Mas a trajetória de Marin é muito mais deletéria do que o anedotário faz supor.  Há tempos que o ex-presidente da CBF vive na vida loka

Mas a trajetória de Marin é muito mais deletéria do que o anedotário faz supor. Há tempos que o ex-presidente da CBF vive na vida loka

Agora ficou fácil chutar cachorro morto. Desde ontem, Marin virou a Geni preferencial de botecos e padocas. Acompanham o pão na chapa e o copo de cerveja o sorriso de canto de boca e a bonomia do (rárárá) se fodeu.
Claro que não era segredo para ninguém os maus feitos da trupe. Já virou piada de salão os desmandos da FIFA e da CBF: a roubalheira como fato natural da nossa vidinha verde-amarela, assim como o são o sol e a chuva. 
O surrupio da medalha na final da Copa São Paulo de Juniores ou o gato elétrico no apê subavaliado são episódios que emprestam uma aura bufona ao personagem de cabeleleira implantada, puxada para o acaju.
Mas a trajetória de Marin é muito mais deletéria do que o anedotário faz supor. Há tempos que o ex-presidente da CBF vive na vida loka. Na política e no futebol, pratica suas safadesazinhas sem qualquer rubor. E não se cansa de vangloriar a própria biografia.
Verdade que teve o mérito de ser um esportista na juventude. Jogador de bola, ponta-direita ciscador, de efêmera carreira no São Paulo Futebol Clube. Instado por Vicente Feola, então treinador do Tricolor, por deficiência técnica, abandonou as veleidades nas quatro linhas para se tornar advogado. A academia foi a ponte necessária para que ingressasse no maravilhoso mundo da política por meio do Partido da Representação Popular, fundado pelo integralista Plínio Salgado. Foi eleito vereador em 1963.
Depois do Golpe, tornou-se figura de proa na estrutura civil que deu apoio aos milicos, aliando-se, inclusive, à ala mais dura da caserna. Em meados da década de 1970, opôs-se à tendência que pregava a abertura gradual do regime. Foi deputado estadual pelo ARENA, cargo a partir do qual não perdia chance de rasgar seda para o governo e seus luminares, como o torturador Sérgio Paranhos Fleury. Um vitriólico discurso de 1975 contra a suposta conduta crítica da direção da TV Cultura em relação à cobertura conferida ao partido oficial teria incitado a prisão e o assassinato de Vladimir Herzog dias depois.
Pelas engrenagens das maquinações políticas, foi alçado a vice-governador do estado na rabeira de Paulo Maluf, e, finalmente, a governador, função que exerceu entre maio de 1982 e março de 1983. Durante a abertura, ainda tentou se eleger a cargos públicos – senador e prefeito – sem nenhum sucesso popular.
O osso, no entanto, estava longe de largar. No eterno papel de lambe-botas, cavou seu carguinho no futebol como presidente da Federação Paulista de Futebol entre 1982 e 1988. Nos anos 2000, após ressentido hiato, ressurgiu das cinzas para juntar sua carcaça à dos quadrilheiros na CBF.
Foi necessária a intervenção americana para que os desmandos de Marin finalmente encontrassem as barras da justiça. O FBI deu cabo à sua vida loka. Aos 83 anos.  

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Foto: UOL

SOBRE O COLUNISTA

André Rosemberg é historiador e míope. Vê o futebol por entre as brumas.

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