Foto: UOL
 
Desde que Felipão assumiu como técnico,  o Grêmio vem se impondo aos adversários, com certo predomínio que chega a surpreender.
 
Contudo,  na maioria dos jogos em que predominou, deixou essa aparente vantagem dentro das quatro linhas e saiu de campo com derrota.
 
Foi assim no Gre-Nal de estreia do novo técnico, quando conseguiu o domínio territorial no primeiro tempo e parte do segundo, mas acabou entregando  o ouro nas duas chances de gol que sorriram para o ataque colorado.
 
Assim foi também no jogo em Belo Horizonte, diante do Cruzeiro, no Mineirão, onde conseguiu nadar e morrer na praia apesar de Minas Gerais ser um estado mediterrâneo, que depende do Espírito Santo para seus banhos de mar.
 
E assim aconteceu de novo na primeira partida pela Copa do Brasil, quinta-feira na Arena, quando encurralou o Santos na maior parte do jogo e obrigou o goleiro Aranha a grandes defesas.
 
Entretanto, confirmando o refrão "quem não faz leva", perdeu de 2 a 0, em cochilos de sua defesa, repetindo o rival colorado, que havia perdido pelo mesmo placar para o Bahia, no dia anterior, em seu jogo de estreia na Copa Sul-Americana.
 
Numa comparação com o Internacional - o que é inevitável em se tratando de futebol gaúcho - pode-se dizer até que a equipe gremista tem apresentado um padrão de jogo mais consistente do que o do velho rival.
 
Isso pode parecer um paradoxo, já que,  olhando a tabela do Brasileirão,  vamos verificar que a equipe do Beira-Rio, além de ter vencido o último Gre-Nal,  está seis pontos  à frente do time de Felipão.. 
 
Ocorre que o Internacional subiu muito na tabela, vencendo jogos em que pouco fez para merecer a vitória, como aquele em que derrotou o Goiás no Serra Dourada com um gol contra do zagueiro Pedro Henrique. 
 
A exemplo daquela partida, o Inter também somou pontos preciosos, jogando pouco, nos confrontos que realizou contra  Santos e Vitória, vencendo ambos pelo escore mínimo, sem deixar boa impressão em nenhum deles. 
 
Depois dessas vitórias pouco convincentes, o esquadrão colorado "caiu na real" e afundou na Copa do Brasil, perdendo os dois jogos mata-mata para o Goiás.
 
Na sequência, foi derrotado pelo Galo, no Independência, pelo Brasileirão, e voltou a perder para o Bahia, no Beira Rio, pela Sul-Americana, por 2 a 0.
 
Repetindo esse futebol tosco pouco criativo, o Inter voltou a vencer sem convencer, ganhando sábado do fraco e desfalcado Palmeiras  por 1 a 0, no Pacaembu.
 
Valeu-se para isso de um lançamento do Goleiro Dida, que deu um chutão para a frente pegando Jorge Henrique livre para fazer o único gol da partida.
 
Por conta dessa vitória magra, o colorado gaúcho passou a ocupar a vice liderança do campeonato, 8 pontos atrás do líder Cruzeiro, que derrotou a Chapecoense por 4 a 2.
 
Contribuiu para isso o emparte do São Paulo em 1 a 1, contra o Figeuirense, que teve um recaída para melhor e resolveu complicar o time de Kaká, Pato e Ganso. .

Com o Grêmio de Felipão vinha acontecendo o inverso. O time apresentava maior volume de jogo do que os adversários, mas não traduzia essa vantagem nos gols de que precisava para vencer seus jogos.
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Mas neste domino o time gremista se "internacionalizou" e, tal como o rival do Beira-Rio, conquistou três pontos preciosos, vencendo o Bahia por 1 a 0, na Arena, sem jogar absolutamente nada.

Foi uma vitória covarde, medrosa, uma vergonha que quase fez a torcida chorar, tal a precariedade do futebol apresentado.
 
Depois que o Grêmio fez 1 a 0, mais na sorte do que na técnica, Felipão voltou com tudo ao velho estilo retranqueiro e mandou o time recuar de forma absurda, para garantir a vitória magra.
 
A partir daí, não se teve mais futebol na Arena gremista e sim um filme de terror em que a bola só rolava no campo do Grêmio, com chutões vergonhosos para todas as direções.

Para ter uma ideia do que foi o  absurdo encolhimento gremista dentro de seus próprios domínios, basta saber que o medroso Luiz Felipe Scolari substituiu Dudu, o melhor atacante do Grêmio nos últimos jogos, pelo zagueiro Bressan.
 
Aí foi dose para leão. Aquilo que já era um fiasco passou a ser uma calamidade e só restou aos gremsitas olharem para o relógio e rezar para que o Bahia, encuirralando o Grêmio, não fizesse o gol de empate, que se tivesse acontecido não seria injusto.
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Por falar em Grêmio, mais uma vez o clube mosqueteiro dos Pampas paga caro pela irresponsabilidades de maus torcedores, que foram à Arena ver Grêmio x Santos, carregando  na mente doentia  o ranço intolerável do racismo.
 
Não compactuo com os que se aproveitam de fatos como as manifestações racistas praticadas por alguns torcedores do Grêmio contra o goleiro Aranha, do Santos,  para imputar ao clube a responsabilidade desse comportamento condenável de uma minoria.
 
Só os idiotas pensam isso, querendo passar a ideia tacanha de que o Grêmio Foot-ball Porto Alegrense é racista por tradição, evocando para tanto  a história do clube que nos seus primeiros anos existenciais não admitia negros no plantel.
 
Esquecem que isso acontecia  numa época em que recém tínhamos nos livrado da mácula da escravidão e, infelizmente, ainda havia muito preconceito praticamente oficializado contra os afrodescendentes.

A discriminação era aceita de forma tácita pelo estado, haja vista que naquele tempo - e isso se prolongou até o final do século passado  - havia clubes recreativos exclusivos para negros, já que a maiorias dos demais clubes não os admitia em seus quadros sociais. .

Essa estupidez estendia-se ao esporte, pelo menos no Rio Grande do Sul, um estado colonizado basicamente por imigrantes de descendência europeia.
 
Quem conhece a história do futebol gaúcho sabe que, no tempo do amadorismo, havia uma Liga chamada "Canela Preta", integrada por equipes de jogadores negros, que eram impedidos de participar do campeonato metropolitano de então, com participação exclusiva de  agremiações de brancos.
 
Até houve uma tentativa de acabar com essa discriminação, quando a Liga dos brancos resolveu colocar em votação a possibilidade de os clubes da Liga Canela Preta participarem do campeonato.
 
A ideia contudo não vingou. E sabem por quê ? Pasmem ! Porque o  Internacional votou contra a presença de times de negros no campeonato citadino. 
 
Isso explica o motivo  pela qual o maior compositor gaúcho,  Lupicínio Rodrigues, que era negro, se tornou torcedor do Grêmio, fato que escandalizou a sociedade da época.
 
Cultivava-se naquela ocasião  a concepção idiota de que "o lugar de negro era no Internacional".
 
Ocorre que o pai de Lupicínio Rodrigues, que jogava em um dos clubes da Liga Canela Preta,  ficou decepcionado com a posição discriminatória assumida pelo Colorado gaúcho.
 
O descontentamento do pai do compositor negro foi motivo suficiente para que o filho famoso optasse por torcer pelo tricolor, tornando-se mais tarde o autor do hino do clube. 

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SOBRE O COLUNISTA

Lino Tavares é jornalista diplomado pela PUC/RS, especializado em jornalismo impresso, televisionado, radiofônico e cinematográfico, além de habilitação polivalente em Relações Públicas e Publicidade/Propaganda.

Possui, ainda, o Curso de Especialização em Comunicação Social do Centro de Estudos de Pessoal do Exécito (Rio-RJ) e o de Treinador de Futebol, pat... Saiba Mais

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