Uma análise dos prejuízos que os clubes tiveram com os problemas ocorridos no Campeonato Brasileiro

Uma análise dos prejuízos que os clubes tiveram com os problemas ocorridos no Campeonato Brasileiro

Estamos a uma rodada do término do Brasileirão 2009 e a disputa está tão acirrada que ainda não dá para dizer quem será o campeão: Flamengo, Internacional, Palmeiras ou São Paulo.

Assim como também não dá para dizer, com exceção do Flamengo que já garantiu sua participação na Libertadores de 2010, quais serão, dentre os outros três times, os que sairão da última rodada ao menos com a vaga garantida, porque dependendo da combinação de resultados, o Cruzeiro poderá ganhar uma dessas vagas  e um daqueles três ficar de fora.

Neste cenário de tanta disputa como vem sendo o deste Brasileirão - campeonato mais longo e o mais importante deste País - eu destacaria a arbitragem como tendo sido, infelizmente, um fator negativo pelo número de erros grosseiros cometidos, que, aliás, influíram no resultado de algumas partidas e modificaram, sim, a classificação dos times no campeonato.

Os erros foram muitos, a exemplo daqueles cometidos pelos árbitros, aliás, já punidos, Arilson Bispo, Carlos Eugênio Simon, Evandro Rogério Roman, Charles Ferreira, Elmo Alves Resende Cunha.

Ora, por que tantos erros da arbitragem neste campeonato? Falta preparo técnico aos árbitros? Ou falta preparação física adequada que os possibilitem acompanhar as jogadas de perto? Como muitos árbitros, no Brasil, exercem outras profissões no decorrer da semana, indaga-se: será que eles não deveriam desempenhar somente as funções de árbitros, ainda que isso implicasse em precisar melhor remunerá-los?

Por outro lado, apesar de respeitar muito o trabalho da arbitragem e poder ao menos imaginar as dificuldades e as circunstâncias adversas enfrentadas pelos Árbitros no decorrer de uma partida, penso que eles podem e devem ser mais exigidos pelo seu trabalho em campo, já que naquele momento, o árbitro principal é, sim, a autoridade máxima presente. 

E os erros dessa natureza, cometidos ao longo do campeonato, não só influem no resultado das partidas, como também acabam por provocar injustas alterações na classificação geral dos times ao final do campeonato, principalmente num torneio como este, tão parelho agora, que os times estão disputando praticamente ponto a ponto.

Não se pode esquecer, que neste país os clubes de futebol sobrevivem basicamente dos patrocínios, da venda de jogadores e da receita dos direitos de transmissão dos jogos, e que a cada nova temporada precisam recompor suas equipes para terem chances reais de disputar principalmente o campeonato brasileiro, o que significa ter que fazer novos investimentos.

A propósito, muitos desses clubes acabam por esperar poder amortizar parte desses investimentos com a cobiçada premiação do Brasileirão, quando e se conseguirem chegar lá.

Sem contar que, pela quantidade de clubes em disputa dos diversos estados brasileiros, este campeonato acaba sendo a melhor vitrine para venda de jogadores. Por isso, garantir uma boa classificação pode significar excelentes negociações e, inclusive, conseguir atrair melhores contratos de patrocínio para o clube.

E os jogadores? Contratados pelos clubes como promessas de uma boa campanha, precisam suar a camisa para justificar seus ganhos, ajudar o clube a conseguir bons resultados e, com isso, valorizar sua curta carreira, para poder sonhar com melhores oportunidades no futebol.

E o que dizer da frustração dos torcedores apaixonados ao verem seu time sendo prejudicado ao final das partidas e no final do campeonato, sem nada poder fazer de concreto?

Nessas circunstâncias, não há dúvida de que num campeonato em que alguns times lutam pelo título, outros pelo direito de disputar a Libertadores, outros ao menos para garantir vaga na Sulamericana, e outros para não caírem para a segunda divisão, erros desse tipo, portanto, não decorrentes de interpretação das regras, influem sim, nos resultados. É lógico que isso acaba prejudicando clubes e jogadores por todas as razões aqui já expostas; o que é inadmissível.

Por tudo isso, fica aqui uma reflexão: por que não existir, como norma, um sistema de pontuação também para responsabilizar os Árbitros pelos erros graves (reafirmo, não de interpretação da regra) cometidos durante o campeonato?

Assim, os árbitros que mais erros desse tipo cometessem ao longo da competição, estariam, sim, sujeitos, a ir apitar, pelo menos pelos próximos 12 meses - a exemplo do que ocorre com os clubes rebaixados - jogos da divisão inferior, sem prejuízo das penalidades atualmente existentes, as quais poderiam ser compatibilizadas para coexistir com esse sistema de pontuação.
E como seria definida essa pontuação? Quantos desceriam e quantos subiriam por ano em cada divisão? e etc...

Bem, primeiro, seria preciso debater a aceitação deste critério (o que já não seria nada fácil) para, depois, haver preocupação com esses detalhes.

De qualquer modo, o objetivo deste artigo é simplesmente fomentar a discussão de um tema tão relevante quanto este para o nosso futebol.

Assim, pouco importa se essa seja ou não a solução mais adequada. O importante mesmo é que ao se procurar definir um critério nesse sentido, haja consciência do que pode ocasionar um erro crasso de arbitragem numa competição, a exemplo da recente eliminação da Irlanda pela França nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2010, nas circunstâncias em que ocorreu.

O que me parece irrefutável é que algo precisa ser feito: a adoção de um critério como o sugerido, por si só, já impingiria mais cuidado por parte dos árbitros, o que certamente minimizaria a incidência desse tipo de erro.
 
E que não venham os conservadores alegar que qualquer coisa nesse sentido representaria ingerência nas regras de arbitragem, pois ainda que isso acontecesse, o  fato é que regras postas devem ser modificadas se e quando não mais atenderem aos anseios da sociedade.

Que também não se diga que se estaria acabando com a polêmica tão característica do pós-jogo. Sabem por quê? Simplesmente porque a polêmica existirá enquanto o futebol existir.

Concluindo, não pretendo deter o monopólio da verdade (longe disso!), mas apenas instigar o debate.

Pessoal: só a indignação logo depois da partida, por um grave erro de arbitragem cometido, é muito pouco!

Vamos procurar transformar a indignação em atitude, debatendo esse tema tão importante para chegarmos num consenso sobre a melhor solução para o assunto. Assim, quiçá, permaneçam vivas, de fato, somente as polêmicas de interpretação, tão próprias do nosso bom e velho futebol!

Foto: UOL

SOBRE O COLUNISTA

Advogada pós-graduada em Direito Comercial pela Universidade de São Paulo ? USP, Especialista em Direito Tributário pelo Centro de Estudos de Extensão Universitária, Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP no biênio 2006/2007, Consultora Jurídica da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação ? ABRAT entre 2004 e 2007, tem artigos publicados sobre diversos temas jurídicos e ... Saiba Mais

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