Ele levantou a taça para o mundo e hoje é alçado para o céu

Ele levantou a taça para o mundo e hoje é alçado para o céu

O brasileiro lá no estrangeiro, mostrou o futebol como ele é / Ganhou a Taça do Mundo, sambando com a bola nos pés. A famosa marchinha que contagiou os torcedores brasileiros na conquista da sua primeira Copa do Mundo em 1958 fazia referência principalmente ao show dado pelos jogadores brasileiros que jogavam no ataque, em especial à Didi, Garrincha e Pelé. Mas uma parte importante que garantiu o título do início ao fim do Mundial foi a sua forte defesa, que além dos virtuosos Gylmar e Nílton Santos, tinha também os valentes De Sordi (substituído na final por Djalma Santos), Orlando e o seu capitão, o tenaz Hideraldo Luís Bellini.

Nascido em 1930 na cidade de Itapira, interior do Estado de São Paulo, Bellini quando jovem gostava de se reunir com os amigos para ouvir as transmissões dos grandes clássicos paulistas, tendo o zagueiro-central Domingos da Guia, que na época atuava no Corinthians, como referência para que escolhesse atuar na função de beque-central. No final da década de 40 tínhamos nomes como Murilo, Mauro e do argentino Basso atuando em terras brasileiras, que eram conhecidos por jogar o fino do futebol. O zagueiro paulista adotou outro estilo de jogo, optando mais pela seriedade e sendo duro na disputa dos lances, algo que o acompanhou por toda a sua carreira.

Atuando pelo Itapirense e depois pela Esportiva Joanense foi descoberto por um olheiro vascaíno quando alguns grandes clubes de São Paulo já estavam de olho naquele promissor zagueiro. Aceitou de sair da sua tranquila cidade e de seu estado, indo jogar no Vasco da Gama em 1952, clube que tinha tido recentemente o mais forte time do Brasil, conhecido como Expresso da Vitória. A equipe ainda era muito boa, pois contava com muitos remanescentes como Danilo Alvim, Chico, Barbosa e principalmente o terrível artilheiro Ademir de Menezes. Foi campeão carioca logo em sua primeira temporada. Anos depois passou a ter ao seu lado o quarto-zagueiro Orlando Peçanha, compondo a zaga que era considerada a mais firme do Brasil na segunda metade da década de 50, sagrando-se juntos campeões estaduais em 1956.

A partir de 1957 começou a ser convocado pela Seleção Brasileira, mas foi no ano seguinte que a sorte mudou para seu lado. O comandante Paulo Machado de Carvalho queria para a Copa um time talentoso, mas ao mesmo tempo sério, pois queria levar à Suécia uma delegação organizada em todos os sentidos. Para o treinador Vicente Feola, Bellini seria um zagueiro-central ideal, pois a sua forte concorrência composta por Mauro Ramos de Oliveira e Aírton Pavilhão era de dois zagueiros-centrais clássicos e técnicos ao extremo, que muitas vezes brindavam o público com lances de efeito, mas ao mesmo tempo não tinham a seriedade que ele queria. Aírton acabou cortado, sendo que Mauro teve que ficar na reserva do zagueiro vascaíno. Dois outros trunfos para Bellini foi ser escolhido para ser capitão da equipe e ter ao seu lado o seu companheiro de zaga no Vasco, Orlando Peçanha, que tinha acabado de ser junto com ele campeão do Torneio Rio-São Paulo.

Mesmo chegando desacreditada ao país nórdico devido aos fracassos dos Mundiais anteriores, a Seleção Brasileira, com o seu valente capitão, foi se impondo perante os adversários, mostrando a mais forte defesa da Copa. Permaneceu sem tomar gols até o quinto jogo, quando teve que enfrentar a temida França do excepcional artilheiro Just Fontaine. Era o confronto da mais forte defesa contra o ataque que tinha marcado a maior quantidade de gols. No fim deu Brasil, com uma implacável goleada de 5 a 2, apresentando de fato ao mundo os gênios Pelé e Garrincha, além de contar com o magistral Didi.

Na final contra os anfitriões, novamente os brasileiros vencem pelo mesmo placar, embalando a todos com um futebol que parecia de outro planeta. No momento da entrega da Taça Jules Rimet pelo Rei da Suécia, muitos pediram ao capitão Bellini pra levantá-la para que os muitos fotógrafos pudessem fotografar. Sem saber estava fazendo um gesto que seria repetido por todos os outros capitães que seriam campeões mundiais. E no final do ano, quando o Vasco voltou a ser campeão carioca, foi pedido a ele que repetisse o gesto.

Além da fama como zagueiro, também era conhecido por ser um galã, sendo inclusive convidado pra trabalhar em Hollywood, proposta que ele recusou.

No início de 1962 é contratado pelo São Paulo Futebol Clube, que na época estava mais preocupado na construção do Morumbi do que montar um elenco competitivo. Vai à Copa do Mundo do Chile, sendo bicampeão mundial, mas contentando-se em ser reserva de Mauro Ramos, rival e amigo seu, que atuou como capitão e levantou a taça da mesma forma, homenageando-o.

Em 1966 teve a sua última oportunidade no Mundial da Inglaterra, mas acabou fracassando com todo o elenco.

Dois anos depois decide jogar em sua última equipe, o Atlético Paranaense, tendo ao seu lado o lateral-direito Djalma Santos. Ambos jogam bem e resolvem abandonar a carreira após o título estadual de 1970.

Bellini, que também era nome de um compositor italiano (Vincenzo Bellini), continua ligado ao futebol, mas como todo bom futebolista obviamente que era saudoso aos seus tempos de jogador. Recebeu uma bela homenagem com uma estátua na frente do estádio do Maracanã.

Há 10 anos é diagnosticado que está com Mal de Alzheimer. Vai aos poucos perdendo a sua lucidez, sendo que após a sua última internação é entregue a Deus no dia 20 de março de 2014. Seu falecimento comoveu os verdadeiros fãs de futebol.

Hideraldo Luís Bellini deixa um legado ao futebol mundial. O gesto que fez ao erguer a Taça Jules Rimet tornou-se imortal, sendo repetido em todas as outras edições de Copas do Mundo. É o nosso último anjo da guarda, pois se tratava do único jogador defensivo de 1958, seja titular ou reserva que ainda estava entre nós.

O nome mais ilustre de Itapira foi enterrado na sua cidade natal no sábado, dia 22 de março de 2014.

Descanse em paz, eterno capitão Bellini!

Foto: Arquivo colunista

SOBRE O COLUNISTA

Nascido em São Paulo no dia 12 de janeiro de 1976, tenho 37 anos e sou jornalista formado pela Universidade Nove de Julho (Uninove).
 
Repórter do Blog Futebol de Todos os Tempos (FTT), apresentador dos programas Jornalismo e Cidadania da allTV e 100 Anos da Radio do Corinthians.
 
Sou pesquisador, com conhecimento em diversas áreas, principalmente ligadas ao futebol no seu contexto histór... Saiba Mais

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