No final, os espanhóis mereceram a conquista

No final, os espanhóis mereceram a conquista

O Mundial do continente africano trouxe atletas de trinta e duas nações do planeta, que durante os últimos trinta dias correram atrás da Jabulani (que significa "Celebrar" no dialeto isiZulu): uma bola com apenas 8 gomos em 3D e com as 11 cores representantivas dos dialetos e etinias da Africa do Sul), que aterrorizou alguns goleiros e ajudou a escrever a história deste Mundial ao tomar rumos imprevisíveis em algumas partidas.

Jabulani teve sempre status de rainha do espetáculo ao ser retirada do pedestal pelo árbitro a cada partida para ganhar o centro do campo e passar, durante noventa minutos, a acalentar o sonho e a esperança (não só daqueles vinte e dois jogadores em campo, mas de milhões de cidadãos dos países em disputa) em ver sua nação alçada ao pedestal dos deuses, por representar a maior força do futebol mundial ao redor da Terra a partir do dia 11 de julho de 2010 e pelos próximos quatro anos.

A necessidade de demonstrar força e poder não é nova. Sempre existiu e faz parte da natureza humana. Eram as guerras de conquistas que cumpriam esse papel que hoje é do futebol: esporte mais popular do planeta. E é o que justifica tamanho frisson e tanto nacionalismo ao redor do mundo a cada nova edição da Copa.

Durante aqueles intermináveis 90 minutos em campo, devem ser muitos os sentimentos experimentados pelos atletas enquanto buscam incansavelmente a vitória. Alguns, inclusive, verdadeiros super-homens, dotados de talento nato, mas que não se contentaram com isso e resolveram desafiar o lugar comum, por acreditar que limites são apenas obstáculos construídos pela mente humana. 

Mais do que a vontade em mostrar ao mundo o seu melhor futebol, cada um desses atletas traz consigo a responsabilidade pelos anseios de uma nação inteira por vitórias. 

Como não perceber isso ao ver o desespero incontido do atacante da Seleção Paraguaia, Oscar Cardozo, depois da desclassificação para a Espanha, com um pênalti perdido por ele, que poderia, sim, ter mudado a história daquela partida? 

E o que dizer da tristeza silenciosa e ao mesmo tempo gritante de Schweinsteiger, ao fitar o gramado, imóvel por minutos intermináveis depois da desclassificação da Alemanha pela Espanha? 

E o ocorrido com o atacante Suárez do Uruguai? Um gigante em campo, que em um momento de extremo desespero, já nos acréscimos da prorrogação, defendeu a Jabulani com as mãos debaixo da meta, provocando a própria expulsão e a marcação de um pênalti em favor de Gana. Um pênalti, aliás, não convertido em gol, já que Asamoah Gyan chutou a Jabulani na trave. 

E o mais surpreendente, é que a perda do pênalti fez com que Suárez fosse das lágrimas de decepção e vergonha aos gritos eufóricos de alegria pelo renascimento da Azul Celeste no jogo, tudo antes mesmo que ele cruzasse as quatro linhas do campo em direção ao banco de reservas depois da expulsão. Coisas que só mesmo o futebol consegue nos proporcionar.

E assim, em meio a tanta emoção e depois da eliminação de todas as potências do futebol deste mundial, chegamos à grande final de 11 de julho de 2010 entre Espanha e Holanda: dois povos alegres, guerreiros, e acima de tudo apaixonados por futebol. 

A Espanha, dona de alguns dos times mais caros do mundo e de campeonatos primorosamente organizados, mas sem tradição em Copas do Mundo em termos de resultados. Por outro lado, é a atual campeã europeia e a seleção que vem basicamente dominando o futebol europeu nos últimos três anos. Tem uma equipe jovem e ofensiva, que se posiciona bem em campo e que tem um bom toque de bola. 

Já a Holanda, dona de um futebol também competitivo, ofensivo e de resultados (embora esta seleção não tenha o brilho de outras que eu já vi jogar), que sempre fez grandes partidas com o Brasil em Mundiais, apesar de jamais ter conseguido chegar ao título. Tanto que tem excelentes resultados ao longo da história das Copas, a exemplo dos dois vice-campeonatos: um frente à Alemanha em 1974 e outro diante da Argentina em 1978. 

Segundo alguns jogadores holandeses, a Holanda veio a esta Copa do Mundo determinada a vencer, e por isso mesmo não preocupada em mostrar um lindo futebol. Tanto que procurou ser estratégica o tempo todo, a exemplo da final, em que aceitou o jogo mais ofensivo da Espanha, fazendo uma marcação mais pesada e  procurando aproveitar os contra-ataques, nos quais Wesley Sneijder, via de regra, servia Robin van Persie ou Arjen Robben. 

Diferentemente da Espanha que veio ao Soccer City sem mudar o seu estilo de jogo, tocando a bola sempre de forma ofensiva, jogando limpo, e em busca do gol que lhe daria a vitória. E a Espanha só não foi mais eficiente por não ter o talento natural do jogador brasileiro para converter em gol as inúmeras possibilidades que teve durante o tempo regulamentar, a exemplo da Holanda, que também não soube aproveitar as chances que teve.

De qualquer modo, foi uma final bem representada, especialmente em uma Copa que não primou pela técnica, não apresentou nenhuma seleção de sonhos e nem revelou ao mundo nenhum grande craque de talento incontestável, embora tenha sido justa a eleição de Diego Forlán como melhor jogador da competição: ele fez dois gols belíssimos e foi decisivo para que o Uruguai chegasse aonde chegou depois de 40 anos.

De qualquer modo, as emoções foram muitas e não há como negar o encantamento que esse torneio causa em nós, pobres mortais, que, aliás, já foi capaz até mesmo de paralisar uma guerra durante a sua realização. 

Que outro esporte no mundo conseguiria isso? Somente o futebol.

Por isso, é muito bom saber que daqui a quatro anos essa magia toda recomeçará, e mais forte do que nunca porque a Copa de 2014 será aqui, na Terra do Futebol. 

Parabéns aos espanhóis de todo o mundo. Foi uma memorável e merecida conquista.

Foto: UOL

SOBRE O COLUNISTA

Advogada pós-graduada em Direito Comercial pela Universidade de São Paulo ? USP, Especialista em Direito Tributário pelo Centro de Estudos de Extensão Universitária, Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP no biênio 2006/2007, Consultora Jurídica da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação ? ABRAT entre 2004 e 2007, tem artigos publicados sobre diversos temas jurídicos e ... Saiba Mais

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