essa a bandeira a ser levantada e repetida pela mídia brasileira e mundial.

Quem ousa roubar hoje descaradamente no doping, desafiando toda a alta tecnologia atual de combate a esta maldição do esporte limpo, não teria mesmo, como não teve, temor, despudor e a falta de vergonha na cara de roubar, no “olhômetro” e no achismo visual desonesto, um saltador “lá daquele tal Brasil distante”.

Ordinários!

Mataram o João!

Frustraram os seus sonhos.

Emudeceram o Brasil.

Brasil que parou pela TV quando daqueles saltos do João em Moscou, como parava nas voltas de Senna, nos murros de Eder ouvidos pela Rádio Bandeirantes, nas passadas de Guga e nos gols de Pelé.

Ave, Paulo Francis.

Ave, Orlando Duarte.

Abraços, João do Pulo.

E xô, russos dopados dos anos 2000 ou até anteriores e ladrões de nosso João em 1980!

João do Pulo, escoltado por Milton Neves, desfilou por Muzambinho a bordo de uma "Ferrari". Mas sua medalha de ouro era a legítima dos 17,89 metros de 1975 na Cidade do México

SOBRE O COLUNISTA

Milton Neves Filho, nasceu em Muzambinho-MG, no dia 6 de agosto de 1951.

É publicitário e jornalista profissional diplomado. Iniciou a carreira em 1968, aos 17 anos, como locutor na Rádio Continental em sua cidade natal.

Trabalhou na Rádio Colombo, em Curitiba-PR, em 1971 e na Rádio Jovem Pan AM de São Paulo, de 1972 a 2005. Atualmente, Milton Neves apresenta os programas "Terceiro Tempo?, "Domingo Esportivo? e "Concentraç&atild... Saiba Mais

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