Biografia

O Sucesso

Por Adonis Alonso
O Terceiro Tempo dignificou e valorizou o discriminado profissional de estúdio. Hoje, estudantes identificam no plantão a figura do âncora do rádio.


Se valeu a pena?

Caso nascesse de novo, Milton Neves queria que fosse em Muzambinho. Para ele, Deus foi bom demais. Fez amigos, trabalha em rádio, casou com Lenice e tem três filhos maravilhosos: Rafael, Fábio Lucas e Milton Neves Netto.

LENICE, MILTINHO, FÁBIO E RAFAEL: A FAMÍLIA EM NOVA YORK

Há décadas não sabe o que é o domingo com a família, a não ser quando está em férias. Mas também acha que domingo sem o Terceiro Tempo é domingo triste.

O programa já ganhou 246 prêmios em seus dezoito anos de vida, de homenagens de prefeituras, torcidas, até Bolas de Ouro, APCA, Ford - ACEESP. Melhor Programa, Melhor Plantão, Melhor Apresentador, são alguns dos títulos que recebeu.

"Se eu nascer de novo, quero que seja em Muzambinho. Vou fazer tudo outra vez. Casar com a Lenice e ter meus três filhos, Rafael, Fábio e Milton. E entrar na Jovem Pan."


TERCEIRO TEMPO: O MAIS PREMIADO

Mas Milton Neves acha mais importante ter dignificado a figura do profissional de estúdio. Hoje já existem jovens estudantes, amantes do rádio, que querem ser apresentadores. Rádios importantes como Bandeirantes e Globo, resistiram e demoraram 10 a 12 anos respectivamente, para criar os seus programas pós-jogo.

Além de sucesso de público, o Terceiro Tempo é também um sucesso comercial. Levou faturamento para a emissora, tem anunciantes de peso, como Bradesco, Freios Varga, Fios Lousano e um anunciante que ficou 10 anos no ar, aliás o primeiro: Rede Zacharias de Pneus, o uoooótimo!.
Foi com esse anunciante que Milton descobriu a força da propaganda.

Um dia, trocando os pneus carecas da Caravan 71, ouviu um elogio ao Terceiro Tempo de um senhor que tomava café ao seu lado. Descobriu, quando foi pagar a conta, tratar-se de Ademir Lopes Parra, diretor da Zacharias.

Ao saber que falava com Milton Neves, Ademir o levou ao escritório, providenciou um desconto e pensou bem quando ele disse que a Zacharias só tinha um defeito: não anunciava na Jovem Pan. Imediatamente encaminhou-o a Luiz Antônio Piccolo, responsável pela publicidade da empresa.

Na primeira reunião, marcada para às sete da manhã, Milton descobriu que publicidade também era coisa séria. Chegou às oito e meia e não foi recebido.

Na outra reunião chegou na hora. Vendeu o patrocínio e viu no fim do mês uma comissão maior do que seu salário. Dono da MN Terceiro Tempo Rádio Publicidade Ltda., hoje, Milton não só negocia espaços no rádio como também cria slogans e grava spots para seus clientes. Como Schincariol, Bradesco, Swift, Cantareira, Conprof, Lousano, Varga, Caltabiano, Giorgio Nicoli, Copel, Masbra, Cibié, Ilustre, Madeirense, Artevidro e Consórcio Nacional Fiat.

Com tudo isso, Milton Neves, maior estrela de estúdio do rádio esportivo brasileiro em todos os tempos, continua sendo uma pessoa feliz. Pelo menos até que um novo desafio lhe surja à frente.

ESCONDE-ESCONDE


O plantão esportivo da Jovem Pan agitou o centro de imprensa da Copa dos Estado Unidos. Milton Neves não queria deixar escapar nenhum figurão do futebol internacional sem entrevistar. E muitos deles, ex-jogadores famosos, enfrentavam o Fairpark Dallas Center como comentaristas de emissoras de rádio e televisão de vários países. Alfredo Di Stefano, como não poderia deixar de ser, era um dos mais assediados. Para ele, apenas um assunto era tabu: a briga com o brasileiro Didi no esquadrão do Real Madri, que ambos integraram no final da década de 50 e início dos anos 60.

Comentarista da Rádio América, de Caracas, o amargo e mascarado Di Stefano fugiu de Milton o quanto pôde, até ser alcançado. Pela primeira vez ele falou do "boicote" a Didi em entrevista. Depois, nem cruzava mais o caminho de Milton Neves, que queria fazer só mais uma perguntinha: "por que o Real Madri nunca jogou a revanche com o Santos de Pelé, mesmo sendo considerado na época um esquadrão a altura do bicampeão mundial de Vila Belmiro?"... Para Luiz Carlos Quartarollo e Nilson César da Jovem Pan, "Di Stefano pode ter sido um gênio da bola, mas hoje parece ter ódio do mundo".